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EUA usam crise em Mianmar para pressionar China

A recente crise que Mianmar, a antiga Birmânia, vive é usada pelos Estados Unidos e seus aliados para continuar a pressão que o imperialismo exerce contra a China. Por Humberto Alencar, com agências internacionais e Rebelión.

A resposta dura da junta militar que governa o país à recente onda de manifestações “a favor da democracia” gerou mais uma onda de hipocrisia entre os líderes do mundo ocidental. Chefiados por Bush, líderes como o britânico Gordon Brown e o francês Nicholas Sarkozy já criticaram a repressão às manifestações, com suas vozes ampliadas e repercutidas pela grande mídia.



Bush, em seu discurso na 62.ª Assembléia Geral da ONU esta semana, condenou a junta e anunciou novas sanções contra seus líderes. Brown denunciou o regime como “ilegítimo e repressivo”, e o presidente francês não perdeu tempo para pedir à União Européia duras penas contra a junta.



A hipocrisia permanece a mesma que na época da invasão do Iraque. A administração Bush mantém laços estreitos com o ditador do Paquistão, o general Pervéz Musharraf, ao mesmo tempo que opera um silêncio diplomático nas mídias sobre a política estatal e policial da Índia na Cachemira, zona disputada pelos dois países.



Bush e aliados também não vituperam contra as medidas repressivas do regime militar fantoche de Bangladesh ou contra os métodos autocráticos do governo de Sri Lanka, que vive em guerra civil.



A condenação à junta de Mianmar não se deve aos seus métodos ditatoriais, mas sim à sua aproximação econômica com a China. O país está em um lugar estratégico, entre China e Índia e está próximo a importantes regiões marítimas, como os estreitos de Malaca, por onde transitam milhares de cargueiros todos os dias.



Mianmar também possui reservas energéticas estimadas em 3 trilhões de metros cúbicos de gás natural e 3 bilhões de barris de petróleo. A China proporciona à junta militar armas e ajuda diplomática, enquanto compra gás e petróleo de Rangun.



Nos sete primeiros anos de 2007, os dois países tiveram um volume de comércio que ultrapassou US$ 1,1 bilhão, mais de 39% que durante o mesmo período do ano de 2006.



No entanto, é cada vez mais intenso o volume de comércio entre a Índia e Mianmar. A Índia emprestou dinheiro à junta militar a partir de 2004, quando pela primeira vez em 24 anos um chefe de Estado de Mianmar foi recebido com pompa e circunstância na Índia.



Naquele ano, a empresa petrolífera indiana ONGC fez uma oferta para comprar gás de Minamar, tendo perdido no mês passado o fornecimento para a empresa chinesa Petro-China. A Tailândia, outro vizinho controverso, está investindo US$ 6 bilhões em um enorme projeto hidrelétrico.


 


A avalanche de artigos, particularmente nos EUA, que insinuam que a China é “responsável” pela junta militar e que pedem uma resposta a Pequim, não trata de fazer comentários a respeito da Índia, outro importante aliado da junta militar e cada vez mais aliado dos EUA, ou da Tailândia, outra ditadura militar que goza do apoio tácito de Washington.



A conclamação da administração Bush e de seus aliados locais, como Austrália, Indonésia, Tailândia e Paquistão, por uma “mudança democrática” em Mianmar são apenas mais um pretexto para instalar no país um “governo” pró-americano, não necessariamente “democrático”.


 


A administração americana não se preocupa com direitos democráticos ou necessidades da população de Mianmar, assim como não se preocupou com o Iraque. A queda da junta militar que governa o país seria, para os EUA, mais um elemento na estratégia do imperialismo em cercar a China, que emerge como competidora estratégica e econômica dos EUA na Ásia e que está vencendo o jogo contra as empresas americanas no acesso aos recursos naturais e à mão-de-obra de Mianmar.