Nossa preparação para as eleições de 2008

Artigo de Jorge Gregory, Jornalista, membro do Comitê Estadual do Paraná, que atualmente ocupa o cargo de coordenador-geral de Orientação e Controle da Educação Superior do MEC.

 


            Uma grande e complexa questão que se coloca quando ocorre uma flexibilização tática, em função de um realinhamento de forças, é como levá-la à prática segundo cada realidade regional e municipal e segundo cada realidade de cada movimento social.


 


            A orientação tática do PCdoB parte da compreensão de que, nas atuais circunstâncias, o avanço revolucionário é produto da acumulação de forças no combate ao neoliberalismo, tendo em conta um período de um processo de defensiva estratégica que se inicia no final da década de 80, início de 90, que tem como marco a queda do bloco socialista.


 


            No Brasil e América Latina, este processo de acumulação vem se dando através da constituição de frentes eleitorais que congregam segmentos de forte identidade popular, organizações de esquerda tradicionais e até mesmo setores das elites locais. O resultado deste processo guindou ao poder, em cada país com suas peculiaridades, figuras como Lula no Brasil, Hugo Cháves na Venezuela, Evo Morales na Bolívia. Pode-se dizer que de certa forma Tabaré Vazquez no Uruguai, Bachelet no Chile e Kirchner na Argentina também são produtos deste movimento que marca o início deste século na América Latina.


 


            É importante percebermos que em nenhum dos casos a força hegemônica nestas frentes são organizações revolucionárias e muito menos tais presidentes eleitos podem ser qualificados como socialistas. No máximo simpatizantes do socialismo. Mas merecem destaque os três primeiros – Lula, Cháves e Morales – pela origem, carisma e forte identidade popular.


 


            No caso específico do Brasil, este processo de acumulação de forças e de construção da frente eleitoral, se deu e se dá sob a hegemonia do Partido dos Trabalhadores. Trata-se, no entanto, de uma frente. Assim como o programa do Partido Comunista não pode ser confundido com o programa desta frente, o programa desta frente não pode se confundido com o programa do PT, mesmo sendo o PT partido hegemônico nesta frente. Disto decorre se afirmar que, ainda que se tenha elementos estratégicos em comum, nem PCdoB e nem PSB são apêndices do projeto político do PT.


 


            No plano eleitoral, de 1989 a 2002, a tática comunista priorizava o fortalecimento eleitoral desta frente, em todos os níveis, o que se materializava, e raríssimas eram as exceções, num quase alinhamento automático às candidaturas majoritárias do PT e na concentração de candidaturas proporcionais comunistas, em coligações prioritariamente estabelecidas com o Partido dos Trabalhadores. Já nas eleições de 2002, em muitos locais, ainda que se alinhando as candidaturas majoritárias petistas e em coligação com o PT, os comunistas deixam de se utilizar da concentração, disputando com um número maior de candidatos proporcionais.


 


            Com a vitória eleitoral de Lula em 2002 a questão tática central, a luta de resistência ao neoliberalismo, é colocada em um novo patamar. Os comunistas redirecionam a sua tática, orientada agora na perspectiva de construção um projeto desenvolvimentista com distribuição de renda e a participação numa frente ampla, capaz de dar sustentação a este projeto. Sob esta nova orientação, mas ainda tendo o PT como coligação prioritária, o PCdoB decide disputar cargos majoritários nas eleições municipais de 2004, objetivando jogar um maior protagonismo. Em alguns municípios se arriscou até mesmo disputar as proporcionais com chapa pura. Tal orientação, em especial em grandes centros como Fortaleza e Rio de Janeiro, onde o PCdoB apresentava candidaturas com maior densidade eleitoral que o PT, embora contando com uma estrutura e uma máquina partidária mais frágil, começou a gerar conflitos.


 


            Nas eleições de 2006 novos choques se estabeleceram. O mais significativo exemplo talvez seja o DF. Mesmo tendo a candidatura que contava com a simpatia de Lula e, comprovadamente, com maior densidade eleitoral, o PCdoB teve que abrir mão de lançar Agnelo candidato a governador, diante da intransigência petista. Não tivemos sequer segundo turno. Perdeu o PT, perdeu o PCdoB e perdeu a frente.


 


            Isto demonstra que a recente eleição para a presidência da Câmara não é um situação isolada e muito menos o PCdoB está tomando uma atitude intempestiva diante de exclusivamente um determinado fato. Trata-se de um processo de luta em evolução, principalmente no campo das idéias, sobre o caráter da frente, da coalizão. Luta de idéias que, no entanto, tem suas conseqüências práticas.


 


            A primeira delas foi a formação do bloco parlamentar PCdoB, PSB e PDT. Trata-se da constituição de uma nova referência de esquerda que atuará, no parlamento, de forma independente ao PT. Isto sinaliza para uma clara opção de fortalecimento desta aliança entre comunistas, socialistas e trabalhistas também no plano dos movimentos sociais e no plano eleitoral, especialmente para as eleições municipais de 2008.


 


            Não se trata de uma ruptura no sentido de que os comunistas não comporão mais com os petistas em processos eleitorais ou nos movimentos sociais. Mas o fato concreto é que o PT não contará mais com um alinhamento praticamente automático por parte dos comunistas, como vinha ocorrendo desde o início da década de 90. 


 


            Por outro lado, mesmo os partidos de esquerda com uma clara definição ideológica, como os socialistas e trabalhistas, se compõem em boa parte também por acomodações regionais e locais, que muitas vezes nada tem a ver com a orientação política e ideológica da sigla. Diz mais respeito a disputas paroquiais. Assim, a participação dos comunistas nas eleições de 2008 exigirá, em cada município, uma profunda análise da realidade local e uma verdadeira obra de engenharia política, tendo em vista ampliar o protagonismo do PCdoB, aumentando a sua representação parlamentar e nos poderes executivos e, por outro lado, fortalecendo a idéia de um núcleo de esquerda, capaz de dar sustentação a um projeto desenvolvimentista, como alternativa de superação do neoliberalismo.