Crise aérea: gestão precisa ser participativa

Essa é a opinião de Moisés Almeida, vice-presidente da Federação Brasileira das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo (Febracta), que participou nesta manhã (4) do protesto silencioso que controlares de vôo fizeram na entrada da CPI da Crise Aérea

O ato, que aconteceu esta manhã, foi organizado pela Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA), com o apoio da Febracta, e contou com a participação de cerca de 25 controladores.


 


“Jomarcelo era o cara errado, no lugar errado, na hora errada”, disse Almeida que avalia que os controladores indiciados no processo – Lucivando Tibúrcio de Alencar, Felipe dos Santos Reis e Leandro José Santos Barros – são vítimas de um problema sistêmico do setor, que está engessado e hierarquizado há muitos anos.


 


Ele aponta como principais obstáculos erros na priorização de investimentos tecnológicos, deficiência na formação dos controlares e uma elevada sobrecarga na jornada de trabalho dos oficiais. “Que adianta ficar trocando tevê por tela plana, comprar equipamentos novos para uma área que não está relacionada com este problema?”, questiona. “E como que controlador não tem inglês? É um erro”.


 


Em 29 de setembro de 2006, depois de ter o transponder (equipamento que evita colisões entre aeronaves) desligado, o jato da Legacy pilotado pelos norte-americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino colidiu no ar com o Boing da Gol deixando 154 pessoas mortas. Os pilotos também foram indiciados pela Polícia Federal do Mato Grosso. Para Almeida, entretanto, responsabilizar os pilotos do Legacy será mais um paliativo. “Depois do dia 30 de março algumas coisas mudaram. Mas são apenas paliativos. É preciso abrir o sistema. Nós precisamos participar mais, não apenas de forma subordinada”, disse.


 


Privatização


 


A principal reivindicação da categoria é que seja repensado o controle absoluto, em todas etapas do sistema, por militares. “Não queremos privatização do setor. É importante permanecer na ossada do Estado. A solução é a maior inserção de técnicos nos processos, por questões de segurança”, avalia.


 


O dirigente da Febracta criticou a cobertura da imprensa, que tem tratado do tema, na sua opinião, de forma enviesada. “Não tem nada a ver com aumento de salários. Nem com privatização do setor. Para nós, inclusive, é bem mais interessante continuarmos com carreira pública, pelos benefícios e a estabilidade. Estamos falando aqui de segurança”, disse.


 


CPI


 


Para os controlares aéreos, as investigações da CPI não caminham para uma solução efetiva do problema. “Institucionalmente, acreditamos na ferramenta para propor uma solução. Ajuda a sensibilizar a sociedade sobre o problema. Mas muitos controlares não concordam”, disse.


 


A CPI teve acesso à transcrição da caixa-preta do Legacy, que reforça a culpa dos pilotos norte-americanos. Segundo o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), eles demonstram a intenção de desligar alguns equipamentos. A CPI pretende ouvir o depoimento dos dois e já enviou pedidos formais ao Ministério da Justiça e ao Itamaraty.


 



De Brasília,
Mônica Simioni