Cuba pode levar Oscar com filme sobre o mito Benny Moré

O musical El Benny – uma das maiores bilheterias dos últimos 15 anos em Cuba – será a indicação da ilha caribenha para o Oscar. O Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica (Icaic) informou na quarta-feira (20/9) que indicará o longa-me

Dirigido por Jorge Luis Sánchez, de 46 anos, o filme trata da vida do cantor Benny Moré – um autodidata que se converteu em lenda da música cubana com sua voz excepcional. O “Bárbaro do Ritmo”, como o chamavam, morreu em 1963, de cirrose. Segundo o produtor de El Benny, Iohamil Navarro Cuesta, o longa é um sucesso em Cuba. Desde sua estréia em Havana, no fim de julho, cerca de 445 mil pessoas já viram o musical, inspirado na vida agitada do cultuado músico cubano.


 


Sua estréia internacional foi em agosto, no festival de Locarno, na Suíça, onde a crítica concedeu o prêmio “Boccalino” ao ator cubano Renny Arozarena, que interpreta Moré no filme. A única vez que Cuba esteve próxima de ganhar um Oscar foi em 1994, quando Morango e Chocolate, de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío, foi nomeado para melhor filme estrangeiro.


 


As indicações para o Oscar de 2006 serão anunciadas em janeiro e os prêmios serão entregues no dia 25 de fevereiro. Os últimos laureados com o Oscar de filme estrangeiro foram Tsotsi (África do Sul, 2005), Mar Adentro (Espanha, 2004), Invasões Bárbaras (Canadá, 2003), Terra de Ninguém (Bósnia, 2001) e O Tigre e o Dragão (Taiwan, 2000).


 


Registro trágico
El Benny indaga a vida de um dos filhos musicais prediletos de Cuba: Bartolomé Maximiliano Moré, um guajiro (camponês) que revolucionou com o seu jeito de cantar e atuar gêneros tão distintos como o bolero, o mambo, o son, o guaguancó e o chá-chá-chá. “Fazer este filme é o maior prêmio a que eu poderia aspirar”, declarou o diretor Sánchez pouco depois de apresentar El Benny, no fim de julho, em pré-estréia para uma sala lotada no cinema “Carlos Chaplin”.


 


Benny Moré é uma das maiores lendas da música popular cubana. Nasceu em Santa Isabel de las Lajas, província de Santa Clara, em 24 de agosto de 1919, abençoado com um dom natural pela música. Com 16 anos, integrou um primeiro grupo “sério” e não parou mais até a fama. Cantou em bares e cafés, nos anos 40 sua voz começou a ficar conhecida pelo rádio e em 1945 viajou para o México com o conjunto Matamoros, de onde voltou como astro no fim dos anos 50.


 


Com uma voz muito particular, Moré renovou o cenário musical de então, enfeitando suas músicas (Bonito y Sabroso; Mucho Corazón; Maracaibo, entre as mais famosas) com passos de dança (acompanhado pela sua clássica bengala) e improvisações. Sem ter estudado também se destacou como regente de orquestra e compositor. Sua elegância natural seu e talento ímpar de showman são mostrados em filme com fantástica trilha sonora, que retrata o apogeu e o desaparecimento prematuro do artista aos 43 anos em 1963.


 


“Eu, de música, nada sei, embora a maioria das canções que interpreto tenham letra e música de minha autoria. (…) O que tenho é um bom ouvido”, explicava Moré o “bárbaro do ritmo”, como passou a ser chamado e que, até hoje, é um dos máximos elogios que alguém possa receber em Cuba. O diretor Sánchez – que durante 14 acalentou a idéia de fazer um filme sobre Moré – explicou que o seu não é um “musical convencional, ou um filme linear e cronológico”.


 


Alcoolismo
De fato, o longa mostra a ascensão contínua de Moré e o seu retorno triunfal a Cuba – mas também revela uma vida de excessos e a sua dependência do álcool. O cantor só conseguiu controlar o vício nos últimos anos, já com o fígado irremediavelmente comprometido. Era tarde. A dependência o levou à morte, precocemente, em 19 de fevereiro de 1963.


 


Sobre o “registro trágico” do personagem e o seu “destino inexorável” Sánchez disse: “Penso que somos um país com uma história repleta de tragédias, por isso não entendo esse costume de representar os cubanos sempre rindo e gozando. O que me interessa mostrar é a dilaceração e a tragédia, que não é a derrota nem o vazio”, explicou.


 


Com uma trilha sonora formidável a cargo de Juan Manuel Ceruto e com a participação de Juan Manuel Villi, que empresta sua voz para todas as músicas que estão no filme, El Benny estreou no circuito nacional em Santa Isabel de las Lajas, após concorrer em Locarno.