Cuba x EUA: A oposição ao bloqueio dentro dos Estados Unidos

À primeira vista, pode causar surpresa pensar que há setores da sociedade norte-americana lutando pelo fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba. Mas eles existem. São, em geral, personalidades políticas, empresários, governos estaduai

O desafio de tais grupos, obviamente, é grandioso, em especial após o recrudescimento do bloqueio nos últimos dois anos. Mas exatamente nesse período algumas iniciativas mostram que a política do governo Bush está longe de ser subscrita por todos os norte-americanos.



Em 26 de outubro de 2006, o jornal The Capitol Times, do estado de Wisconsin, fez uma reportagem sobre o bloqueio e reproduziu a seguinte análise, feita por Ricardo Gonzalez, membro do Conselho da cidade de Madison: “O bloqueio é apenas mais um exemplo dos erros cometidos pelo presidente Bush em sua política externa (…) Ao fim, nós, norte-americanos, somos os grandes perdedores nesse enfrentamento, pois acabamos tendo uma má imagem em todo o mundo”.



O jornal dá destaque também ao fato de que ao menos dois potenciais candidatos democratas à Presidência já se mostraram favoráveis ao fim do bloqueio: os senadores Russ Feingold (de Wisconsin) e Chuck Hagel (de Nebraska).



Contrariedade
Apesar do aumento nas restrições de viagens a Cuba, o governo do EUA não tem podido frear o interesse de muitos representantes políticos e homens de negócio na Ilha. Somente no período entre 2004 e 2006, dois governadores, um vice-governador, um senador e mais de 360 empresários (vindos de 30 estados norte-americanos) estiveram em Cuba.



Em 30 de junho de 2005, o líder da minoria democrata do Comitê de Finanças do Senado, Paul Sarbanes, emitiu um comunicado à imprensa informando que bloquearia quaisquer nomeações para altos cargos do Departamento do Tesouro. O motivo: as restrições ao comércio com Cuba, cada vez intensificadas pelo governo Bush.



Em 8 de julho de 2005, a Associação Comercial EUA-Cuba enviou uma carta assinada por 62 associações nacionais e companhias agrícolas a 20 senadores, exigindo a flexibilização das restrições impostas ao comércio de produtos agrícolas com a Ilha.



Em 3 de março de 2006, 105 congressistas enviaram uma carta à Secretaria do Tesouro questionando as medidas que “impediram várias organizações religiosas de viajarem para Cuba”. Alguns dias depois, importantes lideranças religiosas dos EUA se dirigiram à Secretaria de Estado para “exprimir sua profunda oposição à nova política que proíbe as organizações ecumênicas de viajar para Cuba”.



Em abril de 2006, o estado do Alabama aprovou uma resolução, devidamente encaminhada ao Congresso nacional, na qual “exige a eliminação das restrições de comércio, viagens e transações financeiras com Cuba”.



Prejuízos
Ao que parece, o governo norte-americano ainda não entendeu que sua política em relação a Cuba acaba gerando prejuízos consideráveis a alguns setores de sua economia.



Em 13 de abril de 2006, a cidade de Orlando foi sede do seminário “Fazendo negócios em Cuba”, com a presença de 54 representantes de grandes companhias norte-americanas interessadas em iniciar ou incrementar o comércio com Cuba. Muitas delas apontaram o problema da extraterritorialidade como um grande entrave, já que mesmo empresas multinacionais dos EUA, com sedes em outros países, também são afetadas pelo bloqueio.



A questão da extraterritorialidade será abordada na quarta reportagem da série, a ser publicada em 4 de novembro.



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