*
Publicado 15/12/2006 18:20 | Editado 13/12/2019 03:30
Paris tem frio Paris tem fome
Paris já não come castanhas na rua
Paris anda vestido de velha
Paris dorme de pé sem ar no metropolitano
Ainda mais sofrimento é imposto aos pobres
E a sabedoria e a loucura
De Paris infeliz
É o ar puro é o fogo
É a beleza é a bondade
Dos seus trabalhadores famintos
Não peças socorro Paris
Estás vivo com uma vida sem igual
E por detrás da nudez
Da tua palidez da tua magreza
Tudo o que é humano se revela nos teus olhos
Paris minha bela cidade
Fina como uma agulha forte como uma espada
Ingênua e sábia
Tu não suportas a injustiça
Para ti só existe a desordem
Vais liberta-te Paris
Paris bruxuleante como uma estrela
Nossa esperança sobrevivente
Vais liberta-te da fadiga e da lama
Irmãos tenhamos coragem
Nós que não usamos capacetes
Nem botas nem luvas nem somos bem educados
Um raio se acende em nossas veias
Os melhores de nós morreram por nós
E eis que o sangue dos que morreram nos volta
[ao coração
E de novo é a manhã uma manhã de Paris
O extremo da libertação
O espaço da Primavera que nasce
A força idiota está na mó de baixo
Estes escravos nossos inimigos
Se compreenderem
Se forem capazes de compreender
Erguer-se-ão.
Poesias Século XX – Algumas das Palavras – Paul Éluard
Antologia organizada e prefaciada
Por Antônio Ramos Rosa
Publicações Dom Quixote – Lisboa 1977
2ª edição bilíngüe março de 1977.