García Márquez faz viagem nostálgica à sua “Macondo” natal

Uma locomotiva amarela, movida a vapor, margeou extensos bananais até chegar, na última quarta-feira (30/5) a Aracataca, no Caribe colombiano, levando a bordo o Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, em uma viagem de retorno à sua “Macondo” natal.

“Bem-vindo ao mundo mágico de Macondo”, dizia um enorme cartaz com o qual o povoado, onde o famoso escritor nasceu há 80 anos, o homenageia e diz ao mundo que em suas ruas empoeiradas e castigadas pelo calor e pelo abandono estatal foram concebidas muitas páginas de Cem Anos de Solidão.



A locomotiva começou o trajeto no porto de Santa Marta (costa Caribe), com mais de uma hora de atraso, causado pela afluência de centenas de pessoas que queriam viajar com “Gabo”, como o escritor é carinhosamente chamado pelos colombianos.



O autor, que em março fez 80 anos, foi acompanhado no trajeto por um grupo de amigos, entre eles o presidente panamenho Martín Torrijos, o compositor Rafael Escalona, além de escritores e jornalistas com os quais trabalhou.



Retorno antes do prometido



García Márquez ria sozinho enquanto – através da janela do trem – via que à medida que a locomotiva avançava, milhares de borboletas amarelas saíam dos arbustos e das estações de cada povoado por onde passou pôde sentir o forte cheiro de goiaba, a fruta tropical da qual sempre disse sentir falta.



Embora os moradores critiquem García Márquez por não visitar Aracataca há mais de duas décadas, o médico Guillermo Valencia – contemporâneo do Nobel e um de seus amigos de infância no colégio Montessori de Aracataca – justificou esta ausência prolongada.



“Gabito sempre evitou voltar a seu povoado natal por medo. Embora não o diga publicamente, para ele retornar a lugares onde cresceu é como refazer seus passos, e isto o faz refletir sobre a proximidade da morte e o deprime”, afirmou.



Outro amigo de infância, Alfredo Correa García, lembra ter escutado Gabo contar, quando deu adeus ao povoado, ainda como aprendiz de escritor, que seus conterrâneos só voltariam a vê-lo em Aracataca “quando o estivessem velando”.



“O que mais gostamos desta viagem de retorno de García Márquez à sua região é a esperança que traz. A mensagem que Gabo quer passar é que o trem chega com coisas boas, é sua forma de colocar a literatura a serviço do bem-estar comum”, disse Carmen Rosa Saade.
 


Obra-prima



O Nobel colombiano (1982) foi homenageado em março pela Academia da Língua Espanhola como o escritor mais influente do mundo neste idioma.



“Eu me sinto muito bem. No fim das contas, estou cercado por meus amigos”, disse recentemente o escritor, ao se referir às homenagens programadas ao longo de 2007, quando se celebra os 25 anos de sua premiação com o Nobel e os 40 da publicação de sua obra-prima, Cem Anos de Solidão.



A edição comemorativa deste livro se tornou, desde março, a obra mais vendida em vários países latino-americanos, com vendas próximas ao milhão de exemplares.



Fonte: AFP