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Aldo Rebelo fala sobre relação do Brasil com seus vizinhos

Em entrevista exclusiva à Arko América Latina, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) fala sobre a relação do Brasil com os seus vizinhos, destacando o relevante papel da política de integração regional no continente latino-americano. Ele destacou que

Aldo Rebelo é deputado federal   pelo PCdoB-SP, membro-titular da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Foi presidente da Câmara (2005-2006), ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (2004-2005) e líder do governo na Câmara (2003).



Em entrevista exclusiva à Arko América Latina, o parlamentar ponderou a respeito do relevante papel da política de integração regional no continente latino-americano e explanou acerca da relação do Brasil com os seus vizinhos.



Arko América Latina: Deputado, após os últimos acontecimentos envolvendo o presidente Hugo Chávez (Venezuela) e o Congresso brasileiro, o ingresso da Venezuela como membro-pleno do Mercosul está inviabilizado? Por quê? Qual o posicionamento dos parlamentares brasileiros a respeito desse assunto?



Aldo Rebelo: A integração sul-americana é um processo histórico que envolve as nações, os povos, a economia e a cultura, e antecede, portanto, chefes de Estados e governos. Fossem presidentes do Brasil e da Venezuela outras personalidades que não Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, a integração teria o mesmo sentido. Os acidentes de caráter político ou comercial, envolvendo atores da integração, não podem nem devem servir de pretexto para interromper ou dificultar o curso dos acontecimentos. Tenho impressão que essa é a percepção da maioria do Congresso Nacional. Lembro ainda que o ministro Celso Lafer, que comandou o Ministério das Relações Exteriores no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, disse, com sabedoria, que o Mercosul era um destino e não uma opção.



AAL: No mês passado, tivemos a notícia de que índios yanomamis em Roraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela, presenciaram a invasão do espaço aéreo brasileiro por helicópteros militares venezuelanos. Como a Comissão de Relações Exteriores tratará essa questão? No seu entendimento, quais as conseqüências desse acontecimento para as relações Brasil-Venezuela?



AR: Certa vez, ao visitar uma aldeia Ianomami do Norte do Brasil, o helicóptero que conduzia o então ministro da Justiça Maurício Correa terminou invadindo o espaço aéreo venezuelano e pousando no território daquele país. Ao que me consta, o episódio não serviu ao discurso de estremecimento da relação entre os dois países. Eu mesmo, em visita à fronteira, vi residências construídas entre os dois países, com a sala de visitas no Brasil e a cozinha na Venezuela.



AAL: Deputado, vários países da América Latina têm optado por assinar TLCs (Tratados de Livre Comércio) com os EUA. Na sua avaliação, o Brasil deveria assinar um tratado de livre comércio com os norte-americanos?



AR: O Brasil deve priorizar a integração com os seus vizinhos alinhando a sua política externa em círculos concêntricos a partir do seu centro de gravidade, que é o seu território. Devemos, porém, ter em alta conta as relações econômicas, diplomáticas e culturais com nosso importante e poderoso vizinho, os Estados Unidos da América.



AAL: Hoje, o Brasil administra relações aparentemente tensas com dois países vizinhos: Venezuela e Bolívia. Para o Senhor, a forma como o país vem conduzindo essas relações é adequada ou deveria partir para uma política mais direta e ativa?



AR: O Brasil está conduzindo a relação com seus vizinhos de maneira a estender as linhas lançadas por governos anteriores. O presidente Fernando Henrique Cardoso, no esforço integrador, substituiu parte do petróleo importado dos países árabes pelo petróleo venezuelano e argentino. Aliás, era com a carinhosa expressão de “mi maestro” que o presidente Hugo Chávez referia-se ao seu colega Fernando Henrique. O gasoduto Brasil-Bolívia foi obra inteligentemente concebida no governo do presidente Fernando Collor, aprovada no governo Itamar Franco e realizada no governo FHC. A atual administração apenas deu conseqüência à estratégia correta dos governos anteriores. Os atritos diplomáticos e políticos entre a Rússia e a Alemanha não impedem que os russos abasteçam de gás boa parte da Europa ocidental.



AAL: Qual a sua avaliação sobre a política externa do Governo Lula?



AR: O presidente Lula combina, em política externa, estratégias com sentido de permanência da diplomacia dos presidentes Ernesto Geisel, João Figueiredo, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Consolidação nos laços com EUA e a Europa, e um grande esforço para ampliação da nossa presença geopolítica comercial e cultural na África, América Latina e Ásia. Como política de Estado, acerta no essencial: flexibilidade e persistência no manejo de nosso poder limitado. Tenho dúvidas, mas este é assunto para outra matéria, sobre nossa busca incessante por uma vaga no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Valeria a pena alimentar desconfianças de Argentina e México, dissidência da China por um objetivo que seria melhor vislumbrado caso o Brasil consolidasse sua liderança política e econômica na América do Sul e concretizasse projetos estratégicos como o programa espacial e o submarino nuclear?



Fonte: Equipe Arko América Latina