DNA vai ajudar na identificação de mortos e desaparecidos políticos

Local que simboliza a resistência e a luta pela liberdade do povo baiano, o Mosteiro de São Bento, em Salvador, recebeu na última quinta-feira (19), familiares de vítimas da ditadura militar, ex-preso

“O Banco de DNA é resultado da pressão dos próprios familiares e de grupos como o Tortura Nunca Mais para que o Estado assegure o cumprimento de uma dívida histórica”, afirmou o Ministro Paulo Vannuchi, da SEDH – Secretaria Especial dos Direitos Humanos, que tem percorrido o país para a divulgação do trabalho de identificação dos restos mortais dos desaparecidos políticos.



O ministro iniciou o seu discurso na Bahia agradecendo a paciência dos familiares com o Estado brasileiro, que ao longo de vários governos pouco avançou no resgate da memória dos heróis da ditadura e no restabelecimento da verdade. Lembrando-se da metáfora utilizada pela presidenta do Chile, Michelle Bachelet, numa referência à ditadura daquele país, disse que também aqui “precisamos remexer nesse passado. Só as feridas lavadas podem ser cicatrizadas. Com sujeira, as feridas não cicatrizam”.



Durante o ato, foram coletadas 11 amostras sanguíneas dos familiares de mortos ou desaparecidos políticos. As amostras serão usadas para montar um banco de perfis genéticos que está sendo construído pela Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos da SEDH para o esclarecimento de casos ainda sem solução. Os dados serão comparados com o DNA extraído de ossadas encontradas onde prisioneiros políticos foram enterrados.



Após a formação deste Banco de DNA, Paulo Vannuchi destacou que o passo número dois é a localização dos restos mortais de outros presos políticos, pois o que já está sob a guarda do governo ainda é muito pouco. “Com o Banco de DNA montado, passaremos então a colher depoimentos de familiares, vítimas, testemunhas e até de agentes da repressão que se disponham a informar sobre possíveis locais onde os corpos foram enterrados. As buscas no Araguaia também devem ser retomadas”, informou. Para o ministro, o Brasil deve ao seu povo a responsabilização, através de atitudes jurídicas corajosas, dos culpados pelas mortes e torturas que ainda hoje se repetem como se fizessem parte do método policial.



Entre as autoridades presentes, estiveram o Abade Emanuel D' Able do Amaral, presidente da Congregaçao Beneditina do Brasil, os deputados estaduais Emiliano José e Yulo Oiticica, ambos do PT, o deputado federal DanielAlmeida (PCdoB/BA),  e o presidente estadual do PCdoB, Péricles Souza, além de vereadores e representantes de entidades.



A presidente do Grupo Tortura Nunca Mais da Bahia, Diva Santana, conduziu a mesa homenageando a luta dos parentes das vítimas e de ex-presos políticos, além de destacar a importância do Banco de DNA. Ela também fez um apelo para a luta do GTNM por uma sede para o Memorial da Anistia, cujo projeto já foi aprovado pelo Ministério da Cultura. “Contamos com um acervo de importantes documentos que são procurados por jovens acadêmicos e como fonte de diversas pesquisas. A nossa luta é para que o estado ou o município ceda uma casa para a implantação deste Memorial. Precisamos de um local adequado para guardar essa documentação, que jamais poderia ser perdida. Ela faz parte da luta do nosso povo”, afirmou.



Inamara Mélo,
de Salvador