Freitas: gasoduto Coari-Manaus é uma obra estratégica

Ronald Freitas, advogado e secretário de relações institucionais do PCdoB, foi convidado pela Comissão de Desenvolvimento da Amazônia, a participar de uma visita às instalações da Petrobras, no município de Coari, às margens do Rio Urucu, em plena selv

 


 


A Comissão de Desenvolvimento da Amazônia, presidida pela deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), esteve em missão de controle e reconhecimento ao município de Coari, para a qual o senhor foi convidado. Qual a sua impressão do trabalho que vem sendo realizado pela Petrobras naquela região?


Ronald Freitas – Foi uma impressão extremamente positiva. Esta visita teve um significado importante do ponto de vista do conhecimento do trabalho que vem sendo realizado pela Petrobras na exploração e pesquisa de gás e óleo na região amazônica. Isso nos permitiu ter uma visão muito concreta de como este trabalho é feito, de uma forma cientificamente avançada, ambientalmente responsável, extremamente preocupada com os trabalhadores e técnicos que ali desenvolvem suas atividades.


 


A produção de gás e óleo na Amazônia é questionada por Organizações não-governamentais ecológicas. Qual é mesmo a questão que vocês verificaram?


Ronald Freitas – O que pudemos observar é que, trata-se de uma grande reserva ecológica brasileira. Pelas dimensões, qualquer alteração nesse bioma tem um impacto no mundo inteiro. Assim como também o deserto do Saara, as savanas, as estepes, também têm grande influência em todo o planeta. A questão da preservação da Amazônia é muito vinculada à sua utilização econômica. Ficamos convencidos, pelo trabalho desenvolvido pela Petrobras, ser absolutamente compatível extrair riquezas minerais propulsoras de progresso para aquela região e ao mesmo tempo preservar e manter o meio-ambiente. Esta foi uma das grandes lições que tiramos dessa viagem.


 


Existe um esforço estratégico por parte da Petrobras no sentido de se alterar a matriz energética na Amazônia, que atualmente é cara e poluente, para uma matriz mais barata e limpa?


Ronald Freitas – Sem dúvida, esta preocupação é real como nesta construção do gasoduto de Coari até a capital do Estado do Amazonas, Manaus, e num segundo ramal, de Coari até Porto Velho, em Rondônia. Estes dois gasodutos estarão materializando a substituição da geração de energia elétrica nestes dois Estados atualmente através do óleo diesel e do óleo combustível — por gás natural, que é uma fonte de energia limpa e muito mais barata.  E desta maneira também estará contribuindo para a preservação ambiental e para o desenvolvimento econômico da região. A substituição da matriz energética será uma verdadeira revolução para a Amazônia.


 


O PCdoB no Amazonas, de longa data, especialmente os deputados Eron Bezerra e Vanessa Grazziotin, levantaram a bandeira da construção do gasoduto Coari—Manaus. Este projeto foi contestado por setores privatistas e conservadores do Estado. Como foi possível levá-lo adiante?


Ronald Freitas – Os estudos de viabilidade econômica do gás natural da bacia do Urucu já tem duas décadas. Estes dois parlamentares do PCdoB citados, iniciaram um movimento com outros setores progressistas para a construção do oleoduto Coari-Manaus, como elemento central para a produção de energia para a região. Esta luta teve idas e vindas e o projeto foi muito contestado por ONGs ambientalistas e foi também ameaçado de não ficar sob responsabilidade do Estado brasileiro, na medida em que algumas forças políticas – no auge do processo de privatização da década de 90 — tentaram entregar a construção desta obra para empresas estrangeiras. Tudo isto fez parte de uma luta de resistência, que procurou garantir a realização do plano como uma tarefa a ser realizada pela Petrobras, e desta forma ficar sob controle do Estado brasileiro. Além disso esse movimento assegurou que a forma mais segura e econômica de levar este gás até a capital seria através de um gasoduto, contra o argumento de forças conservadoras que diziam ser este projeto um dano para o equilíbrio ecológico. Estivemos visitando o canteiro de obras e os locais onde está sendo construído o gasoduto e pudemos conferir que os cuidados ambientais que estão sendo tomados garantem que não haverá uma interferência indevida no equilíbrio da região. Inclusive porque depois de terminada a obra, a floresta será toda refeita, seja pelo processo natural de reposição, seja pelo replantio das árvores que foram eventualmente retiradas para a construção do gasoduto.


 


Recentemente o Brasil sofreu contratempos no fornecimento de gás por parte da Bolívia. De que maneira este projeto pode contribuir para assegurar a auto-suficiência da produção de gás?


Ronald Freitas – Esta obra joga um papel muito positivo. Por exemplo, para a região Norte do Brasil, especialmente para os Estados do Amazonas e de Rondônia, eles poderão se tornar autônomos em relação ao consumo de gás. Se considerarmos a possibilidade de construção de outros ramais do gasoduto para a região centro-oeste e também levando-se em conta a capacidade potencial de produção de gás da Bacia de Santos, poderemos chegar à auto-suficiência nacional na produção de gás. Trata-se portanto de uma obra de caráter estratégico, principalmente se observamos as instabilidades próprias da situação internacional.


 


E em relação à produção de petróleo, especificamente?


Ronald Freitas – A história da produção de petróleo na Amazônia é antiga. Na década de 50, veio à luz um famoso relatório de um geólogo norte-americano conhecido na época como Mr. Link, que afirmava que não existir petróleo na Amazônia. E se existisse não seria viável economicamente. Muito tempo se passou e a pesquisa na região foi completamente abandonada. O fato é que atualmente se produz petróleo e gás na Amazônia. Diga-se de passagem é um óleo de altíssima qualidade. É o chamado petróleo leve. Do mesmo poço pode sair água, petróleo e gás. Então estes produtos vão para o processamento, numa planta de separação, que retira a água, extremamente salgada. O poço também oferece o gás natural, que é desmembrado em gás GLP, conhecido como gás de cozinha, transportado em dutos até reservatório situado no Porto do Rio Solimões e de lá ele é transportado para toda a região Norte e Nordeste do Brasil. Já o petróleo é a menor parte da produção, enviado para a refinaria de Manaus e de lá colocado no mercado.


 


Qual o papel, neste projeto, do Instituto de Pesquisa da Amazônia – IPA – com sede em Manaus?


Ronald Freitas – Esse Instituto já tem longa tradição e é muito respeitado internacionalmente. É um centro de excelência científica e é hoje uma das instituições que mais conhece a Amazônia no Brasil. Pesquisa a região de forma multilateral, em todas as suas manifestações. Estabeleceu muitos convênios, tanto com universidades brasileiras como também com vários centros de pesquisas estrangeiros. A partir da construção do gasoduto Coari-Manaus e de suas preocupações ambientais, que foram estabelecidas em contrato antes da construção da obra, este instituto foi mobilizado para realizar inúmeras pesquisas de impacto ambiental da construção do gasoduto, em vários aspectos. Por exemplo, o IPA estudou qual a conseqüência da obra na água da região, com mais de trinta estações de monitoramento, com coletas regulares quatro vezes ao ano. E assim será possível controlar o impacto do gasoduto na qualidade da água dos rios. Outro projeto, chamado PIATAM, é dirigido pela Universidade Federal do Amazonas, que procura estudar todos os outros níveis de impacto ambiental além da água, pesquisando o comportamento desde a população ribeirinha, até a flora e fauna da floresta abrangida pelo projeto. Assim, estas duas importantes instituições científicas da própria região procuram esclarecer todos os aspectos envolvidos no estudo do impacto ambiental da construção deste estratégico projeto de produção de gás e de petróleo na Amazônia, de significado essencial para a soberania do país.