Ministro pode se manter no cargo, mas não interferirá nas investigações.
Reportagem conjunta dos jornalistas Ricardo Balthazar, da Folha de S.Paulo; e Rafael Moro Martins, do The Intercept Brasil, revelou nesta segunda-feira (29) que há seis dias do primeiro turno da eleição presidencial do ano passado o então juiz Sergio Moro "agiu por considerações políticas" ao tomar a decisão de divulgar parte da delação do ex-ministro Antonio Palocci, mesmo tendo dúvidas sobre as provas apresentadas pelo ex-ministro.
Walter Delgatti Neto, de 30 anos, mais conhecido como Vermelho —ou, agora, como o hacker de Araraquara—, descreveu à Polícia Federal como, de maneira autodidata, conseguiu chegar, supostamente, ao aparelho celular do procurador da República Deltan Dallagnol, depois de hackear também nomes como o da ex-presidenta Dilma Rousseff ou do presidente do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Rememore os fatos, como num filme. O ministro da Justiça está nas cordas, acuado pelo vazamento de diálogos que revelam como, quando juiz, abandonou a imparcialidade, feriu a lei e imiscuiu-se em assuntos políticos para favorecer um candidato que, no ato seguinte, o levaria ao governo. Em certa altura, sua linha de defesa, que jamais nega a possibilidade de os diálogos serem reais, torna-se ineficaz.
Por Antonio Martins
A propaganda e a guerra psicológica têm seu papel nos conflitos, mas só podem ser declaradas decisivas quando um lado decide capitular apesar de ainda ter recursos suficientes para virar o jogo. Outro jeito de ganhar guerras é eliminar o inimigo. Outra maneira é o armistício sem capitulação. A Alemanha perdeu a Primeira Guerra Mundial do primeiro jeito, e a Segunda do segundo. A Guerra da Coreia terminou do terceiro jeito.
Por Alon Feuerwerker*
As declarações do ministro da Justiça, Sergio Moro, sobre as investigações que apuram ataques hackers a autoridades são "impróprias" e geram "incômodo e estranhamento", disse à BBC News Brasil o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Felix de Paiva, nesta sexta-feira (26/7).
O envolvimento do ministro Sergio Moro (Justiça) nos desdobramentos da Operação Spoofing, que prendeu quatro supostos hackers nesta semana, reacendeu a pressão de alas do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Congresso para que os dois Poderes deem resposta à atuação do ex-juiz da Lava Jato. A avaliação de ministros da Corte e de parlamentares é a de que Moro extrapolou os limites de sua competência como ministro ao indicar que teve acesso a dados de uma investigação sigilosa da Polícia Federal.
A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), protocolou nesta sexta-feira (26) uma ação de “Notícia de crime” contra Sergio Moro no Supremo Tribunal Federal (STF) e uma representação na Procuradoria Geral da República (PGR).
À colunista do jornal Folha de São Paulo Mônica Bergamo, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, afirmou que o ministro da Justiça, Sergio Moro, "usa o cargo, aniquila a independência da Polícia Federal e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que não são investigadas".
Em mais uma ilegalidade – agora à frente do Ministério de Justiça e Segurança Pública –, o ex-juiz Sergio Moro decidiu descartar, por conta própria, material obtido pela Polícia Federal (PF) junto a hackers. Essa decisão, no entanto, não cabe ao titular da Justiça, mas, sim, ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal Criminal de Brasília.
“Nós não somos ‘hackers newbies’ (amadores), a notícia não condiz com nosso modo de operar, nós acessamos telegrama com a finalidade de extrair conversas e fazer justiça, trazendo a verdade para o povo”, diz a fonte que entregou os diálogos da Operação Lava jato ao jornalista Glenn Greenwald.
O procurador Deltan Dallagnol fez uma palestra remunerada no valor de R$ 33 mil para uma empresa citada em acordo de delação na força-tarefa da Lava Jato. É o que apontam mensagens e documentos obtidos pelo site The Intercept Brasil e analisados em conjunto com a Folha de S.Paulo. Embora a empresa – a firma do setor de tecnologia Neoway – tenha sido delatada em caso de corrupção, pela primeira vez, em marco de 2016, Deltan foi contratado pela palestra dois anos depois, em março de 2018.