Arquiteto da destruição, Hitler queria reescrever a “Bíblia”

Pintor de formação, mas artista frustrado, Adolf Hitler procurou “arianizar” a cultura alemã, eliminado toda e qualquer referência a manifestações e trabalhos judaicos. Na ânsia de varrer do mapa a “arte degenerada” e a própria história dos hebreus, plane

A informação foi divulgada na segunda-feira (07/8) pelo jornal alemão Bild e mostra como a artilharia cultural do nazismo era ambiciosa. Para Hitler, essa “mais do que essencial” apagar as referências bíblicas ao judaísmo e à cultura judaica. Em maio de 1939, um grupo de teólogos fundou, em Eisenach, uma instituição para “limpar os textos sagrados da influência não-ariana”.


 


Segundo o Bild, um dos frutos dessa operação foi o livro Os alemães com Deus – Um livro de fé alemão. Na obra, estão acrescidos dois mandamentos sobre os dez tradicionais. Também se incluiu um livro paralelo de hinos religiosos, intitulado Grande Deus, nós te louvamos. O diretor da instituição, Walter Grundmann, chegou a ser elogiado e chamado “professor” por Hitler, que ficou entusiasmado com o trabalho de “limpeza” realizado.


 


As revelações do Bild são as mais contundentes desde 1992, quando o cineasta sueco Peter Cohen lançou o documentário Arquitetura da Destruição. O filme mostrava a disposição de Hitler em embelezar a Alemanha de tal forma que o país criasse um paradigma estético, a exemplo da Grécia e da Roma na Antiguidade.


 


“A boa arte”
Para o ditador nazista, a Alemanha só deveria dar espaço à “boa arte”, consagrando manifestações arianas e eliminando, a todo custo, as produções feitas por “doentes incuráveis”, como judeus e bolcheviques. Aproveitou sua ascensão ao poder para patrocinar reformas estéticas na Alemanha, sobretudo em Berlim.


 


A fim de caracterizar as realizações como marcas do nazismo, imprimiu a suástica – símbolo máximo do regime – em uniformes, insígnias, estandartes. O nazismo criou até um órgão – Defesa da Cultura Alemã – para fortalecer sua luta cultural. Fez também a exposição de arte “degenerada”, com obras modernistas assinadas por não-arianos.


 


“Arte só existiria enquanto representasse os interesses e a limpeza da Alemanha, coisa que os judeus não poderiam realizar”, escreveu Cell Blanc, num ensaio sobre a cultura no nazismo. “As obras depravadas não teriam função e seriam tomadas como exemplo do que não deveria ser produzido”.


 


Longa atração
A relação de Hitler com as artes começou já na adolescência. Ele estudou até os 18 anos na Escola de Arte de Viena, virando artista plástico e sonhando em se transformar em arquiteto ou profissional de ópera.


 


Arquitetura da Destruição mostra, para além disso, que vários correligioinários do chefe de Estado nazista também se envolveram com arte. Mas Hitler era o mais obstinado. Gravuras de sua autoria chegaram a se tornar modelos para construções arquitetônicas do nazismo.


 


Artista frustrado, Hitler continua em voga na Europa. Aquarelas e desenhos seus, encontrados em uma maleta, vão a leilão no próximo dia 26 de setembro, na Inglaterra. Os trabalhos, realizados entre 1916 e 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, quando Hitler era cabo do Exército, ficaram por 70 anos no fundo de uma maleta em um celeiro da Bélgica.


 


O leilão será realizado em Lostwithiel, na Inglaterra, e a perspectiva é arrecadar cerca de 3 mil libras (5.600 dólares). Uma das aquarelas mostra uma igreja próxima a uma cidade; outra tem barracas mal construídas, e as obras trazem muito pouco do clima bélico da Primeira Guerra.


 


O verdadeiro “escultor nazista”
Também está em alta o escultor Arno Breker, admiradíssimo pelos nazistas. Uma polêmica exposição de suas está atraindo centenas de visitantes a Schwerin, na Alemanha. A mostra traz cerca de 70 esculturas de Arno Breker, incluindo várias figuras de homens musculosos no estilo neo-clássico, estilo amplamente utilizado em propagandas nazistas.


 


Esta é a primeira vez que uma exposição do artista é realizada na Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial. Breker ficou conhecido por suas ligações com alguns dos principais ícones do nazismo, como Hitler, a quem conhecia pessoalmente, e o principal arquiteto dos nazistas, Albert Speer, para quem ele criou várias esculturas.


 


No final da era nazista, em 1945, cerca de 90% das obras de Arno Breker foram destruídas, mas sua vida artística continuou durante muitos anos depois disso. Ele morreu em 1991.