Candidatura única deve esvaziar conferência do PMDB

O grupo do ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim vai boicotar a convenção nacional do PMDB marcada para domingo. Segundo o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), um dos principais articuladores da candidatura de Jobi

''Há a conclusão que, em respeito ao ministro Nelson Jobim, à sua decisão e à decisão tomada, nós não vamos comparecer à convenção. É um consenso, uma questão de compostura por parte dos nossos companheiros'', disse Cabral.


 



Jobim anunciou hoje que renunciava à disputa pela presidência do partido por conta da interferência do Planalto na eleição. Jobim entendeu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva favoreceu o grupo de Michel Temer (SP) ao indicar a nomeação do deputado Geddel Vieira Lima (BA) para a Integração Nacional.


 


Cabral negou, no entanto, que o boicote vá provocar o já esperado racha no PMDB e deixar seqüelas que possam prejudicar a aliança do partido com o governo federal. ''Eu não vejo uma sinalização do racha. Muito mais do que isso, política é feita de gesto'', afirmou.


 



Questionado se o grupo de Jobim vai abrir mão dos três ministérios conquistados na reforma ministerial a ser anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cabral foi enfático: ''uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa''.


 



O grupo vai manter o comando dos Ministérios das Comunicações, Minas e Energia, além de ter conseguido emplacar o médico José Gomes Temporão no Ministério da Saúde.


 



O governador disse que a ausência do grupo na convenção não deve ser encarada como ''desrespeito'' a Temer uma vez que os aliados de Jobim sempre declararam a preferência pelo ex-presidente do STF.


 



Além de Cabral, os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), José Sarney (PMDB-AP) e José Maranhão (PMDB-PB), o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) e os governadores Eduardo Braga (Amazonas) e Marcelo Miranda (Tocantins) devem faltar a convenção em apoio a Jobim. O grupo se reuniu nesta tarde com Temer para informá-lo do boicote.


 



''O meu caso é uma posição de respeito ao ministro Jobim. Essa discussão não tem nada a ver com o governo federal. É uma questão de delicadeza. A gente tem que ter compostura na vida'', disse Cabral.


 



Numa clara demonstração de apoio a Jobim, Renan insinuou esta tarde que o governo pode ter dificuldades para garantir o apoio dos 20 senadores do partido diante do apoio velado a Temer. ''Todos nós nos sentimos liberados [de manter o apoio ao governo] em função dos últimos acontecimentos. Estou totalmente solidário com a nota do Jobim'', disse Renan.


 



Em nota, Jobim disse que ''os acontecimentos das últimas horas'' demonstram a ''opção objetiva do governo'' quanto à disputa no PMDB, numa referência direta ao convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) para ocupar o Ministério da Integração Nacional.


 



Jobim considerou que Lula estava fortalecendo o grupo de Temer, já que o presidente do PMDB tem a preferência da bancada do partido na Câmara – onde está Geddel.


 


Temer minimiza boicote


 


Ao ser perguntado sobre o que achava do boicote à convenção, Michel Temer buscou minizar o fato. Segundo ele, haverá quórum suficiente na convenção para endossar sua chapa como vitoriosa na corrida pelo comando da legenda. “Vamos fazer a convenção de toda maneira. Nós estávamos disputando votos, e votos se disputam na convenção. O que muitas vezes ocorre é que, não havendo disputa, alguns delegados ficam desestimulados a comparecer. Mas eu não tenho dúvidas que quorum haverá”, afirmou.


 


O regimento do PMDB determina que pelo menos 283 peemedebistas compareçam à convenção –metade mais um dos 564 convencionais. Nos bastidores, articuladores da campanha de Temer trabalham para que integrantes do grupo pró-Jobim integrem a chapa do atual presidente do partido.


 


Como a chapa de Jobim reúne nomes de peso do partido, o grupo de Temer pretende conquistar o apoio de parte do grupo. “Acredito que podemos caminhar para uma chapa de consenso dentro da história de responsabilidade do PMDB”, disse o líder do partido na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).


 


Temer se encontrou esta noite com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Na audiência, o presidente reconheceu que ministros trabalharam nos bastidores pela candidatura de Jobim. Lula negou, no entanto, que tenha beneficiado Temer. “Ele disse que às vezes se imputa culpa a ele, mas ele não teve participação em nada disso”, afirmou. 


 


Desculpa ajeitada


 



O jornalista Etevaldo Dias aventou, em nota postada em seu blog, uma outra versão para a renúncia de Jobim. Segundo ele, o desentendimento com o presidente Lula foi apenas a boa desculpa que o ex-presidente do STF precisava para retirar sua candidatura a presidência do PMDB. “Nas últimas horas Jobim constatou que sua candidatura tinha sido mortalmente atingida. Hoje pela manhã, 14 dos 119 nomes que compunham sua chapa pediram desligamento. A vantagem de Michel Temer era de 50 a 60 votos”.


 


“Jobim contava com o apoio irrestrito e ostensivo de Lula a sua candidatura. Uma avaliação excessivamente otimista porque o presidente não poderia se expor numa disputa destas por nenhum candidato de partido algum, nem do PT”, registra o jornalista.


 


Ainda segundo ele, Jobim tinha apoio forte dos senadores, mas estava fraco na Câmara onde Michel Temer detem controle. “É bem provavel que nas próximas horas hajam manifestações de solidariedade a Jobim, mas o protesto não passará disto. Nenhum dos medalhões pemedebistas quer ficar fora do governo Lula”, afirma Etevaldo.


 


“Lula, por sua vez, sabe que a indignação de Jobim faz parte do jogo político. Daqui a algum tempo ela fará algum carinho ao ex-presidente do Supremo, e tudo ficará com antes no quartel de Abrantes”, conclui o jornalista.


 


Com agências
Matéria atualizada às 0h50 de 7/3 para acréscimo de informações