Ariano Suassuna declara voto em Lula

No 16° Cine Ceará, o escritor anuncia que votará mais uma vez m Lula e defende a produção cultural brasileira com um show de oratória e de slides que revelam o colorido das casas populares.

Uma das presenças mais destacadas da programação do 16° Cine Ceará, o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna,  teve uma aclamação popular no Seminário sobre a Diversidade Cultural, evento paralelo ao Festival de Cinema. Recebido como astro pop, aplaudido em pé no início e fim da palestra, Ariano contou anedotas, falou de coisas sérias, cantou e fez a platéia universitária chegar ao delírio quando disse que havia votado quatro vezes em Lula e iria votar pela quinta vez, pois lhe parecia o único presidente capaz de defender o Brasil de uma política de entreguismo cultural. Disse que a senadora Heloisa Helena é bem-intencionada, mas faz o "jogo da direita" e elogiou, mais uma vez, a criatividade do povo brasileiro, agora destacando a arquitetura popular. O brilho da "aula-espetáculo" manteve a sala em suspenso durante duas horas, uma platéia majoritariamente jovem no auditório da Universidade de Fortaleza – UNIFOR.
Suassuna fez uma longa palestra para apresentar um tema em aparência dos mais especializados – a cor na arquitetura brasileira. Mostrando slides, Suassuna se encantava com o colorido das casas populares no interior do Brasil. "Eles têm a coragem da cor, enquanto os arquitetos diplomados vêm me dizer que cores assim não podem se misturar". Para ele, o contraponto à vocação colorida do Brasil é a arquitetura de Brasília, "uma cidade pálida". Diz que não pretende morrer, pois não é bom negócio, mas se um dia for surpreendido pela "morte caetana", que é como o caboclo chama a indesejada das gentes, espera que não seja em Brasília – "lá deve haver o mais desconfortável dos cemitérios, sem nenhuma cor".

 

Movimento armorial – base de uma arte erudita com raízes populares

Suassuna lembra que seu movimento armorial – base de uma arte erudita com raízes populares – se ampara nos folhetos da literatura de cordel. "Pois bem, essas casas do homem comum brasileiro deveriam ser para o arquiteto aquilo que os folhetos do cordel são para mim – modelos e fontes de inspiração".
O palestrante divaga, vai para lá e para cá, conta anedotas e faz digressões, mas o eixo do seu pensamento está expresso nessa recomendação aos intelectuais. Na concepção de Ariano, há dois brasis, bem diferentes, o Brasil oficial e o Brasil real, distinção que ele empresta de Machado de Assis. "O Brasil real é bom; o Brasil oficial é caricato e burlesco", diz, na bucha. E confessa: "Todos nós, e eu também, fomos formados no Brasil oficial; foi preciso uma longa desaprendizagem, uma grande reflexão para me livrar dele e entender que eu tinha de ficar do lado das pessoas do Brasil real", diz.
Quer dizer, da gente do povo. Suassuna dá um exemplo radical. Tem Euclides da Cunha na conta de um patrono, de um ídolo, mas aponta erros de interpretação do autor de Os Sertões. Ele pinta o Antonio Conselheiro como se fosse um ignorante, analfabeto, e isso ele não era; "o Conselheiro tinha a sabedoria profunda do povo brasileiro, mas o letrado Euclides não conseguia enxergar". Mais: "Euclides viu a igreja de Canudos e achou feia. Escreveu que era de um gótico rude e imperfeito. Mas a igreja era românica e não gótica, e ele não via isso."
O ápice da criatividade popular segundo Suassuna se encontra no "homem do povo" Gabriel Joaquim dos Santos, tido como louco em São Pedro da Aldeia (RJ), onde construiu a Casa da Flor, com restos de materiais. "Esse é o maior arquiteto do Brasil, comparável apenas a Gaudí", afirma. A Casa da Flor é de fato uma explosão de criatividade delirante e barroca, de uma estranha beleza. Suassuna leu um texto de Gabriel, no qual esse "arquiteto primitivo" diz que a Casa da Flor é "feita de pensamento e sonhos, é feita de cacos". Ariano conclui dizendo que aspira, humildemente, para a sua obra literária o mesmo que Gabriel para a casa que passou a vida a construir. "Uma obra de pensamento e sonho, feita de um material de construção que outros desprezam e jogam no lixo."
Como acontece com todos os utopistas, pode-se ou não concordar com Ariano. Pode-se concordar com parte do que ele diz e discordar do resto, como quando condena sem apelação qualquer tipo de manifestação musical estrangeira como o rock ou o funk. Mas não se pode negar aquilo que suas idéias têm de generoso e estimulante. Esse utópico consciente fala o que sonha para o Brasil. "Até agora todos os países privilegiaram ou a justiça ou a liberdade, de forma excludente; sonho com um país que seja livre e justo ao mesmo tempo", diz. E quem não sonha?

 

Inácio Arruda receberá homenagem

 

O deputado federal Inácio Arruda(PCdoB) será um dos homenageados do 16º Cine Ceará, com a Placa Comemorativa pelos 35 anos da Casa Amarela Eusélio Oliveira. A homenagem é em agradecimento ao que Inácio representa para a cultura do Ceará, através de apoio efetivo e afetivo as ações de engrandecimento do setor cultural. A solenidade de entrega da Placa Comemorativa dos 35 anos da Casa Amarela acontecerá no dia 08 de junho, 19h30min, no Centro Cultural Sesc Luis Severiano Ribeiro.
Inácio Arruda já foi homenageado durante o 13º Cine Ceará, em 2003, com o Troféu Eusélio Oliveira, em reconhecimento aos projetos que vem desenvolvendo na área cultural desde o inicio da sua vida parlamentar.
Na Câmara Municipal, Inácio deixou em tramitação, de sua autoria, o projeto de Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Ao ser eleito deputado estadual, colocou sua marca na iniciativa dos Projetos de Lei sobre o Incentivo Estadual à Cultura e na regulamentação do Fundo Estadual de Cultura – FEC. Como deputado federal, assegurou recursos para a cultura através de emendas ao Orçamento da União, com destaque para as que destinam recursos para a aquisição de equipamentos do Cine Benjamim Abraão da Casa Amarela e Radio Universitária FM da UFC, assim como a reforma do auditório da Faculdade de Direito da UFC.

Fonte: Noolhar.com e assessoria de imprensa do dep. Inácio Arruda