Argentina vai às urnas para referendar o governo de Néstor Kirchner
Os cerca de 27 milhões de argentinos que irão às urnas neste domingo (28) escolher seu próximo presidente farão uma espécie de referendo do governo de Néstor Kirchner, cujo mandato sucedeu a maior crise econômica e social da história do país. A confortáve
Publicado 27/10/2007 14:32
Néstor Kirchner deixa a Presidência da Argentina com cinco anos consecutivos de crescimento econômico. Os analistas atribuem à sua gestão parte do crescimento médio acima de 8% ao ano registrado pelo Produto Interno Bruto (PIB), e também a redução dos altos índices de desemprego e de pobreza que atingiam o país no começo desta década, após a fase marcada pela dolarização e a forte influência das políticas neoliberais.
Tal cenário – que, a bem da verdade, deixa ainda uma série de incertezas, como o a possibilidade do retorno da inflação e o risco de escassez de energia – faz com que a população argentina coloque a senadora Cristina muito à frente de qualquer um de seus adversários pela cadeira presidencial. Ao longo de toda a campanha, as principais pesquisas realizadas em todo o país mostraram que a atual primeira-dama vencerá no primeiro turno, condição que trouxe à disputa uma certa apatia, deixada de lado somente nesta última semana, quando alguns de seus adversários partiram para o tudo ou nada – o ex-presidente Carlos Menem chegou a dizer que os Kirchner seriam uma espécie de anti-Cristo.
Das nove pesquisas apresentadas pelo Clarín, o jornal de maior circulação do país, oito mostram Cristina com mais de 41% da preferência popular – quatro delas a colocam acima dos 45% – e, em todos os casos, ela é seguida por Elisa Carrió, da Coalizão Cívica, com média de 20%. Nenhum outro veículo de comunicação ou instituto de pesquisa de destaque apresentou números antagônicos a esses.
A Constituição argentina prevê que a eleição é definida em primeiro turno em dois cenários: se algum candidato obtiver mais de 45% dos votos (independentemente da quantidade de seus adversários) ou se conseguir mais de 40% e uma diferença de 10% em relação ao segundo colocado. É possível que Cristina não deixe dúvida alguma de sua vitória, conquistando mais de 45% da preferência popular e uma diferença muito superior aos 10% exigidos pela Carta nacional.
O voto na Argentina é obrigatório àqueles que vivem no país e facultativo para os que estão no exterior. O mandato presidencial tem a duração de cinco anos. Além do próximo presidente e seu vice, os argentinos escolherão neste domingo um terço do Senado e metade da Câmara dos Deputados. Oito províncias também irão escolher seu próximo governador.
Os motivos da provável vitória
A maioria dos analistas políticos diz que as políticas de criação de empregos e crescimento econômico do presidente Néstor Kirchner são a razão principal da liderança incontestável de sua esposa nas pesquisas. Alguns estudiosos também têm destacado que o governo Kirchner soube capitalizar com muita astúcia os trabalhos realizados na área de direitos humanos, especialmente ao tocar na antiga ferida dos assassinatos cometidos no país ao longo da ditadura militar.
Contraditoriamente, as mesmas pesquisas que colocam a primeira-dama como favorita incontestável, mostram que, entre as principais insatisfações dos argentinos com seu país, estão o medo da inflação e a má distribuição de renda – temas ligados à economia e que só perdem para a insegurança como principal problema a ser atacado pelo próximo presidente.
Atenta às reivindicações da maioria da população, Cristina vem dizendo em seus discursos que “agora é a vez do salário”, como forma de atacar os problemas sociais do país. Já existe um forte clamor nesse sentido por parte de sindicatos, e diante de tal demanda, a líder nas pesquisas tem proposto um pacto entre trabalhadores, governo e empresários, com a finalidade de nas primeiras semanas do novo governo encontrar uma solução viável a todos.
Há também, entre analistas favoráveis e críticos ao governo, que atribuem à já mencionada apatia da população a provável vitória de Cristina. Pesquisas mostram que a figura do político nunca esteve tão desacreditada no país, condição que colocou os principais opositores do governo em maus lençóis, já que todos eles têm uma trajetória pública vasta. Essa sensação mesclada à aprovação ao atual governo, segundo alguns estudiosos, levaria qualquer candidato apoiado pelo atual presidente à liderança confortável na qual Cristina navega, à espera da confirmação de sua vitória.