Lula usa Exército contra manifestantes em Tucuruí
Em um grave precedente, tropas do Exército ocuparam na manhã desta quinta-feira (24) a hidrelétrica de Tucuruí, no sul Pará, palco de um protesto de trabalhadores rurais, desalojados pela represa 23 anos atrás, sem indenização. Os 600 militares foram envi
Publicado 24/05/2007 11:36
O protesto camponês começou na manhã de quarta-feira, com participação de 600 famílias. Entre os organizadores, o Movimento dos Atingidos por Barragem, MST e Via Campesina ocuparam as instalações da segunda maior hidrelétrica do país. A mobilização fez parte do Dia de Luta Unificada por Nenhum Direito a Menos, que ocorreu em todo o país.
23 anos sem indenização
Em Tucuruí, o movimento levantou as reivindicações dos lavradores expulsos da terra pela construção da usina, ainda sob a ditadura militar. A represa de Tucuruí, concluída em 1984, expulsou cerca de 32 mil pessoas e muitas delas até hoje não foram indenizadas. Além da indenização, os atingidos reivindicam as pautas da campanha da energia (como 100 kw grátis para a população) e um projeto de desenvolvimento para as comunidades atingidas (eletrificação, asfaltamento, educação).
Já na quarta-feira, a tomada simbólica da hidrelétrica enfrentou repressão: a polícia disparou balas de borracha contra os manifestantes, deixando feridos, pelo menos um deles hospitalizado. Mesmo assim os atingidos conseguiram entrar e ocuparam três salas do centro de comando da barragem. O tráfego de veículos na rodovia PA-263 chegou a ser interrompido.
A usina continuou funcionando. A Eletronorte – empresa que controla a hidrelétrica – informou na noite de quarta-feira que não houve qualquer prejuízo na produção nem na transmissão de energia. No mesmo dia a empresa iniciou a negociação das reivindicações do movimento.
Uma tradição que parecia encerrada
Com a abertura das conversações, e uma determinação da Justiça de reintegração de posse, a maior parte dos manifestantes deixou as instalações da usina. No entanto, cerca de 200 deles permaneciam no local nas primeiras horas de quinta-feira.
O Exército está reunido com os trabalhadores e suas entidades, para negociar a retirada pacífica. O uso da força militar contra manifestantes, porém, é visto por observadores como um precedente grave e desnecessário. O governo Lula ainda não tinha recorrido a ele, quebrando uma tradição de governos anteriores – a exemplo da ocupação das refinarias pelo Exército durante a greve petroleira de 1995.
Da redação, com agências