Trabalhadores da castanha querem crescimento, emprego e dignidade

Marta Brandão*


As trabalhadoras das indústrias de beneficiamento de castanha de caju, na sua maioria são de origem do campo, e possuem baixa escolaridade e nenhuma qualificação profissional. Isso faz com que elas se submetam as péssimas condiçõ

O Sindicato da Alimentação foi fundado em 1988,  fruto  da organização dos trabalhadores das indústrias de beneficiamento de castanha de caju. No início representava os trabalhadores da Região Metropolitana de Fortaleza. Hoje o sindicato representa todos os trabalhadores no ramo da alimentação do Estado do Ceará. Sua maior atuação tem sido em defesa das trabalhadoras das indústrias de beneficiamento de castanha de caju, por ser uma categoria bastante sofrida e também, porque representam 80% da mão-de-obra.


 



As trabalhadoras das indústrias de beneficiamento de castanha de caju, na sua maioria são de origem do campo, e possuem baixa escolaridade e nenhuma qualificação profissional. Isso faz com que elas se submetam as péssimas condições de trabalho que são impostas pelos patrões.


 



A remuneração de R$ 380,00, paga a essas trabalhadoras, é a menor do Estado do Ceará, pois existem outras categorias que são consideradas subalternas e pagam um salário superior. Outro fator que tem levado o sindicato a dar maior atenção a este setor é o tipo de moradia que essas pessoas têm. Boa parte vive em condições desumanas, moram em casas alugadas, sem esgotos, sem água encanada, pagando de aluguel quase 50 % do que ganham. Além disso, possuem família numerosa, sendo elas mesmas as mantedoras, tendo com causa disso a falta de acesso a programas de planejamento familiar.


 



O horário de trabalho dessas trabalhadoras em algumas empresas ultrapassa a carga horária permitida por lei.  Na fábrica RESIBRAS, localizado no bairro Álvaro Wayne, em Fortaleza, é em torno de 11 horas diárias, isso contando com o tempo de deslocamento que se gasta para se chegar até o local de trabalho. Isso traz sérias conseqüências para o convívio familiar, pois os filhos ficam sozinhos em casa, enquanto de madrugada as mães saem para trabalhar a pé ou de bicicleta já que a empresa se recusa a fornecer vale transporte. Importante ressaltar que o sindicato, por dezenas de vezes, já acionou a DRT para fiscalizar a empresa, e esta sempre encontra uma forma de ludibriar os fiscais do trabalho apresentando documentos dizendo que os trabalhadores não necessitam do vale transporte.


 



Em relação à saúde, a principal dificuldade é o acesso aos serviços públicos, devido aos horários de trabalho que são coincidentes com o funcionamento das unidades de saúde. São inúmeros os casos de doenças profissionais. Perda auditiva parcial ou até total e tendinite são os mais comuns.  Isso ocorre em conseqüência de instrumentos inadequados e as condições de trabalho em ambientes quentes e insalubres. O mais agravante é que mesmo as empresas realizando todos os exames e tendo conhecimento das doenças acabam demitindo várias companheiras.


 



O quadro descrito tem piorado muito deste 2000, devido à criação de um “sindicato” fajuto patrocinado pelos patrões no sentido de desviar a atenção dos trabalhadores dos problemas citados. Este fato tem dificultado a nossa ação, pois as empresas demitiram quase toda a nossa diretoria, como também os nossos sócios. O suposto “sindicato”, junto com patrões investe pesado no assistencialismo, aproveitando-se das condições precárias em que vivem as trabalhadoras e os trabalhadores da indústria de castanhas.


 



Na década de 90 nossa categoria, junto com seu sindicato, realizou muitas manifestações e várias greves como forma de denunciar as péssimas condições de trabalho e os baixos salários. Conquistamos um piso salarial de 6% e uma produtividade de 4% para toda a categoria, fardamento, refeição e comprovante de pagamento, que muitas das empresas não forneciam, denunciou vários casos de assédio moral e sexual cometido por chefes contra nossas mulheres.


 



O suposto “sindicato”, criado pelos os patrões em 2000, ao invés de lutar para manter essas conquistas, fez o contrário. A mando dos donos das fábricas acabaram com todas as conquistas adquiridas com muita luta.  Voltaram a cometer os crimes de assédio moral e sexual, acabaram com o plano de saúde que só existia em uma empresa, e como se não bastasse, simularam uma assembléia dentro da fábrica IRACEMA ano passado para acabar com todos os feriados nacionais e religiosos dos trabalhadores.


 



Como se pode ver, dentro das grandes indústrias existe uma classe operária explorada, humilhada e bastante sofrida, que hoje sobrevive de um salário de R$ 380,00. Essa classe, principalmente, precisa ser lembrada pois, sem a participação dela, os burgueses não seriam nada. Não somos contra o crescimento do setor, ao contrário é preciso que cresça e gere muitos empregos. Mas não basta pensar apenas em gerar empregos sem, discutir as condições de trabalho e salários desses proletários, a grande maioria mulheres,  que vendem sua força de trabalho e são impedidas por esses empresários até de escolher seus legítimos representantes.


 



*Marta Brandão da Silva é Secretaria de Mulheres do Sindicato da Alimentação e da Central Única dos Trabalhadores