Profeta de chuvas volta a estudar aos 80 anos

Cassimiro estuda com donas-de-casa e trabalhadores rurais, acima de 15 anos, que não se alfabetizaram

Crato. O bate-papo descontraído nos terreiros foram substituídos por aulas de alfabetização. Mãos calejadas pelo cabo da enxada estão sendo ocupadas por lápis e caderno. Depois de um trabalho árduo na cozinha e no tanque de lavar roupas, donas-de-casa tomam o caminho da escola. Aos 80 anos, o profeta de chuvas João Ribeiro da Silva, conhecido por “João Cassimiro”, residente no Sítio Romoaldo, no Crato resolver voltar à sala de aula.


 


Cassimiro faz parte de um grupo de 27 estudantes, a maioria donas-de-casa e trabalhadores rurais acima de 15 anos que não tiveram condições de ser alfabetizados na idade escolar. Para o velho profeta, voltar à escola é a abertura de caminhos para um novo mundo que se descortina. “Todo dia, aprendo uma coisa diferente”, diz.


 


Poeta


 


Respeitado como poeta cordelista e profeta de chuvas, Cassimiro tem uma resposta na ponta da língua para quem se admira de seus conhecimentos. “Eu leio no livro da natureza, observando o comportamento dos animais e das plantas que também não sabem ler nem escrever”. Além disso, ele tem outro motivo para voltar aos bancos escolares. O professor, Francisco Maurício Ribeiro da Silva, é seu neto.


 


Aos 67 anos, o agricultor Vicente Martins de Lima, que nunca freqüentou uma escola, está enfrentando o desafio de aprender a ler e escrever. “Vou ser um trabalhador rural alfabetizado,” comemora.


 


No mesmo caminho está a dona-de-casa Francisca Maria dos Santos, apontada pelo professor como uma das alunas mais esforçadas. Francisco até já aprendeu a escrever o nome. “É uma vitória para quem passava pela humilhação de colocar as impressões digitais em documentos. Hoje eu sou uma cidadã”, afirma.


 


Projeto


 


Os 27 alunos do Sítio Romoaldo fazem parte do projeto Mova-Brasil, iniciado em 2003, a partir de uma parceria entre a Petrobras – por intermédio do “Programa Petrobras Fome Zero” -, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Instituto Paulo Freire, que dá consultoria na formação de orientadores e de monitores.


 


O objetivo é desenvolver um processo de alfabetização de jovens e adultos estimulando habilidades de escrita e leitura, além de uma visão crítica de sua realidade. O público-alvo do projeto são as pessoas a partir de 15 anos que não tiveram acesso à alfabetização em idade apropriada.


 


As aulas são ministradas por educadores da comunidade, que foram treinados e capacitados pelas equipes técnico-pedagógicas do Instituto Paulo Freire. As salas de aula estão montadas em espaços da própria comunidade como escolas, igrejas, associações, clubes, para grupos de 20 pessoas em média. No caso do grupo do Sítio Romoaldo, a escola funciona num prédio da Prefeitura da cidade do Crato. 


 


 


Fonte: DN