Equador: Correa deve conquistar maioria na Constituinte
Pesquisas de intenção de voto e cientistas políticos apontam que o governo do presidente equatoriano Rafael Correa obterá maioria na eleição deste domingo (30), na qual serão escolhidos os integrantes da Assembléia Constituinte que vai reescrever a Consti
Publicado 28/09/2007 14:21
Candidatos alinhados ao bloco Aliança País lideram as pesquisas e devem conquistar cerca de 66 dos 130 assentos da Assembléia. Espera-se ainda que Correa consiga atrair alguns eleitos por outro partidos, o que daria ao governo uma maioria mais folgada, de ao menos 75 constituintes.
Entre os 3.224 candidatos para uma das 130 cadeiras há um cineasta, ex-modelos e um padre católico. No total, 497 partidos ou movimentos políticos de inúmeras vertentes estarão representados nas eleições de domingo. Um contingente de cerca de 9,3 milhões de eleitores está apto a exercer seu direito de voto.
Se as projeções a favor do governo se confirmarem, Correa terá passe livre para reformar a Constituição, já que a Constituinte exigirá maioria simples para aprovação de alterações. O governo aposta em aprovar mudanças que esvaziem o poder de partidos políticos tradicionais e ampliem a participação do Estado na economia.
Imagem positiva de Correa
Para Santiago Nieto, diretor do instituto de pesquisas Informe Confidencial, não houve um debate aprofundado no país sobre os objetivos da Constituinte. Para ele, uma coisa é certa: o governo dará o tom e a oposição terá muito pouco a dizer na Constituinte.
“Correa é o principal candidato de seu partido”, disse Paulina Recalde, outra analista, da Perfiles de Opinión, em Quito. “A imagem do presidente está pondo seu partido na frente. Sua popularidade vai decidir a eleição.”
Correa foi eleito em janeiro e, desde o início do mandato, aposta na aprovação de uma nova Constituição para o país. A proposta (corroborada por uma consulta popular com o apoio de 81% dos eleitores) levou a um enfrentamento direto entre o governo e o Congresso oposicionista, que resistia à idéia de uma nova Carta.
Apesar da vitória de Correa em conseguir realizar a eleição para a Constituinte, o tema continua provocando divisões. Nesta quinta-feira (27), o chefe da missão de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA), o chileno Enrique Correa, se disse preocupado com o “ambiente de confronto, de muita disputa e de muitas trocas de acusações” na campanha eleitoral. Ainda assim, ele elogiou a organização do processo eleitoral no país.
Forças políticas
Um dos fiéis da balança na composição da Assembléia Constituinte deverá ser o grupo formado pela Rede Democrática e pela Esquerda Democrática, forças que se assumem como de centro-esquerda no país.
Apesar dos esforços do presidente para atrair esses setores para seu leque de alianças, há entre seus aliados quem critique o posicionamento desses partidos. Para Gustavo Larrea, ministro de Governo, a Rede e a Esquerda Democrática deram um grande passo em falso ao longo da campanha eleitoral. “Eles incorporaram o discurso da direita, pois acreditaram que estando contra o governo ganhariam novos adeptos. Acabaram cometendo um grande erro”, afirmou.
Mais à direita – e com chance de obter ao menos 35 cadeiras na Assembléia, de acordo com as últimas pesquisas divulgadas – aparecem o Partido Renovador Institucional de Ação Nacional (Prian) e o Partido Sociedade Patriótica, cujo principal líder é o ex-presidente Lúcio Gutierrez. Ambos acusam o governo de utilizar a máquina pública durante a campanha eleitoral.
Fala o presidente
Em Nova York, Rafael Correa demonstrou nesta semana, nos intervalos da 62ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, que está bastante otimista em relação ao resultado das eleições de domingo, a ponto de fazer declarações impactantes tanto para a possibilidade de êxito quanto para um eventual fracasso da Aliança País.
“Vou embora para casa caso o resultado não seja positivo. Não estou aqui para me agarrar ao cargo”, disse o presidente, anunciando uma possível renúncia caso seja derrotado nas urnas.
Apesar da ameaça, seu discurso mais recorrente – e realista – diz respeito às chances de vitória, cenário no qual o governo vislumbra pôr em prática inúmeras mudanças para o país. “Se os cidadãos ganharem, o Congresso será dissolvido e será criada uma comissão legislativa proporcional à Assembléia, respeitando o voto popular para que legisle enquanto durarem os trabalhos da Constituinte”, afirmou.
A reestruturação dos partidos no Equador também faz parte dos planos de Correa. “Queremos que a Constituinte permita a mudança de dirigentes e obrigue os partidos a ter um ideal. Caso contrário, teremos somente máfias organizadas”, defendeu.
Da redação, com agências