Sem Teto ocupa prédio do INSS na Lapa

Cláudia Emernegildo da Rosa, 35 anos, prepara o jantar para as 52 famílias que ocuparam o edifício de 13 andares do INSS na Rua do Riachuelo; do lado de fora, a bandeira do Brasil demarca, é um prédio Federal. Ali estão alojados 250 pessoas, mais de 90% d

“Arrumei um lugarzinho para ficar com os meus quatro filhos e estou no trabalho voluntário, na cozinha”. Cláudia Rosa está contente por ter a família reunida no assentamento, embora seja apenas nos fins de semana. “Eles estudam e dormem numa escola em Anchieta, bairro da Zona Norte do Rio”.



O Movimento dos Sem Teto (MSTs) exige capacidade de liderança e de experiência, qualidades atribuídas a Pedro Costa, um dos coordenadores da ocupação Carlos Mariguela.



“Esta ocupação foi preparada com as famílias de rua durante quatro meses, através do projeto Carlos Mariguella. Inicialmente a gente pensava em levá-lo para a Zona Oeste. Porém mapeamos o prédio e vimos que tinha condições de desenvolver o projeto onde 90% das famílias que estão aqui moravam na rua”, explica o coordenador do MSTs ao falar também sobre a escolha do guerrilheiro Carlos Mariguela (morto pela ditadura militar) para denominar a ocupação.



“Para nós foi um revolucionário, um socialista que tem uma história de luta”, disse.



Há mais de um mês o prédio está ocupado e o INSS não se pronunciou judicialmente. Não houve resistência do Governo Federal. Entretanto Pedro conta que a PM esteve no edifício durante três dias.



“Quiseram proibir a entrada de alimentação e água, mas nós acionamos a Secretaria de Direitos Humanos que solicitou aos policiais que se retirassem. Este é um prédio Federal e convinha à instância Federal cuidar desse caso”.



As condições de habitação ainda estão precárias, um fecho de luz clareia a escada e não deixa os corredores ficarem na escuridão.



“Água a gente apanha no poço. As comunidades passam aqui e doam garrafa de água”, informou o coordenador da ocupação como quem está acostumado a conviver em situação como essa. Sem apoio governamental os ocupantes sobrevivem da colaboração de algumas entidades que doam medicamentos e alimentação. Procuraram inicialmente o MST, a CUT, Famerj e o Círculo Bolivariano, além de alguns sindicatos.



Um projeto auto-sustentável



A luz do interior do prédio do INSS vem da mão solidária de um vizinho que tirou os 250 sem teto da escuridão. Também sinaliza a esperança de um projeto a ser construído. Os novos alojados do (MSTs) Carlos Mariguela sabem o que almejam.
Para a reforma do prédio, contam com o Ministério das Cidades. O governo Lula, em 2005 destinou prédios federais para os funcionários da Caixa Econômica acima de cinco salários mínimos. Entretanto a lei 11124 autoriza as ocupações com 56 famílias permanecerem nesses prédios. Baseado nessa lei que os novos moradores da Rua do Riachuelo pretendem ser favorecidos.



“É um projeto social auto-sustentável. Primeiro a idéia é construir uma cozinha comunitária. Temos algumas coisas encaminhadas. Outra atividade que pode ser boa para a localidade é fazer uma serralheria. Pensamos também em montar salão de cabeleireiro. São projetos que a gente está articulando e vendo o que é mais viável para o local”.



Todas as famílias estão inseridas em grupos de trabalho direcionados à saúde, segurança, alimentação, finanças e infra-estrutura. Todos têm responsabilidade e hora marcada para cumpri-la.



Os dois últimos andares serão de alojamentos dos militantes de grupos sociais de outros estados, que vem para o Rio de Janeiro. “Pretendemos deixar o espaço lá de cima para os apoios que vêm de fora”, finalizou Pedro Costa.



Mulheres e as crianças são mais vulneráveis



Marcadas pelo sofrimento e pela vulnerabilidade física as mulheres e as crianças se destacam na busca da sobrevivência e da resistência à exclusão. Josefa Bezerra faz parte da coordenação geral da do edifício do INSS e informa: “Nós temos bastantes mulheres, aliás, acho que somos a maioria. Há senhoras de até 79 anos”.



São várias as características de problemas desse contingente de pessoas moradoras de rua. Josefa fala sobre as mulheres da ocupação Carlos Mariguela: “Tem uma senhora de 65 anos que estava na rua porque não conseguia mais pagar o aluguel com o pouco dinheiro da aposentadoria; outra cujo esposo é deficiente visual, também estava sem moradia. Existe ainda uma senhora em que filho tem síndrome de Down”.



Cuidado à parte merecem as crianças. Algumas têm o acompanhamento do abrigo da prefeitura informou o coordenador Pedro Costa. Entretanto, Denilson da Rocha de 6 anos, está com problemas e não pode ir à escola.



“Esse menino foi forçado a sair do abrigo da prefeitura porque não tinha documentos. O pai morava na rua e a Comlurb foi lá e tacou fogo em tudo. A prefeitura por sua vez jogou novamente na rua a criança”.



Para Denilson vida de um sem teto não é fácil: – Era muito frio. O que via mais na rua eram mendigos.



Reportagem de Maria do Rosário Amaral