Kirchner defende a indústria nuclear pacífica na Argentina

Com olhar posto nas eleições presidenciais do próximo outono e com duras críticas aos governos anteriores, ao Fundo Monetário Internacional e à imprensa, o presidente argentino, Néstor Kirchner, dirigiu-se nesta quinta-feira (1º/3) ao Congresso no que

O nacionalismo predominou na intervenção do presidente, que inaugurava o período de sessões do Poder Legislativo argentino e na qual não revelou seu futuro imediato: se tentará a reeleição ou cederá a candidatura a sua mulher, a senadora Cristina Fernández, presente no plenário.



Descontraído, Kirchner salientou a existência de um “modelo argentino” de desenvolvimento, “sem copiar receitas enlatadas”. E assim dedicou a maior parte de suas duas horas de intervenção para detalhar exaustivamente as conquistas econômicas de seu governo, em uma avalanche de números que iam desde dados de comércio exterior ao número de roupas fabricadas em programas sociais ou à porcentagem de crianças escolarizadas com 5 anos de idade. Uma chuva de números que rivalizava com o temporal que nessa hora se abateu sobre Buenos Aires e os milhares de simpatizantes do presidente mobilizados até as portas do Congresso pela máquina peronista.



Venezuela
Kirchner foi muito claro na hora de defender sua relação privilegiada com Hugo Chávez, e enfatizou que a Venezuela está comprando títulos da dívida argentina. “É hora de cultivarmos nossas relações com os países do sul”, salientou, para acrescentar em seguida que a Argentina “é e sempre será um país latino-americanista”.



A oposição argentina criticou fortemente a progressiva aproximação de Kirchner do mandatário venezuelano, com quem assinou na semana passada, em Caracas, uma aliança e que deverá visitar Buenos Aires enquanto o presidente americano, George W. Bush, estiver no Uruguai, na próxima semana. Também preocupa a identificação do presidente venezuelano com o regime iraniano e, nesse contexto, como poderá ser interpretado o reinício da corrida nuclear argentina. Kirchner salientou ontem seus compromissos com a Agência Internacional de Energia Atômica, ao mesmo tempo em que confirmou os planos argentinos de implantar seu terceiro reator nuclear, uma usina de enriquecimento de urânio e o projeto de uma quarta central nuclear.



Defesa de seu mandato
Em tom pré-eleitoral, Kirchner repassou toda a sua gestão e referiu-se constantemente, sem citá-lo pelo nome, ao ex-presidente peronista Carlos Menem (1990-1999), contra o qual verteu suas mais duras críticas. Também não faltaram referências a outros dois demônios do presidente: o FMI e a imprensa crítica. “Já não temos a ditadura do FMI manipulando o destino dos argentinos”, afirmou Kirchner entre os aplausos do grupo oficial e o silêncio dos congressistas de oposição – entre os quais se destacava o centro-direitista Mauricio Macri –, conscientes de que o presidente estava aproveitando ao máximo a tribuna de uma transmissão ao vivo e sem limite de tempo pela maioria dos canais de TV do país.



“Não sei por que escrevem tantas coisas sem ter um minuto de reflexão”, “não tenho medo dos que escrevem” ou “precisam estudar”, foram algumas frases dedicadas aos jornalistas. Das tribunas, os seguidores do presidente haviam atirado pouco antes sobre o auditório centenas de papéis com a bandeira argentina e a frase “Força Kirchner”.



O presidente também acusou o Uruguai de não ter vontade negociadora no conflito das fábricas de papel e de ter violado unilateralmente o Tratado do Rio Uruguai, ao mesmo tempo em que agradeceu ao rei da Espanha e ao embaixador espanhol na ONU, Juan Antonio Yañez, sua mediação no conflito.



Fonte: El País