PCdoB debate rumos da CSC e questiona relação com a CUT
Por André Cintra
Para atualizar a tática político-sindical do PCdoB e o papel da CSC, 60 sindicalistas se reuniram nos dias 17 e 18 deste mês, em São Paulo (SP), em encontro de caráter consultivo, convocado pela Comissão Sindical do p
Publicado 20/04/2007 17:36
São características que dificultam o avanço da luta dos trabalhadores, do sindicalismo classista e também dos comunistas. Definir a nova tática do PCdoB na área exige, pois, reavaliar a relação entre Corrente Sindical Classista e Central Única dos Trabalhadores.
Esse debate passa pelo documento ''Tática mais afirmativa e audaciosa do Partido'', aprovado em março, na última reunião do Comitê Central do PCdoB. Conforme o texto, os comunistas devem ''preparar as condições para elevação da atividade'' da CSC, de modo a situá-la num ''mais avançado patamar de luta sindical''.
Contexto para mudanças existe. A eleição e a consolidação de governos progressistas trazem nova realidade política na América Latina. Abre-se mais espaço para a luta por um projeto nacional de desenvolvimento, com valorização do trabalho, soberania nacional e perspectiva socialista. No Brasil, essa trajetória foi revigorada no ano passado, com a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tendências do sindicalismo
As mudanças, porém, não devem depender apenas de iniciativas de governo ou políticas de Estado. ''É hora de conquistar um protagonismo maior para os movimentos sociais, com vista a uma transformação social e política mais profunda'', afirmou no encontro João Batista Lemos, secretário sindical do partido e coordenador nacional da CSC. ''O fortalecimento do sindicalismo classista é fundamental.''
O movimento sindical também se encontra em fase de transição. Nos últimos 15 anos prevaleceu a polaridade CUT-Força Sindical. O que ocorre hoje são movimentações de várias ordens. Sindicalistas do PSTU e do PSOL deixaram a CUT para criar, respectivamente, a Conlutas e a Intersindical. Três outras centrais – CGT, CAT e SDS – devem se fundir na nova União Geral dos Trabalhadores (UGT).
Para Wagner Gomes, vice-presidente da CUT e membro do Comitê Central do PCdoB, ''a luta pela unidade passa hoje pela perspectiva de uma reforma sindical e pela coordenação das centrais numa agenda comum de ações''. É o que dá força à mobilização conjunta em torno de bandeiras como a marcha do salário mínimo, a jornada de lutas por valorização do trabalho com distribuição de renda, além da atual batalha contra a Emenda 3.
A CUT em crise
A CSC, fundada em 1988, cresce no sindicalismo brasileiro e já representa 20% da CUT, à qual se filiou em 1991. Mas as dificuldades e as divergências em relação à central são cada vez mais graves. No encontro do PCdoB, secretários sindicais e lideranças classistas concordaram que a central está enfraquecida como instrumento dos trabalhadores.
As concepções ideológicas se subverteram. A CUT não tem mais o socialismo como horizonte, mantendo-se tímida – quando não omissa – na luta antiimperialista. Em vez do sindicalismo classista, da luta e da unidade dos trabalhadores, aposta no ''sindicalismo cidadão e nas negociações tripartites (entre capital, trabalho e governo).
Do ponto de vista organizativo, as marcas de deterioração são igualmente visíveis. É positiva a presença de sindicalistas na Presidência da República e no Ministério do Trabalho. Por outro lado, ao subordinar a CUT ao PT, a cultura hegemonista impediu a democracia interna, o pluralismo e a tomada coletiva de decisões na central. Não há mais transparência em várias instâncias, como a Secretaria de Finanças.
Fraudes e manobras em pleitos sindicais se tornaram comuns – o que restringe o alcance do sindicalismo classista. As forças minoritárias, representadas por CSC, sindicalistas do PSB e a esquerda do PT, ficam praticamente à mercê das decisões da cúpula petista. ''A CSC se encontra subvalorizada e represada no interior da central'', atesta Batista.
Perspectivas
Atualmente, o sindicalismo defendido pelos comunistas precisa de mais espaço político na maior central sindical do Brasil. ''Uma nova perspectiva na CUT demanda uma profunda democratização interna, com nova repactuação política e programática, de forças e de espaços de poder'', afirma Batista. ''Essas condições vão permitir maior visibilidade e capacidade de intervenção da CSC na luta geral dos trabalhadores.''
Se a CUT, porém, não caminhar em tal direção, os comunistas poderão buscar alternativas para um movimento sindical de alianças amplas e flexíveis. Uma das hipóteses em estudo é a criação de uma central de feições classistas, pautada pelo sindicalismo combativo, com uma concepção democrática, unitária e plural.