Felipe Araújo – Vôo Rasante

No radar da crise do tráfego aéreo, há um ponto nem tão evidente (mas que voa em altura perigosa) na visão dos “controladores” do debate: governo, oposição e Forças Armadas.

É algo menos luminoso, por exemplo, que o desespero de passageiros em longas filas nos terminais de check-in. Ou que o apequenamento da Câmara patrocinado pelos deputados da oposição com seus “republicanos” apelos de CPI ao STF. Ou ainda que a “faca no pescoço” que, primeiro, os profissionais das torres e, depois, as Forças Armadas colocaram no presidente Lula – que, sintomaticamente, já acena com a criação de um PAC para o setor.


 


É algo menos evidente também que a fritura que grande parte da imprensa vem fazendo do ministro Waldir Pires, acusado, nesta altura do campeonato, de ser responsável não só pela crise e pelos atrasos, mas pelos cachorros nas pistas, pelas chuvas que fecham Congonhas e pelo preço do pãozinho de queijo nos restaurantes dos aeroportos.


 


Em vôo rasante, quem volta a transitar no espaço aéreo brasileiro é o caça da privatização. Em dezembro do ano passado, no primeiro auge da crise, por exemplo, o vice-presidente da TAM, Paulo Castelo Branco, defendeu no Senado a desestatização da Infraero, cujas taxas operacionais rendem um bolo de cerca de R$ 1 bilhão por ano. Segundo Castelo Branco, citado em matéria desta semana da revista Carta Capital, a infra-estrutura portuária não consegue acompanhar o crescimento das empresas aéreas no Brasil.


 


Fico imaginando qual seria o destino de um sistema formado por 67 aeroportos – das quais apenas uma pequena parcela é lucrativa – entregue à iniciativa privada. Não custa lembrar que o mito das privatizações redentoras, em termos de espaço aéreo, já nos roubou, para citar um exemplo, a vigilância da Amazônia com o escandaloso processo de execução do projeto Sivam durante o governo Fernando Henrique.


 


Por enquanto, a aeronave dos xiitas do mercado ainda se mantém a uma distância segura. O problema é que ninguém na torre de comando parece ter visto o “caça” aparecer no radar do debate.


 


Felipe Araújo é jornalista