Valter Pomar critica a ''unanimidade burra'' do Copom
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 11,25%. Ainda não foram divulgados os motivos da decisão. Uma nota distribuída após a reunião informou, em típica linguagem tucana, que “avaliando a conjuntura macroeconômica, decidi
Publicado 19/10/2007 17:52
A nota divulgada pelo Copom, após a reunião, deveria dizer assim: o Banco Central tem o firme propósito de colocar areia no processo de crescimento da economia. Seria mais honesto com o distinto público, que além de pagar os salários dos integrantes do Copom, suporta suas decisões e poderia ser poupado da hipocrisia tecnocrática.
A decisão do Copom é contraditória com a política geral do governo. Atrairá “investidores” interessados em taxas de juros tão generosas, mas terá efeitos deletérios extremamente negativos. Não impede, mas atrapalha bastante a política pró-crescimento expressa, por exemplo, no PAC. Sem falar nos efeitos sobre as políticas públicas em geral, e sobre as políticas sociais em particular.
A decisão do Copom foi unânime. Homenagem a Nelson Rodrigues, certamente. Quase unânime foi a reação negativa. Na contramão, aqueles que –como o Copom– maximizam os “sinais inflacionários” e colocam em segundo, terceiro ou quarto plano o impacto da taxa básica sobre o câmbio, sobre a dívida pública e sobre as demais taxas de juros da economia.
Os integrantes do Copom, Henrique Meirelles a frente, são funcionários do governo. Mas nesta decisão, agem como titulares de uma semi-agência, que não possui autonomia de direito, mas a exerce de fato.
Dura a vida de todos nós, dura a vida do presidente Lula. De Angola, afirmou (segundo a página eletrônica do PT, em matéria reproduzida da Agência Brasil) que ''não vamos abdicar, em nenhum momento, de uma política séria de controle da inflação”. Disse, também, que “o Banco Central, há muito tempo no meu governo, vem trabalhando com autonomia. E isso vem dando certo até agora”.
Ninguém é contra uma política séria de combate à inflação. Acontece que a decisão do Copom não é séria, se com este termo queremos dizer comprometida com os interesses nacionais e/ou baseada em argumentos técnicos consistentes.
Ao longo do nosso primeiro mandato, esta política chegou a fazer do Brasil campeão. Campeão mundial de juros reais. A autonomia de fato do Banco Central contribuiu para uma taxa de crescimento abaixo de nosso potencial, o que foi explorado cinicamente por nossos adversários, inclusive em 2006.
O país não precisa ficar prisioneiro da disjuntiva “crescimento” ou “controle da inflação”. Aliás, o “controle inflacionário” só beneficiará estruturalmente as pessoas mais pobres, se não for feito através da contenção do crescimento do país e da expansão do investimento produtivo, especialmente público.
O presidente Lula lembrou, segundo a matéria já citada, que a Selic pode mudar a cada reunião do Comitê de Política Monetária. Mais seguro seria mudar a composição do Comitê. Uma boa hora seria agora.
*Valter Pomar é secretário de relações internacionais do PT