Ato do ''Cansei'' termina com ''Fora Lula!'' e 2 mil pessoas
Com o já tradicional lema ''Fora Lula!'', o Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, mais conhecido como ''Cansei'', concluiu nesta sexta-feira (17) seu segundo ato público em São Paulo, rápido, frio e bem menos numeroso que o primeiro, no último di
Publicado 17/08/2007 15:57
Um possível motivo da desmobilização, apesar do reforço de artistas, ricos e famosos, foi a menor utilização do acidente do vôo 3054 da TAM. A data do ato foi escolhida expressamente para lembrar um mês da tragédia, mas as dezenas de parentes das vítimas, vindas de todo o país, não puderam subir no palanque e nem falar. Nem a presença do grupo foi citada pelos oradores.
Famílias das vítimas: ''Fomos usados''
''Disseram que o palco estava cheio e que poderia cair se subíssemos. Estava cheio de artistas e seguranças. Nós éramos quem deveria estar lá em cima'', queixou-se a gaúcha Luciana Haensel, filha de Ângela Haensel, passageira do Airbus. ''Fomos usados por este movimento'', denunciou Ana Queiroz, mãe de Arthur Queiroz, também vítima do acidente, que veio do Recife para o ato.
O empresário João Dória Jr, presidente do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) e impulsionador do ''Cansei'', pediu desculpas aos familiares. Disse que a intenção era deixar dois deles terem acesso ao palco, mas o ato foi encerrado antes que eles pudessem se manifestar.
Outro ausente no ato do ''Cansei'' foi o episódio que indispôs os piauienses com um de seus líderes e financiadores, Paulo Zottolo, presidente da sucursal brasileira da multinacional holandesa Philips. Na véspera, o jornal Valor Econômico publicara entrevista onde Zottolo reclamava do ''marasmo cívico'' do Brasil, e afirmava: ''Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado'', dizia. A declaração provocou tamanha revolta, em piauienses e outros brasileiros, que no fim do dia o executivo teve de se retratar. Mas os oradores da Sé preferiram silenciar sobre o assunto.
Tampouco se falou da proposta inicial, lançada no dia 29, de se fazer ''um minuto de silêncio em todo o Brasil'', como forma de protesto. O minuto, respeitado em atenção às vítimas do acidente da TAM, ficou mesmo restrito aos manifestantes da Praça da Sé.
D'Urso diz que não ouviu o ''Fora Lula!''
No palco estavam a apresentadora Hebe Camargo, o nadador Fernando Scherer, a cantora Vanderléia. O cantor Agnaldo Rayol cantou o Hino Nacional no final da rápida cerimônia. E ainda a presença de Ivete Sangalo, rainha do axé, que parece ter ajudado a atrair os curiosos que circulavam pela Sé. Na platéia não havia tantos famosos, mas os ricos eram numerosos. Os estacionamentos em torno da praça ficaram lotados de carros de luxo.
Sacerdotes das igrejas Católica, Metodista e Evangélica rezaram uma missa ecumênica, também com poucos minutos de duração. Mas o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, não abriu as portas da Catedral da Sé para o ''Cansei'', como era a intenção dos organizadores, deslocando o ato para a praça em frente.
Os gritos de ''Fora Lula!'' foram puxados a partir do palco, no fim da manifestação. Mas o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB/SP), Luiz Flávio Borges D'Urso, que abriu a lista de oradores e coordena o ''Cansei'', disse não ter ouvido. ''Só ouvi as pessoas cantando o Hino Nacional brasileiro'', desconversou D'Urso.
Gavião: ''Essa gente pegou o caminho de casa''
Testemunhas dos dois atos do ''Cansei'' paulistano, no dia 29 e hoje, fizeram uma comparação entre os dois. Primeiro, mudou o tamanho, já que o primeiro teve 3 mil pessoas, ou 6 mil, segundo a imprensa (a PM não fez o cálculo).
Mas mudou também a atitude. ''O outro foi bem mais raivoso. Agora, parece que essa gente pegou o caminho de casa; o movimento não está pegando'', diagnostica Marcelo Gavião, coordenador nacional da UJS (União da Juventude Socialista), que acompanhou as duas manifestações.
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Da redação, com agências