Jobim: ''A música é do presidente e o maestro sou eu''

O novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, reforçou nesta quinta-feira (26) que está no comando das decisões sobre a crise aérea. Na primeira entrevista coletiva depois de receber o cargo de seu antecessor, Waldir Pires, o ministro Nelson Jobim prometeu

O novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, prometeu e cobrou ação do setor de aviação na cerimônia de transmissão de cargo realizada nesta quinta-feira, à qual compareceu o antecessor, Waldir Pires.



Insistindo que tem a voz de comando, Jobim também se apresentou como um ''aliado'' das Forças Armadas. O discurso foi considerado ''extremamente positivo'' por oficiais, ao indicar disposição do ministro em atuar com ''transparência'' e rigor, sobretudo em relação aos problemas crônicos da aviação civil.



''Tenham a mim, senhores oficiais, como um aliado. Aliado absolutamente transparente, que precisa ouvir 'não' e que também sabe dizer 'não''', declarou.



Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, a crítica que Jobim recebeu foi a de que não é especialista da área da defesa, que reúne no Ministério a Aeronáutica, o Exército e a Marinha.



Jobim pediu um minuto de silêncio em memória das vítimas do vôo 3054 da TAM, em que morreram cerca de 200 pessoas na semana passada, mas também disse que é preciso ''consumir o tempo do lamento para construir soluções'' para o setor aéreo.



''Aja ou saia, faça ou vá embora'', declarou Jobim, ressaltando que a história cobra resultados e que não basta ficar nas intenções.



Ele citou ainda uma frase que atribuiu ao ex-primeiro-ministro inglês Benjamin Disraeli (1804-1881): ''Never complain, never explain, never apologize (nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe).''



O discurso de Jobim tinha tom político muito forte e buscou na história de Dom Pedro 2o o exemplo de que é preciso integrar e unir as Forças Armadas no Brasil.



Depois, na segunda entrevista coletiva desde que tomou posse na véspera, Jobim procurou mostrar determinação em colocar ordem na casa, sinalizando demissões.


 


''Não podemos deixar mais comandos fora de regência… ''Isto aqui tem que funcionar como uma orquestra. A música e a composição são do presidente, e o maestro sou eu, sob suas as ordens . Precisamos reformular a política de governo, inclusive a política que vai gerir os orçamentos das diversas Forças'', disse. Jobim afirmou que trabalhará no final de semana, e não descartou a possibilidade de anunciar mudanças na Infraero na segunda-feira e até mesmo uma proposta para reorganização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).



Ele criticou as reformas nos aeroportos para ''atender'' a comodidade dos usuários e avisou que vai priorizar a segurança das operações de vôo em detrimento do conforto, se for o caso. ''Se o preço da segurança for o desconforto, será mantido o desconforto'', alertou o ministro, em uma referência às filas dos aeroportos.



Nelson Jobim cobrou responsabilidade das companhias aéras e sugeriu mudanças na Anac, se o modelo atual não se ajustar às necessidades. ''Se não está funcionando, muda-se'', disse, taxativo, o ministro.


 


Assessores



Questionado sobre se demitiria o presidente da estatal que administra os aeroportos, brigadeiro José Carlos Pereira, o titular da Defesa afirmou que essa é tendência. ''Há uma possibilidade, não uma segurança''.


 


O ministro afirmou aos jornalistas que deseja um perfil gestor para o comando da Infraero. Sobre a Anac, defendeu que a agência reguladora cumpra suas funções legais.



Ao final do discurso de transmissão de cargo, Jobim soltou uma frase enigmática, dizendo que assessores precisam saber mais que os assessorados, do contrário são ''inúteis''.



''Assessores que sabem igual ao assessorado não servem para a assessoria, servem para bajulação'', disse, alimentando expectativa de alterações na estrutura do ministério. Jobim recebeu carta branca de Lula para enfrentar a crise aérea.



O ministro evitou detalhar medidas que tomará à frente da pasta nem comentou a percepção que tem da crise em relação à responsabilidade pelo acidente com o Airbus da TAM e pela crise no tráfego aéreo.



''Não faço teoria do achismo. Ministro não pode achar, ministro tem que fazer'', afirmou, prometendo se debruçar sobre o assunto para fazer um diagnóstico preciso o quanto antes.



O novo titular da Defesa pediu ''união de todos'' e, apesar de reconhecer que é preciso identificar as resposabilidades, disse que o tom de sua gestão será o de buscar soluções para o futuro.



''Há aqueles que se satisfazem na retaliação exclusiva ao passado e aqueles que querem o ajuste de contas exclusivo com o futuro… É exatamente essa nossa destinação.''



Perguntado sobre pretensões eleitorais para as eleições presidenciais de 2010, Jobim respondeu: ''Minha mulher não deixa''.



Despedida



O primeiro a falar durante a cerimônia de transmissão do cargo foi o ex-ministro Waldir Pires, que leu emocionado o discurso de despedida. “Numa hora dessas, as emoções não são compatíveis”, justificou o ex-ministro a leitura do discurso.



Ele afirmou que se sente frustrado por não ter cumprido “a missão” de conter a crise aérea.
 


“Nunca é fácil o instante da despedida, sobretudo quando a missão que se viria cumprir, que se teria necessariamente de cumprir, iniciou-se e não logrou completar'' afirmou, no início do discurso.



''Quando lhes digo adeus, tenho dentro de mim um sentimento que sufoca, mas que venço: a ameaça de frustração pelo temor do sonho interrompido”, disse.



Pires elogiou a escolha de Jobim para sucedê-lo no Ministério da Defesa. “Haveremos de vencer essa crise. Faço votos, do fundo da minha alma, que Nelson Jobim, personalidade inteligente, capaz, meu amigo, possa, no mais curto prazo conseguir resolver essa situação fruto do acúmulo de erros de longo tempo”, afirmou.



Fonte: Reuters e G1