Bandeira dos EUA na Europa
Participando (como se tornou obrigatório) no encontro dos ministros da Defesa da União Europeia (UE) no dia cinco de fevereiro em Amsterdã, o secretário geral da Otan Jens Stoltenberg elogiou o “plano dos Estados Unidos de aumentar substancialmente sua presença militar na Europa, quadruplicando os financiamentos para esse efeito”.
Publicado 10/02/2016 12:28
Os EUA podem assim “conservar mais tropas na parte oriental da Aliança, posicionar previamente ali armamentos pesados e efetuar mais exercícios, além de construir mais obras de infraestrutura”. Deste modo, segundo Stoltenberg, “fortalece-se a cooperação entre a UE e a Otan”.
É bem outro o objetivo. Imediatamente após o fim da guerra fria, em 1992 Washington sublinhava a “importância fundamental de preservar a Otan como canal de influência e participação estadunidenses nos assuntos europeus, impedindo a criação de dispositivos unicamente europeus que minariam a estrutura de comando da Aliança”, a saber, o comando dos Estados Unidos.
Missão cumprida: 22 dos 28 países da UE, com mais de 90% da população da União, fazem hoje parte da Otan, sempre sob comando dos EUA, o que é reconhecido pela UE como “fundamento da defesa coletiva”. Fazendo pressão sobre os governos do Leste, mais ligados aos EUA que à UE, Washington reabriu a frente oriental com uma nova guerra fria, quebrando os crescentes laços econômicos entre a Rússia e a UE, perigosos para os interesses estadunidenses.
Em toda a Europa Oriental está içada no mais alto mastro a bandeira estrelada ao lado da bandeira da Otan. Na Polônia, a nova primeira-ministra Beata Szydlo nas suas coletivas de imprensa tem arriado a bandeira da UE, frequentemente queimada nas praças pelos “patriotas” que apoiam o governo na sua recusa a acolher os refugiados (fruto das guerras dos EUA e da Otan, qualificados de “invasores não brancos”. À espera da Cúpula da Otan, que terá lugar no mês de julho em Varsóvia, a Polônia criou uma brigada conjunta de 4 mil homens com a Lituânia e a Ucrânia (de fato já na Otan), treinada pelos EUA. Na Estônia o governo anuncia “uma área militar Schengen”, que permite às forças dos EUA/Otan entrar livremente no país. Na frente meridional, unida à oriental, os Estados Unidos estão a ponto de lançar desde a Europa uma nova guerra na Líbia para ocupar, sob o pretexto de libertar do chamado Estado Islâmico, as zonas costeiras econômica e estrategicamente mais importantes.
Um golpe para reconquistar terreno, depois que na Síria a intervenção russa em apoio às forças governamentais bloqueou o plano da dupla EUA/Otan de destruir este Estado, utilizando como na Líbia em 2011, grupos islamitas armados e treinados pela CIA, financiados pela Arábia Saudita, apoiados pela Turquia e outros.
A operação na Líbia “sob condução italiana” –que, como adverte o Pentágono, requer “boots on the ground”, ou seja forças terrestres – foi feita num acordo dos Estados Unidos não com a União Europeia, inexistente neste plano enquanto sujeito unitário, mas individualmente com as potências europeias dominantes, sobretudo a França, a Grã Bretanha e a Alemanha. Potências que, em concorrência entre elas e com os Estados Unidos, se unem quando entram em jogo interesses fundamentais.
É emblemático aquilo que veio à tona dos e-mails de Hilary Clinton, secretária de Estado em 2011: os EUA e a França atacaram a Líbia antes de tudo para bloquear “o plano de Kadafi de utilizar as enormes reservas líbias de ouro e de prata para criar uma moeda africana alternativa ao franco CFA”, divisa imposta pela França a suas 14 ex-colônias.
O plano líbio (nós o demonstramos no jornal Il Manifesto em abril de 2011) visava mais além, libertar a África da dominação do FMI e do Banco Mundial. Por esta razão é que foi destruída a Líbia, onde as mesmas potências se preparam agora para desembarcar para “a paz”.
Fonte: Il Manifesto.
Traduzido por José Reinaldo Carvalho para o Blog da Resistência