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Internautas farão 15 filmes em parceria com Paulo Coelho

Suas habilidades literárias não agradam aos críticos, mas o escritor Paulo Coelho confirma suas qualidades de mobilizador das massas ao promover um concurso em seu blog que permitirá que os internautas ajudem a adaptar seu último livro, A Bruxa de Por

“Quando um leitor lê um livro, um filme passa pela sua cabeça”, justifica-se. “Há anos me pergunto por que eles não podem fazer um filme e acho que, com a tecnologia que temos agora, hoje isto é possível”, disse Coelho, de Paris, em entrevista concedida por telefone à Efe.


 


Os 15 participantes que vencerem o concurso convocado no blog, escolhidos em um universo de cerca de 3 mil candidatos, filmarão com suas câmeras 15 curtas-metragens independentes. A intenção é levar ao cinema a tradução fiel da visão dos 15 narradores com os quais o escritor constrói a jovem cigana Athena, protagonista de A Bruxa de Portobello.


 


“Foi uma idéia não muito pensada, mas quando coloquei o post no meu blog, obtive em seguida 50 respostas que me animaram a colocá-la em prática”. Hoje, sem ter promovido ainda o projeto, 800 pessoas já fizeram a pré-inscrição para adaptar um fragmento do futuro filme.


 


Paulo Coelho nasceu no Rio de Janeiro em 1947. Suas obras foram traduzidas para 66 línguas e vendidas em cerca de 150 países. O autor acredita que A Bruxa de Portobello é um romance “perfeito para realizar um trabalho coletivo” e contratará “um produtor americano renomado para fazer a montagem”, de forma a conferir homogeneidade ao filme.


 


“Athena, a heroína, acabará sendo revivida por diversas atrizes. Ela poderá ser negra na visão de um dos personagens/diretores e loira na de outro. Esta variedade reflete a proposta do livro, no qual a mesma história é contada sob múltiplos olhares”, disse o autor de O Diário de um Mago.


 


Paulo Coelho antecipa que o filme “estreará em novembro de 2008 no Festival de Cinema de Dubai” (Emirados Árabes Unidos) e que se “desliga” de todo o processo de criação. Afinal, diz ele, tem “uma relação muito pessoal com o livro”. “Prefiro ficar com a satisfação pessoal de que, até agora e sem promoção, muitas pessoas já se inscreveram e que, além disso, os curtas que vi até agora têm muito potencial”, ressaltou. “O leitor descobre interpretações no livro que nem sequer eu tinha percebido”


 


O concurso se encerra no dia 19 de março de 2008 e concederá 3 mil euros aos vencedores. Os curtas apresentados – no máximo 200 para cada narrador – podem ser filmados em português, espanhol, francês ou inglês. Serão revisados por quatro júris independentes, cujos membros ainda não foram escolhidos. Provavelmente serão leitores, cineastas, músicos e técnicos.


 


A Bruxa de Portobello começou a fazer sucesso na internet, pela qual foi publicado por capítulos antes de ser impresso – e Paulo Coelho continua apostando nos recursos mais populares da rede para levar a obra para o cinema. Os participantes submeterão suas propostas via YouTube, enquanto a disputa pela música principal da trilha sonora do filme – e pelos 1,5 mil euros que serão dados ao vencedor – terá como palco o MySpace, no qual a cota máxima para inscrição já foi atingida.


 


Paulo Coelho, que adora viajar pelo mundo, descobriu na internet um tipo de espaço diáfano para sua inquietação cultural, e traduziu seu site para 14 idiomas. “Meu melhor momento do dia chega quando, após fazer todos os trabalhos do dia, posso me conectar à internet para conversar e interagir com os leitores”, admite.


 


O autor sempre teve bastante receio de compartilhar suas obras com os roteiristas de cinema e da televisão. Os textos do escritor até hoje só tiveram duas adaptações para as telas: a versão japonesa Veronika wa shinu koto ni shita (2005), baseada no romance Veronika Decide Morrer, e a novela Brida (1998), transmitida pela extinta TV Manchete.


 


Desde que, em 2003, foram vendidos os direitos para adaptação ao cinema de O Alquimista, o escritor decidiu vetar a comercialização dos direitos de seus romances, já que as versões criadas eram “horríveis”, de acordo com o escritor, e a filmagem nunca chegou a ser realizada. Por isso, com o projeto de adaptação de A Bruxa de Portobello, optou por uma forma “barata, mas profissional e elegante”, na qual existe “uma oportunidade especial para explorar a tecnologia para fazer arte”.