Patrícia Saboya admite estar pronta para as eleições de 2008

A senadora do PSB foi clara: está pronta para disputar a prefeitura de Fortaleza em 2008. Ela criticou a gestão da petista Luizianne Lins.

Patrícia Saboya admitiu ser adversária de Luizianne ano que vem, apontou aquilo que considera deficiências da gestão da petista em Fortaleza e defendeu o governo Cid Gomes, que lembrou estar apenas iniciando. A parlamentar deixou claro seu interesse em ser prefeita de Fortaleza e ressaltou que em 2000, quando perdeu as eleições para Juraci Magalhães (PMDB), não estava em seu melhor momento político e, agora, se diz muito mais preparada. Advertiu, porém, que uma possível candidatura dependeria ainda do seu partido, que é aliado da petista.


 



A mídia nacional tem batido forte no Congresso nacional nos últimos tempos. A que objetivam todas estas denúncias?



Nós estamos vivendo um momento muito difícil e muito contrangedor no Senado. Nós que sempre tivemos o Senado como uma instituição respeitada no País, vimos uma pesquisa dizendo que apenas 1% das pessoas acredita na seriedade do Congresso. Isso nos faz pensar sobre nosso papel, sobre nossa importância nesse cenário de crise política que envolve o presidente do Senado e outro senador. Eu não sou do Conselho de Ética mas é muito difícil conviver com tantos senadores. Cria um certo constrangimento na hora de julgar um colega. Eu me pergunto sobre o sentido do Conselho de Ética, pois se você julga e absolve o senador parece que há algum tipo de maracutaia para absolver ele e, se condena, parece ser um movimento político para tirar um senador. Não sei qual seria a melhor maneira na hora de julgar os nossos pares. O Conselho de Ética não tem regimento e estava sendo presidido por um suplente de senador, sem desmerecê-lo, que tem se esforçado muito. O que acontece é que o vice-presidente também é suplente, assim como o relator. Aquilo virou a cara do Senado e da pior forma possível foi conduzido. Primeiro buscando encerrar uma polêmica daquela natureza, daquela gravidade, envolvendo o presidente do Senado e colocando ali um relator que entregou um processo com menos de 24 horas e sem os membros do Conselho terem lido. Depois, colocando ali um outro relator da tropa alida de Renan que também pediu renúncia. Criou um constrangimento que gerou até a pressão das lideranças para o afastamento do senador Renan Calheiros. Eu sou a favor do que é correto. Eu acho que Renan está levando o Senado a uma crise que nada se justifica. Não é o apego ao poder. Ele errou ao sentar na cadeira de presidente para justificar um ato que tinha cometido e levou isso para o lado pessoal, como se o problema todo fosse porque tinha uma filha fora do casamento. Ele, então, levou toda a questão utilizando para isso a estrutura do Senado. Esse foi o primeiro erro e gerou vários outros. Ele que se defenda na tribuna, mas não na presidência, sangrando todo o Congresso. Agora, se fizer uma pesquisa dentro do Senado, talvez 70 ou 80% desejem que ele se afaste da presidência.


 


Disse que o assunto (Renan Calheiros) foi debatido e silenciado em uma espécie de solidariedade machista, uma vez que todos achavam que ele poderia ter um caso extra-conjugal. As senadoras não reagiram a isso?



Eu, pessoalmente, tenho dificuldade em fazer julgamento das pessoas. Nós mesmos não tivemos corajem de tocar neste ponto no Senado. A solidariedade masculina não era explícita. Mas sempre nos bastidores se ouvia os colegas dizendo: “mas ele vai ser cassado por ter tido um caso extra-conjugal?”. Isso ficou claro quando ele se referia à mãe da filha dele como “a gestante”, como se não tivesse nome. A senadora Marisa Serrano tem tido uma posição muito importante e criticou a exposição da filha do senador sem nenhuma forma de escrúpulos e a forma como se tratou a jornalista Monica Veloso, execrada pela sociedade. Eu comentava nos bastidores. Mas, agora, imagine, o senador não assumiu a paternidade, teve que fazer exame de DNA e hoje a criança é a vilã. Eu dou a mão a palmatória e talvez pudessemos ter entrado mais no debate sobre a situação machista que estava ali. Tanto é que quando o presidente começou a fazer ameaça dizendo de namoradas de outros senadores, já mudou de pauta bem rápido.


 


E o partido? Como está a relação com o PMDB?



O nosso líder, Renato Casagrande (PSB), foi escolhido como um dos relatores. Somos apenas três senadores e temos nos reunido e ele tem sempre colocado a sua posição. Ele tem acompanhado todos os fatos e a sua posição é de investigar, de ir fundo, pelo papel de seriedade.


 


Entre 2003 e 2004 a senhora presidiu a CPMI contra a exploração sexual infantil. Eu queria saber como foi a orientação da CPMI em relação aos casos de pedofilia na internet.



Na internet temos uma legislação muito frágil. Ainda é uma coisa muito recente no mundo. Faltam regulamentações que são importantes. Na época da CPMI quando ouvimos da própria Polícia Federal os casos de pedofilia na internet, quando vi cenas de crianças sendo abusadas, estrupadas em fotogrfias na internet, a PF não tinha como quebrar o sigilo telemático dos provedores. Através do nosso trabalho é que conseguimos quebrar este sigilo, pois há uma resistência enorme dos servidores em guardar estes dados. Recomendamos também que os provedores devem ficar dois anos com estes arquivos. Mesmo quando essa quebra é feita pela justiça, isso demora uma eternidade. O senador Eduardo Azeredo é quem tem procurado propôr uma nova legislação. Qualquer pessoa agora que portar estes documentos também pode se punida.


 


Vocês senadores estão encaminhando idéias para o senador Eduardo Azeredo? E o acesso aos processos?



Essa proposta do senador Eduardo Azeredo, a primeiro momento, parecia que estava querendo meio que as pessoas perdessem a sua privacidade com uma espécie de identificador. O processo foi debatido e modificado e é um início, para regulamentar um pouco a Internet. Quanto ao acesso aos processos, nós temos dificuldades. Fizemos um dossiê que era resultado da nossa CPMI e pedimos estudos sobre alguns casos considerados emblemáticos para serem investigados pela Polícia. Dos 80 casos encaminhados, em apenas 15 tivemos acessos a documentos. Há uma falta de compromisso tão grande que não conseguimos dados dos Tribunais de Justiça, dos Ministérios Públicos e das polícias estaduais. Há falta de dados concretos para se abrir um processo e não temos esses dados. A partir desse momento a vítima acaba sendo vítima mais uma vez. A criança passa a ser a principal fonte da polícia e tem que contar diversas vezes seus traumas. São crianças maltratadas, abusadas e estupradas e, quando voltam para escola, estão “carimbadas”. Não se tem cuidado na hora de ouvir estas crianças. É falta de prioridade. Acabou a CPMI e ficaram projetos dois anos e meio paralisados na Câmara dos Deputados. Há uma certa conivência do parlamento em não querer avançar nesta legislação. Alguns juízes acham que crianças de 12 anos, por terem corpo formado, seduzem os adultos e não são seduzidas. Me dói o coração quando chego no Ceará, em Fortaleza, e vejo só aumentar essas meninas vendendo corpos para adultos estrangeiros, pois sabemos quem são, o nome, as famílias, onde estão.


 


A senhora já se reuniu com o governador Cid Gomes (PSB) e com a prefeita Luizianne Lins (PT) para resolver esta questão? O que falta para isso?



Enquanto não houver uma decisão política de que não queremos este tipo de turismo no nosso Estado, vamos continuar sempre reféns dessa questão, de que não podemos perder turistas e dinheiro. Acho que já evoluímos muito. Há uma dificuldade, por que as meninas não vão sair da beira-mar para fazer artesanato ou pintar unha de madame. Elas querem uma oportunidade na vida. O que faça uma menina a voltar para uma escola integral, de qualidade. Enquanto não tivermos essa determinação de governo, nós vamos ter sempre denúncias de exploração. A política tem que ser direta, que enfrente a situação. Eu estive muito tempo sentada com Cid para tratar deste assunto. Ele também recebeu o Fórum DCA e assinou o compromisso com todos nós para o funcionamento da delegacia da Criança e do Adolescente 24 horas por dia e se comprometeu com um concurso para destinar mais delegadas para esta delegacia. Tenho uma lei minha aprovada que determina que na propaganda do Estado tenha sempre uma referência sobre os direitos da criança. O ECA é uma lei moderna e vai completar maioridade sem nunca ter sido colocado em prática. O Cid se comprometeu. A prefeita Luizianne Lins, há mais de um ano eu trabalhei com a Glória Diógenes para receber um recurso para o enfrentamento da violência sexual. Anunciaram que ia ser feita uma pesquisa e eu falei que já sabia quem eram, de onde vem e para onde vão. É preciso políticas para que as meninas não vão para lá, e não de pesquisas.


 


Muitos ouvintes questionam sobre a maioridade penal. A senhora acha que deve ser diminuída para 16 anos?



Essa tem sido uma luta muito forte minha, porque estou convencida de que não vamos resolver a insegurança mandando meninos mais cedo para a cadeia. Não sou favorável de forma alguma de passar a mão na cabeça de quem quer que seja. Mas não sou favoravel àqueles que politicamente, para se sairem bem, começam a iludir a população de que a redução da idade penal vai ser a saida dos nosso problemas, pois os meninos são os principais algozes. A gente levanta as estatísticas e há um século não aumenta a taxa de jovens envolvidos em crimes. Enquanto em outros países a taxa é de 11%, no Brasil não passa de 10% há um século, sendo que, destes, um índice de apenas 1% está envolvido em crimes com morte. Mas ninguém se lembra que 16 jovens são mortos todos os dias no nosso País. De meninos que são mortos e não sabemos nem onde foram enterrados. É preciso dar uma resposta à sociedade, à mãe do João Hélio etc, mas, no Brasil, se quer legislar pela exceção e não pela regra. Vamos punir e aplicar o ECA para estes jovens. Se o juíz achar por bem o adolescente fica três anos recluso, mais três anos em regime semi-aberto e mais três anos em liberdade assistida. O problema é que junta quem rouba uma carteira com quem mata uma criança. 16 anos é um critério político. 18 anos é um critério psicológico, biológico.


 


A senhora vai ser candidata à prefeitura de Fortaleza? Qual sua vontade hoje?



Fui candidata à prefeitura de Fortaleza, tive uma votação muito expressiva como vereadorea e deputada, mas tive uma derrota na candidatura à prefeitura. Foi um momento muito dificil na minha vida aquele ano em que fui candidata. Foi um ano pessoalmente difícil. Estava machucada, com problemas difíceis, dentro da minha família, da minha casa. Acho que a população percebeu que aquele não era o meu melhor momento, que, realmente, eu estava um pouco insegura. Porém, dois anos depois a população me elegeu senadora. Não vou negar que Fortaleza seja um grande sonho da minha vida. É a cidade que espero um dia poder governar. Mas não sou aventureira e sair dizendo por aí que sou candidata, que não interessa partido etc. Tenho um mandato de senadora, tenho muita coisa para cumprir no Senado. Estou sempre aliada à prefeita no que for preciso para a nossa cidade. Tenho algumas divergências com ela na condução política da sua administração, mas acho que antecipar o assunto de candidaturas atrapalha a administração da Luizianne, porque leva a agenda da cidade para uma reeleição e não para a sua administração. Agora, é diferente, por que eu estava muito frágil e agora estou muito mais madura para o embate desse jogo.


 


A senhora agora entregou todo o jogo. Não tem mais problemas pessoais, não tem mais desculpas de achar que naquele tempo não estava no seu melhor momento. É candidata, não quer ofender a Luizianne. E se você for candidata, quais os pontos nevrálgicos desta cidade?



Tenho o desejo de ser candidata, mas não depende só de mim. Meu partido (PSB) tem uma aliança com a prefeita Luizianne Lins. Acho até que ela tem deixado de fazer algumas coisas importantes pera a nossa cidade. Tenho andado nos bairros de Fortaleza e escuto queixas ligadas à saude, o problema da greve dos professores e a questão da convivência nos bairros, desde limpeza até atração de novas empresas. Sempre achei que Fortaleza nunca se preocupou em gerar condições de atrair empresas. Eu tenho essa vontade, de ser prefeita, mas não posso dizer por que dependo de um partido. Tenho um respeito pela Luizianne mas não seria uma candidatura dela que inviabilizaria a minha, não é assim que eu penso. Estou muito mais fortalecida agora.


 


Com a saída de Artur Bruno (PT) do governo do Estado e os boatos de que mais dois petistas poderiam deixar a administração, a aliança entre PSB e PT tem data marcada para acabar?



Eu acho que não. Eu acho que existem divergências. Não sei a razão da saída do Bruno, que também me pegou de surpresa. Os jornais tratam como se tivessem questões políticas. Conversei com ele esse tempo todo e sempre mostrou entusiasmo na secretaria. O PT tem o vice governador, que é uma pessoa que respeito, uma pessoa boa. O PT tem muita representação. A não ser que o PT só tenha esse tipo de interesse: em ocupar cargos de poder e não trabalhar como um todo. Aliança, para mim, é isso, não significa só que tenho que ter uma pessoa nomeada por mim no cargo A B ou C. Tem que fazer política. Se o PT pensa assim é muito grave.


 


A senhora acha que o Bruno possa ter saído por questões ligadas ao aumento do funcionalismo, que foi de 3,5%?



Eu acho que em alianças tem que ter sacrifícios. Nao posso imaginar que o Bruno tenha saído por questões salariais. Ele é uma pessoa muito mais voltada para o legislativo e talvez tenha sentido falta disso. Na secretaria de Ação Social é um outro tipo de trabalho. Eu passei alguns anos como deputada estadual apoiando o governador Tasso, mas tive muitas divergências. Acho que se fosse esse o motivo eu não acho motivo que demonstre grandeza. Esse perfil de legislador, de tribuna, é mais o perfil do Bruno.


 


A senhora fala que Bruno tem um perfil de Legislador, assim como a prefeita Luizianne Lins. E a senhora, tem perfil de gestão?



Eu acho que essa decisão é a população que vai poder dar. É preciso levar em conta a experiência que a gente tem e os conhecimentos. Ter sido vereadora foi importante e naquela época eu conheci tudo da cidade, procurei me envolver em tudo. Na Câmara é onde palpita o coração da cidade. As pessoas vão até a Câmara, ao contrário da Assembléia Legislativa. Como deputada também atuei nestas questões e, agora como senadora, me deu mais conhecimento, mais maturidade, conhecer não só as questõs de Fortaleza, mas do Estado, de desenvolvimento, buscar recursos, o que é feito no Senado, e como isso repercute na nossa vida, na vinda de uma siderurgica.


 


A senhora também foi primeira dama do municipio e do Estado e fez um trabalho admirável na área social.



Eu fico receosa de falar sobre isso, porque eu não tinha mandato. É claro que o Ciro me deu autonomia para trabalhar e pude fazer muita coisa. Foi uma experiência administrativa que foi uma das coisas mais importantes, até, do governo Ciro.


 


A senhora apontou defeitos na Luizianne. E no governo de Cid?



Acho que está muito no inicio. O estilo do Cid é diferente da Luizianne. Eu acompanhei a gestão dele em Sobral. Ele tem esse estilo calado, parece até meio frio, e de repente, ele sempre faz o discurso: “vocês sabem como é? Eu estou arrumando a casa, estou guardando um dinheirinho e em breve os investimentos vão acontecer e vamos priorizar”. Então esse é o estilo de governar do Cid e o tempo, agora, é de menos de 7 meses. É preciso no mínimo um ano para se avaliar se está sendo bom ou ruim, já que está organizando a sua casa. Eu tenho certeza que, pelo seu estilo, vai dar um show aqui na administração do Estado.


 


A senhora tocou no ponto siderúrgica. A senhora foi uma das primeiras a dizer que sairia da base do presidente Lula se a siderúrgica não vier para o Ceará. A senhora acha que está faltando mão firme do presidente Lula?



Acho. Acho que, apesar do presidente Lula ter avisado que a siderúrgica vem para o Estado no fim deste mês ou começo do mês que vem, acho que nós cearenes deveríamos ter sido tratrados de outra forma. Ele teve a sua terceira maior votação aqui. Ele viu e não é por que é presidente que não sabe das coisas, e viu como o Gabrielli (presidente da Pedtobrás) tem tratado o povo do Ceará. Preconceito contra o nordeste claro e submetido a um lobby do aço. Isso está claro. Ele tem feito o que pode e o que não pode para atrapalhar a vinda da siderúrgica para o Ceará. Mas, como o presidente já se comprometeu, poderia ter batido a mão na mesa e mandado fazer. Nós temos que reivindicar e o presidente tem que dar a autorização. Acredito que a siderurgica virá, confio na palavra dele, mas sofremos muito nessa questão. Sempre achei que no final das contas ele traria. Seria um desgaste, romper com lideranças importantes de vários partidos.


 


Foram duas afirmações muito fortes da senhora: Essa em relação à siderúrgica e a questão do referendo provocado pela prefeita. Por conta disso permanece aquela idéia de que é aliada do Tasso e vice-versa. Isso é verdade?



Essa crítica que eu fiz ao governo Lula – ele até brincou com os empresários da Fiec que não aguentava mais essa senadora fazendo barulho – não é só pela questão da siderúrgica. Eu esperava muito mais, o PT imaginou que poderia dar muito mais. O presidente parece não saber de nada de negativo que acontece no seu governo. E as coisas positivas são muito positivas demais. O presidente meio que se acomoda nessa popularidade dele, que é impressionante mesmo. Ele é uma pessoa sedutora, entende a questão da pobreza. Mas aquilo que ele diz para acontecer, é uma distância muito grande. Essa é a minha critica a ele. O referendo eu sou contra. Primeiro por que a prefeita Luizianne está dando um atestado de incompetência da sua própria administração, no momento que dá um atestado que pode construir um prédio ali. Nem discuto o mérito, se deve ser ali ou mais para trás ou para frente. Acho que a discussão é se o referendo deve ser utilizado para este tipo de coisa ou se é um mecanismo importante para a população de uma cidade pobre como é a nossa e que vai pagar por um referendo. E se toda vez que fizermos uma torre ou um prédio e, depois de algum tempo, a autoridade local não gosta e manda fazer um referendo? Me pareceu, apesar da juventude, de ser uma pessoa de esquerda, uma coisa de perseguição política. De não gostar de achar que o Tasso foi o responsável pela questão do réveillon e que teria que ter alguma forma de provocá-lo. E, é claro, que provocou para o empresário e para o senador Tasso. Pessoas do sindicato da construção civil estão apavoradas, pois cria uma instabilidade na cidade.


 


E quanto à questão ambiental? A PGJ pediu a cassação da obra por problemas técnicos.



O que me perguntaram era se eu era contra o referendo e sou contra, apesar de ser um instrumento importante. As questões ambientais todas tem que ser investigadas, agora tem que fazer um referendo? Se tem uma questão ambiental que pode prejudicar o rio Cocó, o Tasso que mude o projeto se for o caso. Que seja feito de acordo com a justiça. O que questiono é um referendo popular para discutir se se constrói uma torre ou não. É claro que não é só a conservação do Cocó, pois temos muitos outros prédios ali sendo levantados. Tem uma questão política e isso é ruim para a democracia. Agora, se no Cocó há construções irregulares, isso é coisa da justiça, da fiscalização. Contesto o referendo. Agora, sou a favor da preservação do Cocó.


 


É a sua posição ou a do seu partido?



É a minha opinião.


 


Ainda sobre seu desejo de ser candidata. A senhora própria admitiu, em entrevista recente, que se sente incomodada com a presença de Ciro Gomes e Tasso Jereissati em suas campanhas. Como está hoje, a relação na perspectiva de uma candidatura?



É o tempo que vai amadurecendo a gente. Eu dizia que na época da candidatura da prefeitura, eu estava fragilizada, a presença do Ciro como coordenador da minha campanha, confundia também as pessoas. Quando perdemos as eleições, procuramos ver a razão pela qual eu tinha perdido. As pessoas eram carinhosas comigo, não senti nada contra. Mas com a campanha perceberam que naquele momento eu não estava pronta para governar Fortaleza, que, se eleita, seria a segunda mulher a adminstrar a cidade, depois de Maria Luiza. A presença de Ciro e Tasso de alguma forma é boa e de outra pode atrapalhar. Você fica com a personalidade muito acanhada, com pessoas que são lideranças políticas conhecidas no nosso País. Eles acabavam me intimidando, o que é natural. Hoje já tenho mais tranquilidade para fazer um pronunciamento e até discordar deles. Aceito Tasso e Ciro no meu palanque tranquilamente. Tenho muito respeito pelo Tasso que é uma das lideranças maiores do País.


 


A senhora acha que foi um erro sua candidatura naquela época?



Acho. O maior problema naquela época era o que eu sentia. Por mais que tivesse apoio, tudo, não estava bem. Aquela hora não era a minha hora mesmo.


 


Eu tenho percebido que há uma ignorância sobre o trabalho infantil. Me debrucei sobre este assunto e tenho visto o que está de errado. No interior, o menino trabalha no campo, o pai leva o filho no sistema de familia solidária e não pode mais, porque o próprio menino diz que está sendo explorado. Há uma discriminação? Pois as crianças de televisão trabalham sem restrições. O trabalho intelectual é honra e o obreiro é desonra?



Eu sempre tenho me posicionado sobre o trabalho infantil, que não pode ser confundido com uma ajuda aos pais. Se eu tenho que lavar a louça em casa é claro que minha filha vai me ajudar, vai arrumar o quarto. É até uma questão de educação, é uma forma de educar. Por isso é importante que as crianças leiam o Estatuto da Criança e do Adolescente, mas os pais também devem ler, porque senão vão dizer que vai ser entregue no Conselho Tutelar por explorar o filho. Não está. O que se faz na exploração é quando essa criança deixa de ir à escola para trabalhar. Mas se ele não corre nenhum risco de saúde, como era no descascar de mandioca na Meruoca. Agora, no trabalho doméstico, em família, dentro de casa, deve ser estimulado. O problema é que no Brasil quando se fala de trabalho infantil a gente tem que se lembrar das 500 mil meninas que trabalham em casas de pessoas, como babás. A população não faz por mal não. No interior tem mulher que oferece a filha por não ter como cuidar. E as pessoas fazem isso, levam para casa. E as pessoas dizem, puxa, eu levo ela para o shopping, para passear etc. Mas essa criança não está indo para a escola, não está tendo o direito de ser criança, brincar, se divertir. Ela está ali com uma responsabilidade muito grande. Mas alguns falam: é melhor do que estar passando fome. Eu acho na verdade que o ambiente familiar é melhor para ela.


 


Mas e a questão das crianças que trabalham em televisão. Não existe um preconceito sobre o trabalho manual?



A exploração do trabalho infantil, não estamos tratando das crianças de novela. É trabalho também, mas elas não estão deixando de ser criança. Elas tem direito a brincar e a estudar. Teve, inclusive um Juiz no Rio de Janeiro que proibiu crianças de trabalharem na TV por considerar exploração. Eu já tenho uma visão diferente. Acho que se a criança não está sendo impedida, não corre risco de saude, não está perdendo a sua infância e ela está freqüentando a escola, ela deve sim poder ajudar a sua família. Mas há mesmo uma discriminação contra aqueles que trabalham com as mãos.


 


A senhora recentemente adotou uma criança. Queria saber como foi pessoalmente este processo como é a situação para quem adota, que é muito complicada no Brasil. Qual a sua posição para incentivar a adoção?



Tem uma comissão na Câmara de Deputados que está estudando uma nova lei de adoção, que seria federal e não estadual. Para se ter uma idéia, tem abrigos que, conforme o juiz, não podem receber nenhum tipo de visita, as crianças não podem receber nenhum tipo de visita. Já tem outros que estimulam que mais pessoas possam visitar. Há hoje em dia uma preferência por meninas menores de dois anos e brancas para se adotar. Mas a burocracia é tão absurda, é tão absurda neste País, que as crianças vão crescendo, os processos vão andando e com 5 ou 6 anos a criança já não tem mais o interesse dos pais. O que acontece, elas vão sendo esquecidas pela sociedade. Eu acho que a lei de adoção deve ter mais agilidade, que o juiz tem que ter prazo determinado para aquela criança ser liberada ou não para ser adotada. O objetivo da adoção é que a criança encontre um pai e uma mãe e não os pais que devem determinar a cor, o cabelo ou outra coisa. O meu processo de adoção foi normal. Foi um presente da minha vida. Em casa, como meu filho mais novo tem 18 anos e ela apenas dois, todos viraram titios e eu vovó (risos). Mas é uma paixão e foi a coisa mais importante. Os filhos, quando você vai ter, planeja etc mas a adoção é um ato de amor. Não se pode dar isenção para adotar uma criança. Não é questão de dinheiro. Foi feito um levantamento pelo Ipea que aponta que 70% das crianças em abrigos têm família. E as familias não podem ficar com elas por pobreza. São pessoas que moram na rua e o juiz separa por não ter condição. O que custa para o governo pegar essas crianças, colocar os pais no projeto Bolsa Família, dar uma casa e devolver 70% dessas crianças para sua própria família? Muitas crianças que estão em abrigo gostariam de voltar para os pais e mães.


 


O que o Senado acrescentou à sua vida, à pessoa pública Patrícia Saboya?



Eu nunca fui uma pessoa que achei que sabia de tudo. Eu sempre acho que sei muito menos que todo mundo. E o Senado prova isso, que você caminha em um espaço para se aprender. Ouvindo algumas pessoas, como Pedro Simon (PMDB), se aprende muito. Eu não sei direito dizer o que mudou em mim, mas eu sinto. Não sei o que houve, a visão do País, da política, da minha vida pessoal. Me sinto mais desinibida, mais pronta não só para o embate politico, mas para a vida. Tenho uma sensibilidade muito grande para todas as questões mas tenho um olhar distanciado. Eu sei ter o controle de até quando e como eu posso ir. Estar entre os 81 senadores é muito especial. As vezes ainda me pergunto: “puxa eu estou aqui ao lados de grandes homens e mulheres”. Isso aumenta ainda mais a minha responsabilidade, eu tenho que gostar muito do ambiente do Senado e aprendi muito lá. Até as pessoas mais proximas percebem a minha segurança, a minha independência. Se eu errar, errei e depois eu conserto.


 


E a bancada do Ceará?



Essa bancada é uma das mais unidas do Senado, mesmo de partidos diferentes. Quando a questão é o Ceará estamos unidos.



 


Fonte: O Povo