Liderança da CUT-RS desbanca ato pró-celulose da F.Sindical

Leia artigo de Regina Abrahão, diretora do Semapi (RS) e secretária de Políticas Sociais da CUT gaúcha sobre ato realizado nesta quinta-feira (17), em Porto Alegre, pela Força Sindical em defesa da liberação do plantio de eucaliptos no estado. No seu arti

Pinus, eucaliptos e poucas verdades


 


Regina Abrahão*
 


Na manhã desta quinta-feira, dia 17 de maio, enquanto na Alergs (Assembléia Legislativa do RS) trabalhadores, centrais sindicais e parlamentares discutiam o piso salarial do estado, preocupados com a distribuição de renda e o reaquecimento da economia gaúcha, cerca de dois mil manifestantes, chamados pela Força Sindical, Famurs e alguns sindicatos patronais (1) ocupavam a Praça da Matriz pedindo ao governo a imediata liberação do plantio de eucaliptos no estado.


 


No panfleto apócrifo distribuido no ato, um ''quem somos'' indicava a participação de ''trabalhadores, empreendedores, políticos municipais… na defesa de uma política pública imediata para o setor florestal.'' Os números apontados no texto contrariam quase todos os estudos feitos até o momento, como cerca de 130 mil empregos imediatos resultantes do plantio das espécies exóticas, renda de 1.000,00 reais por hectare/ano por área plantada e até mesmo a nada científica observação de que o plantio de eucaliptos combateria o aquecimento global!


 


Aparte os dados irreais e erros ortográficos do panfleto sem assinatura, os discursos ouvidos no ato não deixaram dúvidas quanto ao objetivo e procedências.  Lideranças ligadas à Força Sindical faziam defesa ardorosa das empresas Votorantin e Aracaruz Celulose.  Exigiam do governo do estado o início imediato da plantação das espécies exóticas como forma de garantir o desenvolvimento econômico da metade sul do RS.


 


Além disto, sindicalistas das três categorias presentes (vigilantes, comerciários e da construção civil), desconhecendo a legislação ambiental gaúcha diziam não aceitar que a Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) emita laudos delimitando áreas para plantio ou não de espécies exóticas. Segundo eles, o reflorestamento proposto pelas empresas respeita as leis ambientas e planos de manejo, Negam também a existência ou  possibilidade de surgimento  de desertos verdes na região sul do estado. E concluem que o desenvolvimento econômico resultante é fator decisivo para a implantação da monocultura que eles chamam de reflorestamento.


 


Porém, segundo a ambientalista Carla Vilanova, do grupo Amigos da Terra, a monocultura, além dos estragos ambientais irrecuperáveis, não traz desenvolvimento. Justamente os dois municípios da metade sul onde existem, atualmente,  duas das maiores áreas plantadas com árvores exóticas da região, são os municípios onde a população rural possui as menores rendas mensais. De acordo com o IBGE, em Pinheiro Machado, e Piratini, municípios com os maiores índices de plantações de árvores exóticas no estado (pinus e eucalipto), a renda mensal das pessoas situadas no meio rural é de, respectivamente, 369,58 e 381, 55, contra a média de 414, 32, em 15 municípios da região.


 


Ainda segundo Carla, o reflorestamento pode ter efeitos perversos na luta contra o
aquecimento climático. . Num estudo que está para ser publicado pelo Journal of Geophysical Research (Jornal da Pesquisa Geofísica), Esteban Jobbagy (da universidade de San Luis, Argentina) e Robert Jackson (da universidade Duke, Estados Unidos) mostram que essas plantações perturbam o ciclo hidrológico e a composição dos solos dos locais onde elas são efetuadas. Sem contar com o consumo de água, já que, selecionadas por causa do seu crescimento rápido, as árvores plantadas são muito exigentes em água, que elas vão buscar por meio das suas raízes mais profundamente do que as ervas diversas que elas vêm a substituir. Além disso, a interceptação da água pelo sobrecéu da floresta, em contato direto com o ar-livre, e a sua evaporação rápida impedem cerca de 20% das precipitações de alcançarem o solo.


 


A súbita simpatia de empresários, políticos e trabalhadores e a  adesão destes grupos à idéia do florestamento pró-celulose, porém, desconsidera o que grupos ambientalistas, trabalhadores rurais estudiosos e  profissionais da área já demonstraram: que o lucro da produção da celulose para as empresas é diretamente proporcional à poluição gerada, ao empobrecimento do solo, e à pauperização do trabalhador rural. Que após exaurir o solo de seus recursos hídricos e minerais, dizimar a frágil biodiversidade do pampa, desconfigurar o horizonte da metade sul do RS, a celulose transformada, clorada e purificada irá acrescentar mais-valia ao salário do trabalhador europeu ou estadunidense, uma vez que o produto final será para exportação.


 


Ao agricultor, expulso da terra pela monocultura, enganado e empobrecido restarão as favelas das cidades e a lembrança do tempo em que seu horizonte era o verde pampa gaúcho.


 


* Diretora do Semapi (RS) e secretária de Políticas Sociais CUT-RS



 


(1)  Entidades que assinam nota nos jornais:
Federação das Associações dos Municípios do RS
Força Sindical e Sindicatos filiados
Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil
Sindicato das Indústrias de Extração de Madeira e Lenha
Sindicato do Comércio Varejista de Guaíba
Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços da Área Florestal de Guaíba
Sindimadeira
Associação Comercial Industrial e de Serviços de Guaíba