Coutinho quer BNDES “sonhador”, “ambicioso” e engajado no PAC

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), “sem medir esforços”, dará “todo apoio que se fizer necessário” ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e às 11 salas de situação da Casa Civil que acompanham sua execução, disse nesta

Em seu discurso de dez páginas, Coutinho defendeu projetos a “longo prazo e buscando agregar as forças do setor privado, do mercado de capitais e do setor público numa direção organizada”. Ele também revelou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o desafiou a fazer com que o Banco chegue mais próximo das médias, pequenas e microempresas.



Citação de Celso Furtado



“Não é demais sublinhar que a execução do PAC é condição imprescindível para crescer”, afirma o discurso de posse. “Em prol do aumento dos gastos de investimento socialmente eficientes previstos no PAC, será preciso disciplinar os gastos ineficientes, cortar desperdícios e superposições, evitar o acúmulo irrefletido de obrigações perdulárias que se projetem para o futuro”, afirmou.



Coutinho reforçou o engajamento de sua gestão com uma citação do desenvolvimentista Celso Furtado (1920-2004), que presidiu o Banco nos seus primórdios, ainda como BNDE, durante o governo Juscelino. Coutinho pregou um desenvolvimento que signifique “a retomada da ´construção interrompida` de uma nação soberana, próspera, mais fraterna e menos desigual com os seus filhos”.
O novo presidente do BNDES fez o elogio do investimento, afirmando que  “o esforço maior” do Banco visará o seu aumento persistente. “Investimento é o portador do futuro. É através do investimento em inovação que se cria a capacidade produtiva, que se previne a formação de gargalos e de pressões inflacionárias e se assegura a criação de emprego e de empreendimentos ”, avaliou.



Compromissos sociais e ambientais



Uma das preocupações do discurso atendeu ao reclamo dos exportadores de bens manufaturados, hoje comprimidos pela taxa cambial desfavorável. Ele também defendeu que se melhore a qualidade do esforço fiscal, abrindo espaço para uma racionalização e suavização da carga tributária. Coutinho espera que as condições macroeconômicas “sejam cada vez mais benignas em matéria de taxas de juros e de taxa de câmbio”.



Fora da área estritamente econômica, Luciano Coutinho advogou  um desenvolvimento “social e ambientalmente responsável e regenerador das inaceitáveis mutilações do nosso patrimônio natural”. Deseja que este  “sinalize um horizonte promissor para a nossa juventude”, seja  “culturalmente afirmativo e estimulador da extraordinária criatividade do povo brasileiro”. Defendeu, ainda, que seja ambientalmente auto-sustentado e chegou a pregar um “cordão de proteção” que preserve a Amazônia da ocupação predatória.



Nos comentários, uma unanimidade



O novo presidente do BNDES, vindo do pensamento acadêmico da Unicamp e da corrente desenvolvimentista (em oposição aos ortodoxos do monetarismo neoliberal), assume como unanimidade nacional. Embora sua confirmação no Senado tenha registrado três votos contrários, a mídia e os comentaristas foram só elogios à escolha. No chamado capital produtivo, particularmente industrial, sua posse desperta a esperança de uma política incisiva de reconstrução do setor.



A Agência Estado fez um resumo do discurso de posse, em 12 tópicos, que expressa a expectativa favorável:



Política industrial
Redesenho e ampliação do escopo da política industrial para encorpar as iniciativas e acelerar projetos.



PAC e infra-estrutura
Acelerar Investimentos em infra-estruturura. O BNDES dará suporte à coordenação entre empreendedores, banco e mercado de capitais na estruturação de financiamento adequado, principalmente aos projetos de maior porte.



Indústria da transformação
Precisa voltar a funcionar como motor propulsor da economia brasileira. A indústria precisará acelerar processos de inovação, em novos produtos, processos, produtividade, além de gestão e governança.



Foco setorial
Continuar apoiando setores como mineração, siderurgia, metalurgia de não-ferrosos, celulose, papel e petroquímica. Mas com foco em tecnologias de informação e comunicações, setores nos quais o Brasil “marcou passo”.



Escala no continente
Projetos que tirem proveito da escala do mercado brasileiro e da América do Sul para empreendimentos em equipamentos de telecomunicações, digitalização da TV, informática, componentes microeletrônicos e outros.



Farmoquímica
Estratégia de desenvolvimento mais “consistente e ambiciosa”, com fortalecimento das empresas nacionais e estímulo aos investidores estrangeiros.



Complexo automotivo
A cadeia do setor no Brasil tem chance de se consolidar nos próximos anos como uma das sete ou oito cadeias globais de produção.



Câmbio
Por conta de problemas gerados pelo câmbio valorizado, o BNDES recebeu a missão de apoiar setores intensivos em trabalho, principalmente pequenas e médias empresas, de setores mais prejudicados pela valorização cambial. Exemplos desses setores são cadeias de calçados, vestuário, mobiliário, artigos de plástico e outros pequenos artefatos.



Descentralização de investimentos
O desenvolvimento industrial deve contemplar a descentralização dos empreendimentos de grande porte, com papel “pró-ativo” do BNDES em relação ao Nordeste, Norte e Centro-Oeste.



Construção civil
Trabalhar em parceria com o Ministério das Cidades, a Caixa Econômica Federal e setor privado para expandir financiamento à habitação.



Petróleo e gás
Sem esquecer os atores privados, o banco vai trabalhar “em cooperação direta e intensa com a Petrobrás”. O setor é prioritário para o desenvolvimento industrial e suprimento de energia.



Taxa de investimento
“Sem a elevação continuada dos investimentos, não há como sustentar o desenvolvimento. (…) O esforço maior do BNDES estará na concentrado na consecução desse objetivo, com a indispensável contribuição do setor privado”.



Cinco ministros e 4 governadores na posse



O BNDES que Coutinho assume adquiriu musculatura para um papel deste porte. Conforme a prestação de contas apresentada por seu antecessor, Demian Fiocca, nos últimos 12 meses, enquanto o investimento no país cresceu a um ritmo nominal de 10% a 15%, os desembolsos do banco cresceram 28% e o volume de financiamentos aprovados aumentou 49%.



O auditório do órgão no Rio de Janeiro estava lotado de empresários, autoridades e membros do corpo técnico do BNDES. Participaram da cerimônia os ministros da Saúde, José Gomes Temporão; da Cultura, Gilberto Gil; do Trabalho e Emprego,  Carlos Lupi; das Cidades, Márcio Fortes; e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. Também estavam presentes quatro governadores: Luiz Henrique (SC), Sérgio Cabral (RJ) Eduardo Campos (PE) e Ana Júlia Carepa (PA), além do vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman. 



Da redação, com agências