A UFRJ diante de grandes desafios vive encruzilhada histórica

Ao completar 87 anos em setembro de 2007, a UFRJ se defronta com grandes desafios. Formada em 1920 pela reunião de unidades isoladas como a Faculdade de Medicina, a Escola Politécnica e a Faculdade de Direito, a UFRJ foi denominada inicialmente Univers

Ao longo dos anos, fruto de diversas políticas, ela se tornou uma grande universidade com elevado grau de excelência no ensino de graduação e de pós-graduação e na pesquisa.



A maior instituição federal do ensino superior, com seus 33 mil estudantes de graduação, 8 mil na pos graduação, 4.500 técnicos administrativos e 3.500 professores vive no momento intensa discussão sobre a missão e os destinos de todo o sistema de ensino superior brasileiro. Discussão essa, que não ocorre exclusivamente em nosso país. Na verdade, a Universidade, enquanto instituição é tema de debate em todas as partes do mundo.



O primeiro grande desafio a ser enfrentado é a aceleração do desenvolvimento científico e tecnológico e a maneira que a UFRJ deve se estruturar para responder a essa etapa do conhecimento no início do século XXI. O segundo tem a ver com a expansão sem precedentes que a educação superior alcança em todo o mundo e, não somente, nos países do centro capitalista. Em vários países da América, da Europa e da Ásia, o percentual de jovens com idade entre 18 e 24 anos, que cursam instituições de educação superior, já ultrapassou a casa dos 60 por cento. Tornando-se um direito universal, a que todos podem ter acesso, a Universidade já não pode pensar-se como um mecanismo de produção ou reprodução de elites.



Em Cuba, 50% estão na universidade



Hoje, apenas 10% dos jovens entre 18 e 24 anos têm acesso ao Ensino Superior em nosso país. Desse total, uma parcela inexpressiva de 2% consegue vaga em instituições públicas, exatamente naquelas que oferecem a qualidade na formação de seus alunos e uma perspectiva de integração entre Ensino, Pesquisa e Extensão, fundamental também para o ser cidadão. Esse percentual é claramente inferior ao de vários outros países, mesmo daqueles que têm um grau de desenvolvimento inferior, como Equador, Panamá, Colômbia e México.  Outro parâmetro é o de Cuba, onde mais de 50% dos jovens estão cursando a universidade. O ministro cubano de Ensino Superior, Juan Vela, afirmou que o país terá um milhão de formandos desse nível em 2009. Isso representa um profissional universitário para cada 11 habitantes. Esse país impulsionou a idéia de levar o ensino superior a todos os cantos do país, abrindo filiais universitárias na maioria dos municípios urbanos e rurais.




Na UFRJ, a grande fragmentação de suas unidades e o alto grau de elitização são entraves que a instituição necessita enfrentar. Só assim poderá responder ao desafio colocado pela sociedade contemporânea com um projeto de transformação, capaz de prepará-la para um futuro marcado pela transdisciplinaridade e pela universalização da educação superior. Se ela continuar formando apenas 2 % dos jovens, será sempre voltada para as elites, independentemente de quem a freqüenta. Para isso ela necessita colocar como perspectiva dobrar ou triplicar esse percentual em um prazo de tempo relativamente curto.  Isso significa aumentar a oferta de vagas de graduação de seis para 12.000 por ano e com isso chegando ao longo dos próximo cinco a 60.000 alunos. Aberta de novos cursos noturnos e reforçar os campi de Macaé e Xerém.




Outro desafio a ser enfrentado é a forma de ingresso. O vestibular é um método perverso. Porque acaba selecionando não o mérito do estudante, mas o seu nível de renda. A possibilidade de ingresso na universidade que tem o jovem da classe B ou A, que estudou em colégios particulares de nível melhor; que não teve problema de falta de professor; que fez um curso de inglês; algumas vezes viajou para o exterior e que pode fazer um cursinho pré-vestibular pago, é muito maior. Isso se dá não por mérito, mas por renda.



Investimentos no governo Lula



O fato de o governo Lula se propor a mobilizar recursos através do Programas de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNE) que permitam a expansão e a reestruturação da educação superior é importante. São recursos condicionados ao atendimento de metas que podem induzir a projeto de expansão que inclua cursos noturnos, redução da evasão, vagas ociosas, organização de cursos básicos por áreas, consolidação do campus avançado de Macaé e Xerém, criação e melhoria de laboratórios. Já estão garantidos cerca de R$ 480 milhões para o REUNE, que serão transferidos numa espécie de linha de crédito as universidades.  Deste montante, R$ 174 milhões serão destinados para custeio e o restante para investimentos. A estimativa é que, desses recursos, a UFRJ acrescente ao seu orçamento R$ 32 milhões em 2008, divididos pela metade entre verbas de custeio e investimento.  Ao todo o projeto que a UFRJ esta apresentando ao REUNE  aproximadamente R$ 100 milhões de reais, duplicando o atual orçamento para custeio, além da abertura de novas vagas para contratação de professores e servidores técnico administrativos.



A maior oferta de vagas na graduação ocorre hoje no setor privado. A expansão desse setor apresenta sinais de esgotamento, principalmente pela saturação do mercado em várias profissões e pela inadimplência de seus alunos que são incapazes de arcar com o alto custo do ensino superior (matrícula, livros, transporte, alimentação, residência estudantil e outros custos). A ampliação de vagas no ensino superior é imperativa para os grandes desafios colocados acima. Espera-se que a UFRJ chegue ao seu centenário se reestrurando para os desafios do conhecimento, combatendo as vagas ociosas e a evasão com políticas de assistência estudantil e implementando o aumento vagas para que mais camadas da população tenham acesso a excelência de seus cursos.




*Hélio Matos é prefeito da UFRJ e membro do Comitê Estadual do PCdoB/RJ.