Roberto congratula o PCdoB pelos 85 anos na Câmara do Rio

O vereador do Rio de Janeiro, Roberto Monteiro (PCdoB), homenageou no dia 10 os 85 anos do Partido com um discurso na Câmara dos Vereadores. “Ao comemorar os 85 anos do PCdoB, quero não só fazer o elogio do passado, mas expressar a confiança no futuro.

No discurso – que era para ter ocorrido no dia 29 de março, mas não aconteceu por falta de quorum até o dia 10 – Roberto disse que “o Partido Comunista do Brasil sempre esteve na vanguarda da conquista e defesa dos direitos sociais, trabalhistas e democráticos do nosso povo. Persistiu na organização do proletariado da cidade e do campo, liderou greves memoráveis, ajudou a construir sindicatos. Seu nome está associado às grandes lutas e conquistas avançadas, materiais e espirituais, da sociedade brasileira”.



Roberto também ressaltou a fundação do Partido no Rio de Janeiro, a insurreição de 1935, os períodos de ilegalidade, a reorganização do Partido Comunista do Brasil em 1962 e a participação dos comunistas no parlamento.



Veja abaixo o discurso na íntegra:



Senhor presidente, senhores vereadores, o que me traz hoje à tribuna é um registro que não poderia deixar de ser feito por esta casa.



No último dia 25 de março de 2007, o Partido Comunista do Brasil, PCdoB, completou 85 anos de existência. É o partido mais antigo e o mais jovem do Brasil.



Mais antigo porque nenhum outro logrou completar tanto tempo de atividade contínua. E o mais jovem porque continua sendo portador dos sonhos mais generosos que moveram e movem gerações de lutadores pela liberdade, pela democracia, pelos direitos dos trabalhadores, pela soberania e pelo socialismo.



O Partido Comunista do Brasil nasceu em 25 de março de 1922 sob influência da Revolução Russa de 1917, comandada por Lênin e o Partido Bolchevique.
O Partido não surgiu como um corpo estranho ou exótico à sociedade brasileira. Suas raízes são antigas, ligadas à longa história da luta de classes, e principalmente a seus desdobramentos a partir da segunda metade do século XIX, quando se acentuou a contradição entre o escravismo que fenecia, e o modo de produção capitalista que nascia.



Em seu 1º Congresso o Partido reuniu nove dirigentes proletários: o jornalista Astrogildo Pereira, o advogado Cristiano Cordeiro, os alfaiates Joaquim Barbosa e Manuel Cendón, o gráfico João da Costa Pimenta, o vassoureiro Luís Pérez, o eletricista Hermogêneo Fernandes da Silva, o barbeiro Abílio de Nequete e o pedreiro José Elias da Silva. Eles representavam 73 militantes de associações políticas de trabalhadores do Distrito Federal, e dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Há notícias de que delegações de Santos, Juiz de Fora, Passo Fundo e Livramento não conseguiram ir a Niterói para participar do Congresso onde nasceu esta experiência vitoriosa.
 

O Partido Comunista do Brasil sempre esteve na vanguarda da conquista e defesa dos direitos sociais, trabalhistas e democráticos do nosso povo. Persistiu na organização do proletariado da cidade e do campo, liderou greves memoráveis, ajudou a construir sindicatos. Seu nome está associado às grandes lutas e conquistas avançadas, materiais e espirituais, da sociedade brasileira.



É o Partido da defesa da soberania nacional e da luta contra a dominação imperialista. Em 1934 liderou a Aliança Nacional Libertadora (ANL), um amplo movimento que envolveu vastos setores da sociedade brasileira em torno de um programa nacional e democrático, contra a exploração de nosso povo.



Em sua trajetória, o Partido teve de variar a formas de atuação, enfrentou adversidades e sofreu ataques das forças reacionárias, mas nunca fugiu à luta. O sangue de seus militantes se inscreve nas páginas da luta de nosso povo pelo progresso social. Em 1935 comandou a insurreição comunista, nos anos 70 enfrentou a ditadura militar nas selvas do Araguaia, lutando pela liberdade e pela democracia.



Durante todo este tempo o Partido teve de dar o salto necessário para superar a pouca assimilação da teoria revolucionária, compreender os princípios do marxismo e aprofundar o conhecimento da realidade brasileira. A reorganização ocorrida na Conferência Extraordinária em 1962, que completou 45 anos em 18 de fevereiro de 2007, combateu o revisionismo, que levou a União Soviética a trilhar o caminho do retorno ao capitalismo, e reafirmou a continuidade do Partido comunista do Brasil fundado em 1922. Em 1995 o Partido aprovou o Programa Socialista, que desenvolve a compreensão da construção do socialismo a partir da realidade concreta brasileira.



Em seus 85 anos de vida, o Partido fez esforços para divulgar o marxismo-leninismo, a teoria revolucionária do proletariado. Publicou continuamente obras clássicas, livros, materiais e diversos jornais e revistas. Edita até hoje seu órgão central, o jornal A Classe Operária, fundado em 1º de maio de 1925. Em 1981 criou a revista Princípios, que desde então circula ininterruptamente. Hoje, o PCdoB é a principal referência da esquerda brasileira na Internet com o Portal Vermelho, que é o portal mais acessado do campo progressista.



O Partido teve grande papel ajudando a conceituar e fundamentar a crítica ao neoliberalismo na década de 90. Em plena turbulência da crise do socialismo no Leste europeu e na ex-União Soviética, os comunistas brasileiros se esforçaram para desenvolver a teoria marxista e reafirmar a defesa do socialismo científico concomitantemente à produção de idéias e à ação prática que contribuíram para desmascarar a implementação do projeto neoliberal no país, sob os governos de Collor e principalmente de Fernando Henrique Cardoso, abrindo caminho para a vitória das forças populares que em 2001 iniciaram um novo ciclo na história nacional.



Senhor presidente, senhores vereadores, como parlamentar gostaria de fazer agora uma referência justamente sobre a atuação do PCdoB no parlamento.



Como todos sabem essa atuação foi grandemente limitada, pois durante a maior parte de sua existência o Partido esteve na clandestinidade. Aliás, sempre que a democracia é golpeada no Brasil, são os comunistas os primeiros a serem perseguidos, pois são os seus mais ferozes oponentes. E sempre que o país respira os ares da liberdade, os comunistas crescem sua influência e estreitam seus laços com as massas, refletindo isso em sua influência parlamentar.



Isso aconteceu, por exemplo, em 1945, quando o Partido elegeu um senador, Luís Carlos Prestes, e 14 deputados, entre eles, João Amazonas, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Jorge Amado, entre outros. Abro aqui um parêntesis para registrar a imensa afinidade histórica entre o Partido e o que de mais elevado se produziu em termos culturais no Brasil. Foram ligados ao Partido, além de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Portinari, Paulo da Portela além de centenas de outros intelectuais e artistas que, se fossem citados, ocupariam todo o tempo de minha intervenção sem que eu terminasse de nomeá-los. Cito apenas mais um, que continua entre nós, lúcido e ativo, e é motivo de orgulho para todos os brasileiros: Oscar Niemayer.



Voltando às eleições de 1945, a bancada comunista teve papel destacado na Assembléia Constituinte de 1946, defendendo um programa democrático, avançado, antiimperialista e antilatifundiário impondo pela primeira vez o debate de questões democráticas e nacionais.



Nas eleições de 1946 o Partido obteve maioria de votos no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em São Paulo, Santos, Campinas, Sorocaba, Recife, Olinda, Natal e Aracaju. Obteve também cerca de 10% dos votos, quase 600 mil, para seu candidato a presidência da República, Yeddo Fiúza.



Em 1947, o fenômeno se repetiu. O Partido elegeu 46 deputados estaduais, 17 vereadores em São Paulo e alcançou a maioria nas Câmaras de Santos, Sorocaba, Santo André e Jaboatão. Aqui, na Câmara do Rio, o Partido elegeu também a maior bancada, com 18 vereadores, desta bancada fazendo parte outro grande nome da cena cultural brasileira, Aparício Torelly, autonomeado com o pseudônimo de Barão de Itararé. Abro outro parêntesis para dizer que já que estamos no ano do PAN Americano é interessante resgatar que a construção do estádio Mário Filho foi motivo de embate entre a bancada comunista e o então vereador Carlos Lacerda que defendia a construção do estádio em Jacarepaguá, enquanto os comunistas defendiam que o estádio deveria ser construído na região central da cidade, numa área que pertencia ao Jockey Club, no bairro do Maracanã.



O Partido, portanto, crescia cada vez mais, mas não se preveniu contra o ultradireitismo que crescia na conjuntura política, reforçado pelo governo do marechal Eurico Gaspar Dutra e pelos remanescentes do fascismo. A campanha anticomunista recrudesceu e levou, em 7 de maio de 1947, à cassação do registro legal do Partido e, em 10 de janeiro de 1948, à cassação dos mandatos de todos os seus parlamentares.



Hoje, o partido vive, desde 1985, seu mais longo período de legalidade. Toda uma nova geração de comunistas se forja neste contexto.



O PCdoB busca responder aos desafios desta quadra histórica, onde atua em condições de defensiva estratégica do movimento revolucionário. Tira lições dos erros das experiências socialistas do século XX, propondo um socialismo renovado, coerente com seu tempo, sem modelos pré-concebidos, um socialismo que será fruto da luta coletiva dos trabalhadores, e construído de acordo com as características de nossa cultura e do nosso tempo.



E o PCdoB tem crescido.



Participa do governo Lula desde seu primeiro mandato e ajudou a construir sua primeira vitória numa aliança que começou em 1989. Consolidou seu nome, ampliou sua bancada e batalha no Legislativo e no Executivo por um Brasil igualitário, soberano e desenvolvido.



Nas eleições do ano passado o PCdoB elegeu 13 deputados federais e, depois de 60 anos, um senador, sendo o quinto partido mais votado na eleição para o Senado, com 7,5% do votos.



Mas o Partido não se limita à atuação Parlamentar. Cresce nossa influência no movimento social e popular. Somos hoje uma força considerável no movimento sindical, temos uma juventude forte e vibrante, e ampliamos cada vez mais nossa influência entre a intelectualidade progressista.



Ao comemorar os 85 anos do PCdoB, quero não só fazer o elogio do passado, mas expressar a confiança no futuro. Como disse o saudoso camarada João Amazonas: “Havemos de vencer, venceremos”!



Desde o dia 29 de Março estou inscrito no grande expediente para fazer essa homenagem, o que não foi possível, pois as sessões, infelizmente não têm ocorrido, mas mesmo com atraso, não poderia deixar de homenagear o meu Partido, cuja história honra a democracia brasileira.