O dúbio interesse dos EUA em relação ao etanol brasileiro

O subsecretário de Estado americano para Assuntos Políticos, Nicholas Burns, está no Brasil para uma visita de três dias. Na bagagem, ele traz o interesse de seu país pelos biocombustíveis brasileiros, em especial o etanol. Há espaço em sua mala também pa

Burns chegou ao país disposto a iniciar uma nova parceria, por meio da qual Brasil e Estados Unidos possam ampliar o mercado mundial de etanol e reduzir a dependência mundial de petróleo. A viagem é uma conseqüência direta da proposta feita em janeiro pelo presidente George W. Bush, que na ocasião propôs que os norte-americanos reduzissem em 20% o consumo de petróleo, em um intervalo de no máximo dez anos.



Em 2006, o Brasil exportou para todo o mundo 3,4 bilhões de litros de etanol – os EUA foram o destino de 1,7 bilhão.



“Estados com peso negativo”
Além da disposição pela nova parceria, Burns, que é o terceiro homem da hierarquia do Departamento de Estado norte-americano, não utilizou nenhum eufemismo ao ser questionado sobre o papel desempenhado por alguns países no comércio mundial de petróleo. “A energia tende a distorcer o poder de alguns Estados que nós achamos que têm um peso negativo no mundo, como a Venezuela e o Irã. Então, quanto mais pudermos diversificar nossas fontes de energia e nos tornarmos menos dependentes do petróleo, melhor ficaremos. Estou falando de uma perspectiva americana. O Brasil deve falar por si mesmo”, disse.



O Brasil, na condição de país com maior potencial para a produção de combustíveis alternativos como o etanol, não só deve como tem a obrigação de falar por si mesmo em questões tão delicadas. Mais do que isso: diante do aumento do interesse das grandes potências mundiais por esse tipo de produto, cabe ao governo brasileiro se manifestar até mesmo  em nome dos países mais pobres, já que estão no Hemisfério Sul as melhores condições para o plantio da cana-de-açúcar e outras matérias-primas naturais para os biocombustíveis.



Protecionismo
A intenção de Burns é concretizar, no período de um ano, um acordo com o Brasil baseado em três pontos:



1) Uma cooperação maior entre governo e setor privado dos dois países, que juntos respondem por 70% da produção mundial de etanol.
2) O envolvimento de outros países da região, tanto na produção de biocombustíveis quanto na formação de mercado para esses produtos.
3) A ampliação do mercado global para os biocombustíveis, principalmente o etanol, de modo que ele se torne uma commodity global.



O curioso é notar que em nenhuma das partes desse tripé proposto pelo representante norte-americano exista qualquer referência à questão das barreiras comerciais impostas pelos EUA ao etanol brasileiro.



Cada galão do combustível produzido pelo Brasil é tributado em US$ 0,54 para entrar em território norte-americano. Questionado a respeito desse empecilho, Burns saiu pela  tangente, dizendo que quem poderia tratar a respeito dessa questão é o Congresso de seu país. “Infelizmente esse não é um assunto da minha alçada”, disse.



Limitações
O governo federal ainda não se manifestou oficialmente a respeito das intenções da viagem do representante norte-americano, mas um estudo divulgado nesta quarta-feira (7) pelo BNDES mostra que há outras preocupações em vista.



Segundo o banco, o país precisa construir cem novas usinas até 2010 para a produção de mais 8 bilhões de litros de álcool. A capacidade atual já é de 17 bilhões de litros. De acordo com a estimativa, esse seria o patamar necessário para atender a evolução da demanda interna, principalmente com o aumento do número de carros flex.



O tamanho médio de cada nova usina seria de 1,8 milhão de toneladas de cana, de acordo com o estudo. Dados do mercado já apontam projetos de 77 usinas até 2012. Atualmente existem 248 usinas na região Centro-Sul e 88 no Nordeste.



A produção de cana-de-açúcar, que está em 425 milhões de toneladas, deverá atingir 685 milhões na safra de 2012/13.



Ainda nesta quarta-feira, Burns se reunirá em Brasília com autoridades do governo para tratar desse e outros assuntos referentes à parceria.A expectativa entre alguns setores do governo federal é a de que, com o aumento do interesse norte-americano pelo etanol, o Brasil possa receber investimentos e suprir essa demanda.