Paquistanesa condenada a estupro coletivo conta sua história
Desonrada é o livro que conta a história real da filha analfabeta de um humilde queijeiro paquistanês – Mukhtar Mai – condenada a um estupro coletivo para pagar pelo suposto erro de seu irmão de 12 anos. O relato foi recolhido pela jornalista francesa
Publicado 28/09/2007 15:37
Em junho de 2002, o mundo ficou sabendo do caso de condenação a estupro coletivo de uma jovem paquistanesa pertencente à casta inferior de sua tribo. A sentença, decidida pelo conselho local, visava punir a casta Gujjar pelo envolvimento do irmão da jovem, um rapaz de 12 anos, com uma moça do clã Mastoi. A acusação era falsa.
Embora não tenha sido nem o primeiro nem o último caso assim no Paquistão, desta vez foi diferente. A sobrevivente – pois a maioria das mulheres submetidas a este tipo de justiça -no Paquistão comete suicídio -, analfabeta e humilde, optou pela vida e pela justiça de verdade: decidiu reagir e, ao fazer isto, mudou os rumos do movimento de defesa das mulheres em seu país e chamou a atenção do mundo para o tratamento dispensado às mulheres de castas mais baixas no Paquistão.
A história de Mukhtar Mai foi ouvida por jornalistas e ativistas de toda parte, impressionados com um ato de coragem inédito num dos ambientes mais hostis ao direito da mulher na atualidade.
Um mês depois da execução da sentença, sob os holofotes da imprensa mundial, o governo paquistanês concedeu a Mukhtar, num acordo histórico, o equivalente a 8.500 dólares de indenização – dinheiro que ela usou para abrir uma escola para meninas, na tentativa de evitar que futuras gerações de mulheres cresçam analfabetas como ela e sejam vítimas indefesas de toda forma de barbárie.
Em março de 2007, o Conselho Europeu outorgou a Mukhtar Mai o North-South Prize de 2006 por contribuição notável aos direitos humanos.
Em Desonrada, Mukthtar Mai relata a vivência de uma realidade feminina até pouco tempo distante dos olhos ocidentais. A mulher que enfrentou um sistema que parecia forte demais para ser vencido, acabou se transformando em porta-voz da mudança no Paquistão e símbolo de esperança para todas as mulheres vítimas de violência no mundo.
Marie-Thérèse Cuny, a jornalista especializada em direitos humanos e direitos da mulher e escreveu ou co-escreveu mais de 50 livros, diz que “Eu tenho uma mensagem para as mulheres do mundo, todas as mulheres que foram estupradas ou foram vítimas de violência. É preciso falar sobre o que houve, e lutar por justiça”
Ela diz ainda que considera justo afirmar que “todo aquela que possui coragem moral e força interior para converter uma agressão tão bárbara num instrumento com a finalidade de defender quem é vítima do mesmo mal é, de fato, uma heroina, e merece nosso mais profundo respeito, nossa mais sincera admiração”.