Na luta pela terra, Guarani lembram Sepé
Indígenas da etnia Guarani do Rio Grande do Sul se reúnem nesta quarta-feira, em São Gabriel, para recuperar a memória de um dos seus mais importantes líderes: Sepé Tiaraju. Acompanhados de indígenas da etnia Caingang, os Guarani realizarão reuni
Publicado 06/02/2007 15:30 | Editado 04/03/2020 17:12
O líder guarani Sepé Tiaraju morreu no dia 7 de fevereiro de 1756, onde hoje está o município de São Gabriel. Ele liderava os indígenas dos Sete Povos das Missões na luta de resistência contra a invasão dos exércitos de Espanha e Portugal, que acabaram tirando dos Guarani a utopia da Terra Sem Males.
Mais de 250 anos depois, a luta ainda é pela terra. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), existem dez acampamentos indígenas às margens das rodovias no Rio Grande do Sul. Ao todo, são cerca de 25 comunidades Guarani no Estado, a maioria delas concentrada na Grande Porto Alegre e no litoral.
Para o cacique Maurício Gonçalves, da terra indígena de Itapuã, em Viamão, Sepé Tiaraju inspira a luta dos Guarani pela retomada de suas terras. “Para o povo Guarani, a luta do Sepé é muito importante, porque hoje ainda existem índios lutando pelo seu espaço, por terra. Para que tenham espaço para sobreviver, culturamente também”, diz.
O cacique Mário Karay, da terra indígena do Cantagalo, também em Viamão, diz que o exemplo do Sepé está fortalecendo a articulação do movimento indígena. “A gente sempre ouve, dos caciques antigos, que se passarão anos, mas um dia haverá uma organização para retomar as forças. E é isso que está acontecendo agora”, diz. Mário Karay afirma também que a terra é a grande reivindicação dos Guarani. “São terras. Isso é o grande pedido da maioria. Sem ter espaço, não há condições, não há auto-estima”, explica.
O coordenador do Cimi na região Sul, Roberto Liebgot, explica que a maioria das terras Guarani já demarcadas são áreas pequenas. Ele defende a demarcação de novas áreas e diz que os povos indígenas têm o direito de retomar suas terras tradicionais. “O guarani essencialmente vive da terra, e de terras que não sejam degradadas. Como é um povo muito religioso, a base da sua relação com Deus é a terra. Então, essa terra precisa ter rios, matas, espaço para plantio e colheita, e também para coleta, locais onde possam andar, fazer seus cultos. A terra é fundamental, por isso ela não pode ser pequena. E também não pode ser considerada como uma concessão do Estado. Esta terra é um direito que os guarani têm”, explica.
Nesta quarta-feira, dia 7 de fevereiro, centenas de indígenas e integrantes de movimentos sociais lembram em São Gabriel a morte de Sepé Tiaraju. As atividades acontecem na Sanga da Bica, local da morte de Sepé, e na Coxilha do Caiboaté, onde 1,5 mil Guarani foram dizimados em combate, no dia 10 de fevereiro de 1756.
Luiz Renato Almeida – Agência Chasque