Carlos Lyra canta pela UNE de volta pra casa

Por Rafael Minoro
Por volta das 18 horas da quinta-feira (8/2) o músico Carlos Lyra visitou o acampamento da UNE e da Ubes, na Praia do Flamengo. Todos comemoravam exatos sete dias da retomada da sede das entidades. Os 150 estudantes estão transform

Lyra veio engrossar a lista de personalidades que têm declarado solidariedade a ação iniciada no dia 1º de fevereiro. Sua visita representa o resgate vivo da memória do movimento estudantil. Ele foi um dos que estavam dentro da sede da UNE quando os militares metralharam, invadiram e tocaram fogo no histórico prédio onde funcionava a entidade desde o final da década de 1940.


 


O número 132 também abrigou, de 1961 a 1964, uma das experiências mais ousadas e criativas da cena artística brasileira: o Centro Popular de Cultura, o lendário CPC da UNE. Tendo à frente Oduvaldo Viana, o Vianinha, o CPC foi referência no campo da pesquisa e da produção cultural, sendo instrumento de união entre artistas e estudantes. Parceiro de Vinicius de Morais e outros tantos imortais da bossa-nova, Lyra é, além de tudo, o autor do hino da UNE.


 


Pela porta da frente
Reunido em torno de uma roda de bate-papo, Carlos Lyra destacou, em primeiro lugar, o sentimento de voltar, pela porta da frente, de um lugar do qual ele teve que sair correndo pela janela dos fundos. ''É uma satisfação enorme entrar aqui e ver que existe este movimento de reconstruir a sede de vocês. Aqui era um lugar fantástico, onde a gente se reunia, tocava, ensaiava, conversava, fazia política'', disse.


 


Ele contou detalhes da invasão dos militares ao prédio em 1º de abril. Neste dia, havia muita gente em frente à sede da UNE porque o novo teatro do CPC ia ser inaugurado. ''A gente estava na porta, mas o pessoal resolveu entrar porque o clima já não era dos melhores e ficar ali na frente não era uma boa idéia. Mas de repente só ouvimos os disparos das metralhadoras. O Vianinha era louco. Tava lá na frente dizendo, por aqui não, por aqui não. E aí corremos todo mundo para os fundos'', conta. ''Ele invadiram e destruíram tudo, pisaram nas cadeiras, quebraram o teatro inteiro. Os caras nem para deixar o teatro e fazer uma peça de direita lá'', ironizou.


 


O músico fez questão de dizer que a sua presença no acampamento não tinha o intuito de ser unilateral. Ele queria na verdade era absorver as experiências dos estudantes hoje no campo cultural, saber o que está acontecendo e buscar inspiração. ''Eu estou em crise. Vim aqui buscar inspiração. Quero mais ouvir do que falar. Quero saber o que vocês estão fazendo, como estão as coisas'', brincou.


 


Do CPC ao CUCA
O Coordenador-geral do Circuito Universitário de Cultura e Arte, o CUCA da UNE, Tiago Alves, expôs um pouco sobre o projeto da entidade, que revive um pouco do que foi o CPC. Segundo ele, “a volta para o Rio de Janeiro e a construção de um centro cultural no mesmo local, traz consigo uma forte simbologia e é um grande incentivo para a UNE retomar a troca de experiência entre os artistas e os estudantes”.


 


Tiago ainda explicou a idéia de já na semana que vem transformar o acampamento numa ocupação cultural. Segundo ele, será erguida uma tenda de circo, onde grupos cariocas e representantes dos núcleos CUCA’s pelo país poderão mostrar o seu trabalho. Lyra se empolgou com idéia e incentivou a rápida construção deste espaço cultural. Ele deu vários exemplos de como o CPC, com pouca estrutura e dinheiro, conseguiu realizar obras fantásticas, como o filme ''5 vezes favela''.


 


Como não bastasse a simpatia e humildade de ter comparecido ao acampamento, Lyra ainda se dispôs a fazer uma apresentação na nova sede da UNE, assim que a tenda estiver armada. ''Vocês têm que transformar isso aqui numa verdadeira casa da cultura. Chamar os moradores, cobrar um preço simbólico, convidar outros artistas e principalmente dar espaço para as manifestações da cultura popular brasileira'', completou.


 


Fernando Gabeira e Manuela visitaram acampamento
Na segunda-feira (12/2), às 9h30, os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ) e Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) participarão de um ato público em apoio aos estudantes acampados desde o dia 1º de fevereiro no terreno da Praia do Flamengo, nº 132, no Rio de Janeiro.


 


O movimento conta hoje com mais de 150 jovens, que reivindicam a retomada da sede das entidades estudantis, invadida por um estacionamento clandestino. Os parlamentares estarão acompanhados de uma frente jovem de deputados federais, entre eles Brizola Neto (PDT-RJ) e Reginaldo Lopes (PT-MG). O ato ainda vai contar com as presenças da presidente do Conselho Nacional de Juventude, Regina Novaes; e do Secretário Nacional de Juventude, Beto Cury.