Secretaria da Mulher do PCdoB já planeja suas primeiras ações
Por Priscila Lobregatte
Mais um passo importante para a inserção das mulheres na vida política foi dado neste final de semana, durante a reunião do Comitê Central do PCdoB. O partido ratificou a criação de uma secretaria própria para as questõe
Publicado 10/07/2007 20:41
“A criação desta secretaria é a coroação de um processo de discussão e elaboração teórica dos comunistas. É também resultado direto de uma ação inédita entre os partidos: a realização da 1ª Conferência Nacional sobre a Questão da Mulher”, disse a nova secretária do PCdoB.
Uma vez que está consolidada a posição do PCdoB e seu empenho diante das questões emancipacionistas, é hora de colocar em prática as idéias debatidas ao logo dos últimos anos. De imediato, Liége ressalta que a secretaria já se prepara para incentivar a participação das comunistas na 2ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, convocada pelo governo federal e que acontece de 17 a 20 de agosto em Brasília. E, em ano pré-eleitoral, Liége ressaltou que “é fundamental que a secretaria comece também a trabalhar para que se busque a meta de ao menos 30% de mulheres nas candidaturas a serem lançadas”.
Com relação à UBM, Liége ressaltou que a entidade não é um braço do PCdoB, mas parte dos movimentos sociais e que, portanto, tem autonomia. “Nosso papel será o de potencializar a participação das comunistas na UBM, tendo em vista inclusive a realização de seu congresso, em novembro. O que garante a direção política de uma entidade por uma corrente de opinião são as idéias e a justeza das propostas para o coletivo”.
A evolução de uma bandeira
As demandas específicas das mulheres têm sido preocupação constante dos comunistas, desde a obra de Marx e Engels, passando pelas formulações de Lênin e pelas contribuições de Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo e Alexandra Kollantai até os dias atuais. No PCdoB, tais questões geraram diversos debates e ações. Um dos marcos foi o 6º Congresso do partido, em 1983. “Antes desse congresso, havia ativos realizados pelo país, sob a liderança de João Amazonas e que buscavam formas de ampliar a participação do PCdoB na luta das mulheres”, lembrou Liége. A partir do 6º Congresso, o partido consolidou idéias e avançou na implantação de plataformas específicas.
No informe feito no 6º Congresso pela hoje deputada federal pelo PCdoB de Minas Gerais, Jô Moraes, está explícito que “o movimento de mulheres não pode ser indiferente às lutas políticas. Além da opressão capitalista, existe a opressão de um regime arbitrário que cerceia a liberdade. Na luta por seus direitos, a mulher brasileira se defronta com as restrições políticas que pesam sobre o povo”.
Em outro ponto do documento, Jô Moraes salientou que “aspecto importante que vem dificultando o avanço organizativo das mulheres é a ação ainda tímida das organizações que defendem a concepção emancipacionista. Tendo como centro a luta contra toda discriminação que impeça ou limite a participação da mulher na produção social e na luta de classes, as emancipacionistas representam a esperança de um amplo e progressista movimento feminino”.
Três anos depois, foram criadas a Comissão Nacional de Mulheres e a revista Presença da Mulher. Em 1987, aconteceu o 1º Encontro das Entidades Emancipacionistas, no Rio de Janeiro, quando se decidiu pela criação da União Brasileira de Mulheres, que nasceu com a missão de ser uma entidade ampla dos movimentos sociais que coordenasse as várias entidades existentes no Brasil e impulsionasse a luta pelas demandas femininas. “A comissão alavancou nosso trabalho. Por outro lado, num determinado momento, a responsabilidade para se implementar a luta das mulheres ficou a cargo apenas da UBM. Ou seja, as articulações com os estados acabavam acontecendo apenas pela via da entidade e não passava pela estrutura partidária, o que nos trouxe algumas debilidades”, explicou ao falar sobre as dificuldades enfrentadas pelo movimento ao longo de sua formação.
Viradas
No 10º Congresso, a questão da mulher ganhou mais força quando a Secretaria de Movimentos Sociais passou a abarcar também a luta emancipacionista. “É diferente de ter uma secretaria específica porque as ações acabavam se voltando mais para as atividades comunistas nos movimentos sociais. Mas, foi muito positivo porque o partido abraçou a causa e a trouxe para dentro da estrutura partidária”, lembrou Liége. Ela explicou que a grande virada se deu com o 11º Congresso . “Foi histórico porque colocou o emancipacionismo como uma questão de todo o partido”, salientou.
Quando da realização da 1ª Conferência Nacional sobre a Questão da Mulher, já figuravam entre os principais desafios dos comunistas superar, como aponta o documento aprovado agora pelo Comitê Central, a “subestimação do papel estratégico da luta contra a desigualdade de gênero”, o que envolve “a afirmação de concepções avançadas”; “dotar o movimento emancipacionista de um projeto de intervenção política”, situado “no contexto da realidade da mulher no Brasil hoje” e “sobrelevar a participação da mulher na vida partidária, conferindo ao próprio partido a condição de pólo dinâmico e irradiador dos valores avançados do emancipacionismo”.
Segundo Liége, “o emancipacionismo abre novas perspectivas de transformação e exige uma mudança de ponto de vista . Daí a importância de se superar a subestimação dessa luta porque mais do que lutar pela igualdade entre gêneros, lutamos pela mudança de toda a sociedade”. Portanto, a secretaria terá muito trabalho pela frente.
– Veja abaixo a resolução do Comitê Central sobre a criação da secretaria e os documentos aprovados na 1ª Conferência Nacional sobre a Questão da Mulher
– Resolução sobre a Questão da Emancipação da Mulher
– Versão final de documento base da 1ª Conferência já está disponível
– Resolução propõe criação de fórum e secretaria para a questão da mulher
– Documento sobre a Questão da Mulher propõe renovação da UBM
– Moções da 1ª Conferência sobre a Questão da Mulher já podem ser consultadas