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Senado dos EUA: Um clube de milionários

Um senador americano ganha US$ 165.200,00 anualmente para ocupar uma vaga e é obrigado a declarar seu patrimônio. Mas cerca da metade dos 100 membros do Senado é constituída de potentados que, em média, possuem US$ 8,9 milhões de dólares em bens imóveis,

Claro que alguns são mais iguais que os outros e na ponta da lista está o democrata John Kerry, ex-candidato a presidente, com uma fortuna estimada em 750 milhões de verdinhas, segundo o diário Roll Call, que cobre as notícias do Capitólio desde 1955 (www.rollcall.com em 10 de setembro). A seguir vem o senador, também democrata, Herb Kohl, mas longe, com apenas US$ 293 milhões. Kerry iniciou sua ininterrumpta carreira senatorial em 1984 e Kohl em 1988. É preciso dar tempo ao tempo.



O pesquisador Donald Ritchie afirma que assim tem sido a história do Senado desde fins do século 19 e começos do 20, quando homens de negócios como George Hearst, pai de William Randolph, se converteram em membros desse ramo do Congresso. O escândalo de sua riqueza provocou que, em 1913, se estabelecesse a eleição direta dos senadores, que antes eram designados pelas legislaturas estaduais.



Tampouco faltam representantes endinheirados na Câmara Baixa: o Center for Responsive Politics de Washington compilou informações que atribuem ao republicano Darrel Issa a bagatela de 677 milhões de dólares. Issa é um magnata da indústria eletrônica, que quado jovem foi acusado de sumir com um par de automóveis e de haver montado o roubo de seu próprio Mercedes Benz. É conhecido no meio pela invenção do alarme Viper, contra o roubo de automóveis. Não lhe falta experiência na matéria.



Este é apenas um aspecto de um fenômeno geral. Os americanos mais ricos bateram um recorde: sua participação na renda nacional é a mais alta desde inícios da década de 1920 (The Wall Street Journal, 12 de outubro). Segundo dados do Internal Revenue Service (IRS, em sua sigla em inglês), em 2005 o 1% do habitantes dos EUA acumulou 21,2% do produto interno bruto total, um aumento de 2,2% em relação ao ano anterior, enquanto 50% da população só detinha 12,8% do PIB, um decréscimo de 0,6%. Para Jason Furman, pesquisador da Brookings Institution, esta desigualdade se acentuou nos últimos 30 anos.



Steven Kaplan e Joshua Rauh, da Universidade de Chicago, estimam que é difícil de colocar de lado a noção de que isso se deve, em parte, “a uma questão financeira e industrial (manejada) por Wall Street”. George W. Buhs não perde a tranqüilidade: sublinha que “nossa sociedade teve durante muito tempo uma desigualdade de renda”. Costumes são costumes.



Os EUA são provavelmente o único país do mundo cujo banco central é privado e não é possível compreender a crise financeira atual e o aumento do abismo que separa os ricos dos pobres sem levar isso em consideração. Um consórcio de 12 grandes bancos americanos constitui o sistema da Reserva Federal (FED, em sua sigla em inglês), imprimem dólares e seu cliente principal é o governo.



Se caracteriza por manipular o sistema monetário e a crise financeira mais recente, motivada pela péssima gestão de crédito no marco de um déficit pré-orçamentário brutal, teve repercussões mundiais. O FED emitiu uma quantidade de bilhetes que supera amplamente as reservas de ouro do país, nada pequena graças a suas imposições de pós-guerra às exportações a uma Europa exausta. Em 1971 Richard Nixon cancelou a relação ouro/dólar e desde então o papel-moeda não está coberto pelo metal amarelo nem garantido pelo Estado.



O funcionamento do FED parece fábula de uma mente enlouquecida: empresta ao governo os dólares que imprime a baixo custo contra obrigações em títulos e os bancos recebem os juros anuais que estes devam. Não é rum, tratando-se de papéis coloridos chamados dólares. A Justiça americana recusou sistematicamente as ações civis destinadas a anular a lei que criou o FED em 1913. John F. Kennedy tentou modificá-la com um decreto presidencial, a ordem executiva número 11.110. Pouco depois foi assassinado. Curiosamente, o primeiro ato de governo de seu sucessor, Lyndon Johnson, foi anular a ordem, exatamente no avião que o transportava, de Washington a Dallas, lugar do magnicídio. Simples casualidade, é claro.



Os bancos privados do FED procuram por todos os meios manter o colossal rendimento que o sistema proporciona e os Estados que, como o Irã, desejam se basear em moedas como o Euro em suas transações internacionais, são rapidamente tachados de “terroristas”. Os bancos centrais do mundo se vêem obrigados a ter reservas monetárias em dólares e os países exportam seus produtos aos EUA mediante papeis sem garantia em ouro, que só custam o processo de impressão. O dólar é outro instrumento de dominação dos EUA.



Parafraseando um antigo provérbio chinês, “quando o dólar fala, a verdade cala”.


 


 


Fonte: Página 12