Cardia: Unidade não passa, necessariamente, pela CUT

Marcelo Cardia, secretário sindical do PCdoB/SP, fala ao Vermelho-SP sobre as perspectivas do sindicalismo no estado e sobre a possível saída da Corrente Sindical Classista da CUT. Para Cardia, é necessário construir um pólo classista

Vermelho-SP: O PCdoB tem debatido a necessidade de ter uma política mais afirmativa, inclusive se colocando o desafio de participar de eleições majoritárias. Como essa política afirmativa se traduz no movimento sindical?


 


Cardia: No ponto de vista geral, vivemos uma fase de defensiva estratégica, mas o pior momento da ofensiva neoliberal já passou. A fase agora é disputa de projetos, de apresentar suas propostas para o bem estar dos trabalhadores. No movimento sindical, isso tem que se traduzir pela conquista de posições, luta de idéias e conseguir aproximar o movimento social do movimento em curso pelas mudanças no país. Aproximar a luta econômica da luta política e ideológica.


 


Vermelho-SP: Você fala em conquistar posições, se apresentar plenamente para os trabalhadores e para a sociedade e, ao mesmo tempo, é debatida a possível saída da CSC da CUT. Quais as razões que levam a isso?


 


Cardia: A CSC é uma corrente sindical de longa história no movimento sindical e cresceu muito de 1988 para cá. Hoje somos um dos pólos no sindicalismo brasileiro. O momento não é mais da polarização simples, da esquerda, capitaneada pela CUT, e do centro, pela Força Sindical. Os sindicalistas da Força fizeram sua experiência própria nesse período de aplicação do neoliberalismo e fazem uma releitura de que o Brasil não comporta um sindicalismo de viés liberal. No Brasil, por uma característica específica nossa, você tem que conciliar a unicidade sindical na base com a existência de mais de uma central sindical. Você tem pluralidade nas cúpulas, mas, ao mesmo tempo, é reafirmada pela esmagadora maioria do sindicalismo a unicidade na base.


 


Sendo assim, se foi correto a participação na CUT como tática de acumulação de força, o mais correto hoje é organizar um outro pólo, classista, em nível das centrais. A realidade brasileira é pluralidade nas cúpulas e unicidade na base. E a luta pela unicidade é uma grande vitória dos classistas e do movimento sindical brasileiro e uma derrota do chamado sindicalismo orgânico, do pluralismo na base.


 


Vermelho-SP: Essa saída significa um rompimento com os setores majoritários da CUT?


 


Cardia: Não. A CSC fez uma indicação de que talvez a saída e organização de outro pólo seja um caminho. A luta pela unidade está em outro patamar e não passa, necessariamente, por estar na CUT, como em 1991, quando entramos. Hoje não se acha quase nenhuma força que proponha pluralismo na base, mas há a disputa de projetos quanto ao sentido geral da luta sindical. Se a CSC sair, não significa que setores que continuarem serão inimigos. Pelo contrário, hoje temos, em São Paulo principalmente, a busca de chapas únicas nas eleições com setores da CUT, da Força Sindical, da CSC, da Nova Central, da CGT e outras correntes do movimento, como nos Metalúrgicos de São Caetano, nos Condutores, nos Correios. É apenas a organização de outro pólo, mas que buscará a unidade do movimento, inclusive com os setores da CUT.


 


Vermelho-SP: O hegemonismo de setores da CUT dificulta nossa posição na Central?


 


Cardia: A Corrente Sindical Classista entrou na CUT em 91, nessa polarização que já foi dita, mas na CUT prevaleceu uma idéia de hegemonismo a todo custo da corrente majoritária. Ora, sindicato é uma entidade de frente política, deve caber todos os trabalhadores. Não pode expressar os interesses apenas de uma parcela dos trabalhadores e menos ainda de um partido político. Esse hegemonismo ficou evidente na manipulação, por exemplo, do congresso da CUT Bahia, na dificuldade em aceitar a CSC na vice presidência da CUT.


 


E nós temos força política. No dia de protestos em apoio ao veto presidencial à Emenda 3, a CSC foi determinante para paralisar os metroviários, por exemplo. Na nossa opinião, a CSC está represada na CUT, com dificuldades de expressar suas opiniões porque esse hegemonismo não permite, não dá vazão à pluralidade de pensando existente no movimento.


 


Vermelho-SP: Que forças teriam afinidade com esse projeto e quais as chances de essa central, se formada, cumprir os critérios estipulados pelo governo para ser reconhecida?


 


Cardia: O PCdoB tirou um indicativo para os sindicalistas que atuam na CSC de que talvez o melhor seja construir um outro pólo de organização horizontal, ou seja, uma outra central. Muitas correntes têm demonstrado interesse pela construção dessa alternativa. São forças pluripartidárias, do sindicalismo rural, das Confederações. Em São Paulo, por ser o estado em que há maior disputa e estão os principais dirigentes de todas as centrais, a orientação é a busca de unidade na diversidade.


 


Há comunistas que atuam em sindicatos da base da CUT, da Força Sindical, da Nova Central, da CGT, e também em sindicatos que não têm filiação às centrias. A orientação é abrir o leque, pois a vida sindical não se restringe à CUT, mas passa por todas as centrais, inclusive pela que a Corrente possa criar.


 


A Medida Provisória estipula 100 sindicatos no Brasil, em três regiões deve ter 20 sindicatos, enfim a uma série de critérios que a CSC tem condições de atender tranquilamente. Hoje temos condições de, com força própria, ocupar um espaço político de visibilidade.


 


Vermelho-SP: Para terminar, você falou muito em pluralidade de centrais, mas de unicidade na base. A unicidade na base garante movimento coeso?


 


Cardia: O centro é manter a nossa política, vitoriosa, de unicidade na base. A vitória dessa opinião na 11ª Plenária da CUT foi determinante para sepultar, mesmo que temporariamente, a pulverização na base do movimento.


 


Vivemos uma fase muito rica, em que a pluralidade nas cúpulas e a unicidade na base parece uma transição para um novo momento de ascenso da luta social no Brasil, em que a unicidade levará com que haja maior unidade nas cúpulas. Não nos surpreenderá, por exemplo, se num curto espaço de tempo, talvez ainda nessa década, o 1º de maio aqui em São Paulo seja unificado num grande e massivo ato.


 


Fernando Borgonovi, pelo Vermelho-SP