Laudo da PF favorece Renan face à 1ª acusação da Veja
A tendência do laudo que está prestes a ser concluído pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal é ser favorável ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), segundo noticia o jornal O Globo desta sexta-feira (17).
Publicado 17/08/2007 13:07
O laudo, conforme a reportagem do diário carioca, informa que, com a apresentação de novos documentos, Renan comprovou a origem de vários depósitos, no valor total de R$ 230 mil, feitos em sua conta no Banco do Brasil no início de 2004.
“O primeiro laudo, concluído no início de julho, apontava que a renda estava descoberta, ou seja, sem a devida indicação de origem. Este era, até então, um dos principais buracos na contabilidade do senador. O problema, se persistisse, justificaria uma investigação sobre a evolução patrimonial de Renan. O laudo, que deverá ser entregue ao Conselho de Ética terça-feira, é considerado peça-chave no processo por quebra de decoro”, diz o texto de Jailton de Carvalho.
Embora ainda parciais, as conclusões dos peritos enfraquecem as principais acusações formuladas até o momento contra Renan em relação às despesas com a filha que teve fora do casamento. O Conselho de Ética encomendou o laudo a PF poque queria saber se a renda do senador seria ou não suficiente para bancar a pensão de R$ 12 mil à jornalista.
O processo contra Renan tem como origem a denúncia, feita pela revista Veja em maio, de que os gastos com a filha eram bancados pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. No entanto, outras duas acusações posteriores, convertidas em processos junto ao Conselho de Ética da Casa, devem manter o presidente do Senado na alça de mira dos meios de comunicação.
João Lyra, o novo acusador
O último dos três processos, de iniciativa do DEM e PSDB, foi encaminhado pela Mesa à Comissão de Ética nesta quinta-feira (16): pede a investigação do suposto uso de laranjas na compra de duas emissoras de rádio e um jornal em Alagoas, com o usineiro e ex-deputado João Lyra (PTB).
Nos últimos dias Lyra se converteu no principal acusador de Renan. O próprio jornal O Globo publica uma denúncia do usineiro (“Renan responderá também por laranjas em rádio”) com maior destaque que o laudo favorável da perícia da PF. O corregedor-geral do Senado, senador Romeu Tuma (DEM-SP), depois de viajar a Alagoas para ouvir Lyra, saiu dizendo à imprensa que “fica uma situação bastante delicada para Renan”.
João Lyra também divulgou uma carta aberta, onde afirma ser vítima de procedimento calunioso desde que se afastou politicamente de Renan Calheiros. Questiona se o senador é a “reserva moral que alega ser” porque aceitava vantagens de “um criminoso” – afirmação feita por Calheiros em declarações anteriores. Também questiona por que, nestas condições, foi recebido pelo senador.
Renan Calheiros reagiu na tarde de quinta-feira com uma nota à imprensa, onde afirma que “a carta aberta do ex-deputado federal João Lyra é um triste retrato da mentira e da hipocrisia”. Veja a íntegra:
“Nota à imprensa”
“A carta aberta do ex-deputado federal João Lyra é um triste retrato da mentira e da hipocrisia. É, também, a mais expressiva demonstração do ressentimento de quem me atribui responsabilidade pela acachapante derrota nas eleições para o governo de Alagoas, caracterizando, de uma vez por todas, a existência de uma questão política local levada para o lado pessoal.
Recebi João Lyra, deputado federal, em meus gabinetes, assim como recebi toda a bancada de Alagoas, sem exceção. Na interinidade da Presidência da República, atendi a seus insistentes apelos para tirar uma fotografia comigo, quando implorava pelo meu apoio para sua candidatura a governador.
Só estivemos juntos em palanque nas eleições de 1986, há, portanto, 21 anos, quando ainda não havia indícios, senão certeza, de que João Lyra era de fato um fora da lei. Para o governo de Alagoas apoiei o meu honrado e fraterno amigo, o então senador Teotonio Vilela. Derrotado repetidamente nas eleições majoritárias que disputou, João Lyra passou a me atacar diariamente. Basta ver as 60 últimas edições do jornal de sua propriedade, agora nas mãos de um laranja.
O povo de Alagoas rejeitou o nome de João Lyra para governar o Estado. Quem o acusou de crimes não fui eu e sim a Justiça Pública. Escapou, até agora, pelo artifício da prescrição. E ameaçou o juiz Marcelo Tadeu de morte. O pedido de proteção desse correto magistrado alagoano aos órgãos competentes fala por si só. O procurador-geral da República mandou apurar esses fatos.
Há 80 dias venho sofrendo uma devassa em minha vida. Meus sigilos fiscais e bancários estão abertos desde maio, por minha iniciativa. Pedi ao Ministério Público, foi iniciativa minha, para me investigar, a fim de que pudesse me defender das maledicências perante o Supremo Tribunal Federal. Nada devo. Nada temo. Não respondo por crime algum.
Mas João Lyra dirá suas mentiras requentadas em depoimento que prestará, de forma unilateral e protegido por um séquito de bajuladores, caracterizando a questão local que quer transportar para o plano nacional. Se ele apresentasse o texto integral do documento que entregou à revista Veja e abrisse os seus sigilos bancários e fiscais, como eu fiz espontaneamente, e comparecesse ao Conselho de Ética para ser inquirido como os demais, estaria desvendada trama que armou contra mim.
Senador Renan Calheiros”
Com O Globo