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Renato Rabelo: A direita usa de tudo para atacar Lula

Por José Carlos Ruy


 


As forças conservadoras tentam atingir o governo do presidente Lula de qualquer jeito, e este impulso move a atual ofensiva da direita – esta é a opinião do presidente nacional do Partido Comunista do Brasil,

A oposição, diz ele, ficou numa situação de grande defensiva neste começo do segundo mandato de Lula, em que as pesquisas de opinião revelam um presidente com grande apoio popular. “Eles não conseguem engolir um segundo mandato para Lula, ainda mais com êxito”.


 


 


Na ansiedade para atingir Lula, usam qualquer argumento. Como o chamado
apagão aéreo, que os conservadores e a grande mídia usam de forma insistente tentando transformar os problemas dos aeroportos em uma grande crise, diz Renato Rabelo. Quando houve o acidente com o Airbus da TAM em Congonhas, que matou 199 pessoas, a oposição não vacilou, achando ter encontrado o tema de onde tiraria a força para atingir o governo. Houve mesmo quem, nas grandes redações, esfregasse as mãos de satisfação: a queda do avião era o que faltava para provocar um grande descontentamento.


 


 


Viram no acontecimento o auge da crise, a demonstração daquilo que chamam de “irresponsabilidade do governo”, sua “inação”.Passaram a julgar o governo e atribuir-lhe a culpa pelo acidente, diz Renato. A pista do aeroporto foi transformada na prova material dessa acusação. E, a partir daí, tentaram fazer uma grande mobilização de setores da classe média alta, que refletiria o descontentamento de uma parte da sociedade contra o governo.


 


 


Isso levou ao “Cansei”, diz o dirigente comunista. “Tudo com um objetivo político claro: desgastar o governo”, numa realidade em que a mídia concentra muito poder, sendo a força de oposição mais importante. Mas esbarraram nas pesquisas reveladoras de uma alta aprovação popular tanto ao governo como ao presidente Lula. “Isso deixou eles discutindo entre si”, diz ele.


 


 


Outro fator desta crise midiática que a direita incentiva são as investidas contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, “que querem transformar num alvo importante através de uma exploração in extremis. Tentam provocar rachaduras na base do governo, sobretudo no Senado, para mudar uma correlação de forças que, embora favorável ao governo, é apertada. Seu objetivo é virar o jogo.” Para isso, fazem essa campanha toda, a devassa na vida e nas contas do senador. E Renato Rabelo pergunta: Por que isso tudo? “Para levar à cisão da base de sustentação do governo no Senado”, responde. O objetivo da oposição é afastar Renan para abocanhar a presidência do Senado – e fala-se, inclusive, no nome do liberal conservador Jarbas Vasconcelos, do PMBD/PE para seu lugar. Um Senado dirigido pela oposição neoliberal será um grande obstáculo para o governo, pensa Renato.


 


 


Contra as alianças sul-sul


A política externa é outra frente dessa ofensiva das forças conservadoras, diz Renato Rabelo. Fazem de tudo para incompatibilizar o Brasil com os vizinhos, especialmente com a Bolívia e a Venezuela, criando obstáculos à integração regional. É um objetivo que já perseguiam. Eles trabalham para impedir a entrada da Venezuela no Mercosul. Colocam em seu alvo a política externa do presidente Lula e do ministro Celso Amorim, atacam a política Sul-Sul, as alianças estratégicas que o Brasil estabelece com países de desenvolvimento semelhante, a abertura de mercados para países em vias de desenvolvimento, tudo isso na tentativa de restabelecer como prioridade a adesão automática aos EUA e Europa, que prevaleceu sob FHC.


 


 


Mas, para consternação da oposição conservadora, o presidente Lula mantém sua base de sustentação política e tem grande apoio popular. A pesquisa divulgada no dia 5 de agosto mostra índices de 52% de ótimo e bom, contra 12% de ruim e péssimo. Ela mostra também que nas camadas de renda mais alta, acima de 10 salários mínimos, os índices de aprovação/reprovação são equilibrados, com cerca de 1/3 de ótimo e bom, 1/3 de regular e 1/3 de ruim e péssimo. Isto é, pensa Renato Rabelo, os conservadores atiçam a classe média contra o governo, mas conseguem influenciar apenas uma parte dela, a mais rica. Mas não alcançam aquela que o ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, o cientista político Roberto Mangabeira Unger chama de “pequena burguesia morena”. Ela é mais ampla e tem mais abertura e boa vontade com o governo. E tem necessidades que precisam ser atendidas; o governo precisa por exemplo ter planos de educação para estas camadas, mobilizá-las para aprender e produzir, ajudar a despertar seu potencial produtivo e empreendedor.


 


 


Os fundamentos da economia são sólidos?


A aprovação do presidente parece ancorada no desempenho da economia, que exibe números considerados favoráveis pelo governo. O emprego cresce, os analistas e mesmo os bancos refazem suas contas e falam em crescimento de 5% do PIB neste ano – contrariando as avaliações feitas no começo do ano, que dificilmente iam além de 3,5%. É um quadro no qual o governo já fala de um novo ciclo de desenvolvimento que se abre, e mesmo de transição para uma nova política econômica, diz Renato Rabelo.


 


 


Para os comunistas, entretanto, a política econômica não mudou, sobretudo a macro-econômica, com o câmbio valorizado e o juro real alto, situações que criam sérias dificuldades para a indústria brasileira, diz ele. A política econômica tem se beneficiado da atual fase de crescimento da economia mundial, sobretudo nos últimos cinco anos, que só tem paralelo ao desempenho ocorrido após o final da segunda grande guerra, diz. Muitos economistas dizem que o Brasil ganha com a situação favorável das commodities, cujo preço vem se elevando em virtude da grande demanda mundial de alimentos e matérias primas, sobretudo na Ásia.


 


 


“Mas nada demonstra que isso seja permanente”, diz Renato Rabelo. “Com o nível atual de globalização financeira, as crises causadas pelas ‘bolhas’ surgem e ressurgem com força”, considera. “Esta farra de títulos, esta jogatina de rentistas, leva a uma realidade falsa, descolada dos ativos reais, da produção”. É um movimento alheio à economia real. Um exemplo é a “bolha” hipotecária que estoura agora nos EUA, onde os títulos negociados chegam a mais de 400 trilhões de dólares, segundo algumas avaliações. São títulos, contudo, que em termos reais correspondem a ativos reais que valem muito menos, entre 30 a 50 trilhões de dólares, mostrando a realidade falsa do cassino global.


 


 


 


Mas estes estouros financeiros, que se propagam em cadeia, podem extrapolar a esfera financeira, com implicações negativas no âmbito da economia real. E isso poderá ter repercussão mais amplas, criando problemas para todas as economias. “E repercutir por aqui”, diz o dirigente comunista, apesar do governo considerar que a economia tem fundamentos sólidos, “porque quanto mais articulada à ciranda financeira global, mais a economia do país sofre”, pensa ele.



 


 


O Bloco de Esquerda veio para ficar



Finalmente, Renato Rabelo tratou também da estruturação do Bloco de Esquerda, “um esforço para a construção de uma frente esquerda no bojo de uma frente mais ampla”, que precisa de um núcleo, pensa ele. “Daí a importância de construir e manter esta frente de esquerda”. Ela pode questionar o PT e impulsionar o governo para mudanças mais profundas. Sua necessidade é reconhecida inclusive por setores do PT, para quem não há um núcleo de esquerda funcionando.Eles reconhecem que a ação da direita cresce e, contra ela, uma frente de esquerda precisa crescer e se fortalecer.


 


 


O Bloco de Esquerda já lançou seu manifesto, com uma plataforma que dá consistência a esta frente. Renato Rabelo destaca a importância de alguns pontos, como o desenvolvimento do pais, a educação de qualidade e universal, o desenvolvimento científico e tecnológico, a integração continental. São pontos importantes para o bem estar dos brasileiros, o fortalecimento de sua economia e a afirmação nacional do país, sendo um passo importante pois dá fisionomia para o Bloco de Esquerda.


 


 


A fase agora é enraizar o Bloco, com lançamentos nos estados – Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Mato Grosso, São Paulo, etc. Além disso, os partidos que o compõe já começam as articulações para a eleição de 2008, alianças, considerando a realização de alianças no âmbito do Bloco. Mesmo considerando que esta via não será rígida, ela é uma base importante porque pode levar a alianças neste mosaico político que é o Brasil, diversidade que se manifesta com força em eleições municipais.


 


 


“O bloco vai vingando”, garante Renato Rabelo. Ele está em fase de definição e construção, levando em conta o papel da frente de esquerda na luta política do país. E insiste: “não vamos eleitoralizar a frente”. O alvo não é 2008. Outra coisa a considerar é que a frente é maior do que o apoio ao presidente da República. Ela faz parte do esforço de construir um projeto nacional de desenvolvimento, diz ele. E por isso não tem o objetivo de ser frente conjuntural nem eleitoral.


 


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