Movimento sociais bolivianos protestam contra mudança da capital

Mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas de El Alto, altiplano boliviano, no dia 20, em um protesto contra a proposta de transferência da sede do governo da Bolívia da cidade de La Paz para a cidade de Sucre, em discussão na Assembléia Constituinte. S

A mobilização foi considerada a maior mobilização dos últimos anos no país. De acordo com a polícia estadual, mais de um milhão de pessoas estiveram presentes ao protesto; os organizadores acreditam que foram pelo menos dois milhões. O protesto foi liderado pelo governo do Departamento (similar ao Estado) de La Paz e pelas prefeituras locais. ''A resposta da população foi maior do que imaginávamos'', disse o governador José Luis Paredes.



Bolívia unida



O tom dos discursos foi de defesa à unidade do país para salvar o processo de mudança que foi “conseguido às custas de sangue” e para evitar que a Assembléia Constituinte “naufrague”, diante da proposta rejeitada de mudança de sede levantada por líderes civis e políticos do Departamento de Chuquisaca, com apoio de lideranças de Santa Cruz de la Sierra, Tarija, Beni e Pando – todos opositores de Evo Morales. Os manifestantes também alertaram para o perigo de um “possível enfrentamento entre irmãos” que poderia ocorrer se a reivindicação de Sucre prosperar.


 


Hoje, essa cidade é a capital constitucional do país e sede do Poder Judiciário. Geograficamente, está localizada próxima a Santa Cruz de La Sierra, região onde prevalesce politicamente a minoria branca e ligada ao agronegócio. Parte dos constituintes quer repassar para Sucre a ''capitalidade plena'', levando para lá a sede dos poderes Executivo e Legislativo, estabelecidos atualmente em La Paz como resultado de uma guerra civil no final do século 19.


 


Os defensores da medida argumentam que a cidade teria melhores condições de representar a totalidade do país, já que fica na zona central, além de ser seu berço histórico. Até 1899, a cidade era a sede do governo boliviano.



Ofensiva da direita


 


Os movimentos sociais bolivianos, por sua vez, enxergam a proposta como uma ofensiva da elite política e econômica do país para reduzir o poder da pressão social sobre os governantes. La Paz fica próxima a El Alto, um município pobre, de maioria indígena a exemplo da população boliviana. Os habitantes da região protagonizaram ao lado dos movimentos camponeses um histórico de mobilizações sociais que culminaram na queda de dois presidentes no início da década – Gonzalo Sanchéz de Lozada (2003) e Carlos Mesa (2005). La Paz e El Alto formam, ainda, a maior concentração urbana da Bolívia, com cerca de 2,7 milhões de habitantes (estimativas oficiais de 2006).


 


Para Claudio Álvarez, da Central Operária Regional de El Alto, a proposta de mudança da capital está sendo eleborada pela direita boliviana. Já o presidente da Federação de Associações de Moradores (Fejuve) de El Alto, Nazario Ramírez, declarou que a mobilização estava sendo feita ''contra os partidos neoliberais, a oligarquia econômica e a política''. O presidente da representação departamental de La Paz na Assembléia, Macario Tola, disse que é preciso “deter aqueles que buscam deslegitimar a Assembléia Constituinte, que é resultado de um processo de séculos de duração''.


 


O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou que a manifestação é uma garantia da unidade e das reformas no país. ''La Paz lidera a união nacional, luta com muito sentimento por essas transformações profundas que vive o país'', disse. Ele destacou o predomínio de bandeiras nacionais, o que mostra ''um sentimento pela pátria e a unidade do povo''.


 


Para o presidente, a mudança da sede do governo provocaria um confronto regional. Na Assembléia Constituinte, os líderes regionais e políticos de Santa Cruz, Tarija, Pando e Beni reivindicam também a autonomia de gestão nos seus departamentos.