Geddel Vieira Lima: “Quero ver mais mobilização do povo do Ceará”
Depois de quase dois séculos de discussões em torno da Transposição do Rio São Francisco, o projeto começa a sair do papel. O ministro Geddel Vieira Lima garante que o presidente Lula entregará a obra quase pronta até o final de seu mandato. O ministro es
Publicado 20/08/2007 11:53 | Editado 04/03/2020 16:37
O projeto de Transposição do Rio São Francisco já começou a sair do papel. Este ano, até onde ele avança?
Falta pouco para terminar o ano. As empresas privadas já vão entrar, tratar de fazer essa fase inicial da obra e ela acelera efetivamente a partir do ano que vem. A idéia é, até o final do governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva, deixar o Eixo Leste concluído e o Eixo Norte num ponto absolutamente irreversível, de tal maneira que já esteja sendo utilizado e, qualquer que seja o governo que venha a assumir em seguida, fique com a obrigação de concluir o projeto.
O senhor, como baiano, já conseguiu contornar os problemas envolvendo a oposição do seu Estado ao projeto?
Não tem problema. A Bahia é feita de uma gente solidária que entende que é importante nós fazermos esta obra para resolver as questões do Nordeste Setentrional e há um convencimento hoje de que ela não prejudica em nada o nosso Estado. Portanto, não vejo nenhuma dificuldade em relação ao Estado da Bahia. O que há, efetivamente, é uma obra polêmica, de grande porte. Todas que existiram no Brasil foram neste sentido. A construção de Brasília teve polêmica também. Esse é o tipo de obra que só o futuro e a história vão mostrar a sua grandeza e o impacto que ela terá no desenvolvimento do Brasil.
E em relação aos Estados de Sergipe e Alagoas?
Nenhuma dificuldade. Vejo uma elite política que transforma isso num discurso como se você pudesse ser contra ou a favor a uma obra dessas. Não vejo nenhum tipo de argumento sólido o suficiente que possa ser levado em conta e que possa inviabilizar esta obra. Tenho dito de forma clara e vou repetir: na minha visão, essa obra só tem duas formas de ser paralisada; se for uma decisão do presidente da República ou se, em caráter irrevogável, houvesse uma decisão da Justiça brasileira. Como não acredito em nenhuma das duas hipóteses, a obra vai ser realizada e vai beneficiar muito o Nordeste e o Brasil.
Mudou alguma coisa no andamento do projeto com a morte do senador Antônio Carlos Magalhães? Ele era resistente, não queria. Isso melhorou a situação para o Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte?
Para ser absolutamente sincero, toda vez que Antônio Carlos era resistente a uma tese que eu defendia, sempre consegui dobrar e a população da Bahia sempre atendeu mais aos meus argumentos que aos dele.
Ministro, essa obra tem 182 anos de luta. Começou aqui no Crato, Região do Cariri. Qual a sua frase de esperança para os 12 milhões de nordestinos que anseiam por essa obra?
Não deixo nenhuma posição de esperança. Deixo uma convicção de que nós temos a vontade férrea de levar essa obra adiante. Já dialogamos, incorporamos sugestões, posições. Agora, se eu pudesse deixar não uma esperança, mas uma palavra, eu deixaria de cobrança. Ao povo do Ceará e às lideranças do Estado. Se mobilize para me deixar claro que esta obra é cara ao povo do Ceará e importante para todos os que serão beneficiados. Porque por vezes fica a sensação para a opinião pública que aquela minoria que é contrária tem mais voz e mais mobilização do que a imensa maioria de brasileiros que serão beneficiados com essa obra. Eu quero ver mais mobilização do povo do Ceará.
Como o senhor avalia os movimentos contrários à Transposição?
Sou um homem do parlamento, portanto, sou um homem do contraditório e que respeito as posições contrárias. Eu não tenho visto nesses movimentos uma argumentação técnica que me convença e convença a tantos outros de que o projeto não tenha as condições de atender ao que estamos buscando, que é matar a sede daqueles que não têm acesso à água e servir também para projetos de desenvolvimento e integração do Nordeste como um todo. O que eu acho é que, apesar de ser normal, essa mobilização de alguns que ainda resistem ao projeto, volto a insistir no que tenho dito: quero uma mobilização maior de todos aqueles que sabem e acreditam que o projeto é importante.
A Assembléia Legislativa do Ceará tem debatido esse assunto com muita freqüência e chegou a aprovar um requerimento lhe convidando para discutir o assunto no plenário. O senhor recebeu este convite?
Recebi e venho com o maior prazer. Aliás, estou muito feliz de ter visitado o Ceará, pela forma carinhosa como fui recebido. Logo que eu tomei posse tentou-se criar aquilo que é impossível se criar: uma intriga entre os cearenses e os baianos, como se eu pudesse ser contra interesses do povo nordestino em defesa de supostos interesses da Bahia. A Bahia está irmanada nesse projeto. Todos temos que estar unidos naquilo que interessa e criar as condições para um desenvolvimento harmônico do Nordeste e do País. Portanto, virei ao Ceará quantas vezes for chamado. Aqui tenho grandes amigos, parlamentares com quem tenho o privilégio de conviver, todos eles muito competentes, os senadores, os deputados federais. Tenho tido uma excepcional relação com o governador Cid Gomes. A recomendação do presidente Lula é tratar todos de forma absolutamente igual. E aqui no Ceará, mais do que tratar igual, eu sou tratado de forma diferente pelo carinho que recebo.
Fonte: Diário do Nordeste