Colômbia: 2.400 guerrilheiros e paramilitares teriam deserdado

Mais de dois mil guerrilheiros e paramilitares desertaram ano passado na Colômbia e ingressaram no programa estatal de ajuda a ex-combatentes, disseram esta semana em Bogotá porta-vozes do Executivo.

O Programa de Atenção Humanitária ao Desmobilizado (PAHD, estatal) informou que 1.558 deles pertenciam às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a maior guerrilha do país.


 


Outros 470 desertores pertenciam à organização paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), acrescentou a mesma fonte, que indicou que 359 eram do Exército de Libertação Nacional (ELN), segundo grupo insurgente colombiano em importância.


 


O PAHD disse que os outros 73 eram rebeldes de pequenos grupos de dissidentes das Farc e o ELN.


 


Do total de desertores, 384 são menores de idade, 425 são mulheres, segundo a dependência governamental, que é o responsável de prestar assistência em educação, saúde, jurídica e econômica aos desmobilizados.


 


Com os desertores de 2006 se elevou para 11.264 o número de rebeldes e ultradireitistas que deixaram as armas de maneira ''voluntária'' desde 7 de agosto de 2002, quando o presidente reeleito colombiano, Álvaro Uribe, assumiu seu primeiro mandato de quatro anos.


 


As Farc não confirmam o número de desertores e entidades de direitos humanos acusam Uribe de promover, com ajuda militar dos Estados Unidos, a mais sangrenta e implacável perseguição aos movimentos de resistência colombianos da história do país.


 


Dizem ainda que muitos dos militantes que abandonam o movimento guerrilheiro o fazem após serem ameaçados de morte pelas forças federais e por paramilitares de direita que continuam atuando com a conivência do governo Uribe.


 


Mensagem de ano novo


 


As Farc emitiram na última semana de dezembro, uma mensagem de Ano Novo, na qual pedem que sejam intensificados os esforços para o alcance de um acordo que propicie a solução do conflito armado e a libertação das pessoas que mantêm como reféns.


 


A mensagem, assinada pelo comando das Farc e divulgada na internet, reitera as críticas ao governo do presidente Álvaro Uribe. Além disso, critica o Tratado de Livre-Comércio assinado em novembro entre Colômbia e Estados Unidos, assim como a negociação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca).


 


''Ao desejar ao povo colombiano o melhor no ano de 2007, o encorajamos a reforçar suas lutas unitárias contra o neoliberalismo e contra a Alca e o TLC, e o convocamos a redobrar os esforços para a concretização da troca humanitária e o início de um processo que conduza à solução política do conflito.''


 


As Farc têm em seu poder 59 políticos, soldados e policiais, alguns dos quais são mantidos como reféns há nove anos.


 


A intenção da guerrilha é trocar o grupo de seqüestrados por 500 guerrilheiros presos. Porém, as negociações para um acordo abertas ao longos dos últimos quatro anos nunca prosperaram.


 


Juntamente com a mensagem de Ano Novo, as Farc também publicaram uma saudação aos guerrilheiros que continuam acreditam no ideal de ''uma nova Colômbia''.



Confira abaixo a íntegra das duas mensagens:


 


Desde há 60 anos a Colômbia vive uma guerra civil não declarada nascida da ilegitimidade das suas instituições e cuja essência foi a ingerência gringa, o poder do Estado nas mãos das minorias e a apropriação violenta das melhores terras. Naqueles tempos, os militares, polícias, serviços de inteligência e paramilitares – conhecidos como pájaros – inundaram o país em sangue e encheram-no de terror até que, dez anos depois, os chefes dos partidos liberal e conservador, responsáveis pela guerra fratricida, remendaram a institucionalidade escondidos na Europa pactando a repartição da administração pública e do orçamento nacional, mas sem abordar a superação das verdadeiras causas do conflito, prolongando-o até os nossos dias. Hoje, depois de outro par de remendos à institucionalidade, os filhos e netos e parentes dos chefes da oligarquia daquele tempo, praticando os mesmos métodos, pretendem perpetuar-se no poder reforçado pela enorme capacidade das máfias e dos dólares do narcotráfico.




Quiseram ignorar que anos e anos a cometerem massacres friamente planificados, assassinato com emprego de motoserras, execuções sistemáticas de líderes de esquerda, expulsões de populações inteiras das suas terras e prática do terrorismo por toda a parte, obrigando ao apoio político, cumulam de ilegitimidade o Estado, o Regime e o Governo. Presidentes, ministros, embaixadores, governadores, alcaides, generais, almirantes, parlamentares, deputados, vereadores, magistrados dos altos tribunais, juízes, promotores, auditores do Estado, procuradores, chefes dos serviços de inteligência e de numerosas dependências descentralizadas do Estado exerceram e exercem suas importantes funções públicas comprometidos com o narco paramilitarismo. Como não será ilegítimo um Presidente como o actual, eleito com votos inexistentes em várias regiões do país? E com os votos de congressistas – !paramilitares confessos? – e dos paramilitares vergonhosos que todos conhecemos?




Ao desejar ao povo colombiano o melhor para o ano 2007, estimulamo-lo a reforçar suas lutas unitárias contra o neoliberalismo e contra a ALCA e o TLC, conclamamo-lo a redobrar esforços para concretizar o intercâmbio humanitário e pelo início de um processo que conduza à solução política do conflito. Não para colocar outro remendo à actual inconstitucionalidade, violenta e corrupta, e sim para alcançar entre todos a construção pacífica de uma nova Colômbia, justa, democrática e independente, liderada por um novo governo de reconciliação e de reconstrução nacional.




Secretariado do Estado Maior Central
Montanhas da Colômbia, 24 de Dezembro de 2006



Saudação aos Guerrilheiros


 


Foi concluído um ano de fortes combates políticos e militares por uma Colômbia nova, um novo Estado, pela democracia verdadeira, a maior soma de felicidade possível para o povo, a paz e a soberania.




Como resultado, ao povo da Colômbia entregamos um Plano Patriota fracassado, com um Governo esmagado pela ausência de resultados militares, que quer tapar a sua frustração trocando o nome do referido plano. Ainda não decidiu se a continuidade dessa fracasso vai chamar “Plano Vitória” ou “Consolidação”. O certo é que cada vez está mais enredado nas profundidades da selva.




Até aí Uribe disse que ia chegar. E chegou, mas desconhecendo que a táctica de guerra de guerrilhas móveis não tem quartéis generais na selva que possam ser atingidos, e sim guerrilhas fluidas que atacam com comandos surpresa ou envolvem o inimigo com as suas companhias de combate. Isto não tem porque sabe-lo o ministro da Defesa Santos, e é por isso que não respondemos aos ditados da sua ignorância.




Esta oligarquia governante perdeu mais de quatro décadas a tentar a derrota militar da inconformidade social e do levantamento armado, desprezando a solução diplomática do conflito pela egoísta ambição de manter as rédeas do poder e os seus privilégios a todo o custo, contra o bem comum, a estabilidade política, a soberania, e a dignidade de todos e cada um dos colombianos.




A maior parte do orçamento nacional foi investido na guerra, deixando vazios os cofres da nação e em zero os programas sociais.




O governo Uribe, baseado na “Narco-Para-Política”, afunda-se irremediavelmente na sua pior crise de legitimidade e legalidade. Essa máfia que se tornou o Capitólio Nacional e o Palácio de Nariño a ponta de narcotráfico e massacres deve ser posta de lado, com prévio castigo judicial, para que as forças democráticas da nação busquem a reconstrução do país.



O desrespeito e a provocação aos irmãos equatorianos e ao seu governo com a aspersão prévia de substâncias tóxicas na fronteira é uma vergonhosa fumarada artificial que não consegue encobrir a grave crise institucional colombiana. O desprestígio internacional deste governo caminha a marchas forçadas.




Pela frente temos um grande horizonte de luta que pressagia vitórias populares. Devemos trabalhar resolutamente pela unidade dos colombianos nesta hora da Pátria, levantar a bandeira política e social da plataforma de dez pontos, prosseguir a luta pela troca de prisioneiros de guerra, convertida hoje em itinerário obrigatório da aspiração colectiva da paz e da solução política.




Aos caídos em combate nossa homenagem póstuma e a certeza de que a sua luta continua nos nossos fuzis e ideias. Aos feridos e lesionados a calorosa saudação e o anseio do colectivo fariano pela sua pronta recuperação. Aos prisioneiros nos cárceres do Regime e do Império o nosso abraço e a determinação que não afrouxa de buscar o acordo de troca para tê-los aqui, de novo, na sua trincheira de luta política. E aos militantes comunistas clandestinos, ao Movimento Bolivariano, e às milícias em campos e cidades, o nosso abraço guerrilheiro, combativo, bolivariano, e o apelo para as batalhas decisivas pela Pátria e pelo Povo.




Venceremos! Somos FARC, Exército do Povo.




Secretariado do Estado Maior Central, FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 24 de Dezembro de 2006


 


Os originais encontram-se em http://www.anncol.org/es/site/doc.php?id=2725


Versão em português divulgada originalmente pelo site www.resistir.info