Luis Nassif explica o milagre econômico da Irlanda
No recente seminário sobre inovação, promovido pelo Projeto Brasil (www.projetobr.com.br), um dos casos mais interessantes foi o da Irlanda, país que se transformou totalmente nas últimas décadas, graças a polític
Publicado 17/09/2007 12:58
Criar uma cultura para a inovação exige um amplo entendimento entre governo e sociedade. Não bastam políticas soltas. É necessário que empresários, instituições, governos reconheçam a importância de se inovar produtos, processos e modelos de negócio e se crie um eco-sistema favorável.
Vinte anos atrás a Irlanda conseguiu montar um pacto em torno desse objetivo. Nos últimos vinte anos, o país cresceu na média 7% ao ano. O desemprego caiu de 13% para 4% da população economicamente ativa. O PNB/per capita subiu para 31 mil euros. Houve reversão da imigração: os irlandeses voltaram para ajudar no desenvolvimento do seu país. Finalmente, a Irlanda deixou de depender do Reino Unido, que passou a respondeu por 30% do seu comércio exterior, contra 75% do período anterior.
O país tornou-se vanguarda e porta de entrada para produtos tecnológicos na União Européia.
O início do processo foi um pacto entre governo, sindicatos e empresas, o “National Economic and Social Forum”. A estabilidade macroeconômica passou a ser incluída na plataforma de todos os partidos. Definiram-se limites para as reivindicações salariais, junto com redução de impostos, marcos regulatórios claros, investimento público em infra-estrutura e educação. E uma política agressiva de incentivos fiscais, doação de terrenos e garantia de infra-estrutura para atrair investimentos externos.
Para definir as prioridades do país, foram analisados oito setores de alta tecnologia, entre os quais o químico-farmacêutico, tecnologia da informação, saúde e ciências da vida. Sem abandonar os demais, decidiu-se concentrar esforços em TICs (tecnologia da informação) e em biotecnologia, através da implantação de um fundo para ciência e tecnologia.
Muitas multinacionais foram atraídas, permitindo um crescimento expressivo no comércio exterior. O modelo conseguiu atrair a manufatura de alta tecnologia, grandes multinacionais farmacêuticas, como a Pfizer e a Glaxo, e de informática, como a Intel, Dell e Microsoft. O país tornou-se um dos maiores exportadores de software do mundo.
Nos últimos anos, o crescimento perdeu fôlego. De 10% na média anual de 1995-2000, caiu para 6,1% no período 2001-2004 e para 4,3% em 2005.
O diagnóstico foi que o modelo seria insuficiente se se limitasse apenas a atrair empresas de alta tecnologia com incentivos, sem tratar de criar uma inteligência nativa.
Montou-se um novo programa para o período 2007-2013, tratando de investir em pesquisa de ponta, na busca da excelência e no aumento do gasto em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Hoje está abaixo de 1% do PIB. A meta será elevá-lo para 2,5% do PIB em 2010.
Os engenheiros
No Brasil, apenas 16% dos universitários se formam em engenharia. Na China esse percentual chega a 52%, 41% na Coréia do Sul, 38% em Taiwan, 33% na Rússia, 30% na Irlanda. O nível do Brasil é similar ao dos Estados Unidos, com 17%. Mas o perfil da economia brasileira é muito mais próxima dos países asiáticos.
Fonte: Blog do Nassif