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Enfermidade ceifa a vida do jovem comunista Edvar Bonotto

No começo da noite desta quarta-feira (31), os comunistas brasileiros ficaram de luto: Edvar Bonotto deixou a vida, levado por uma grave enfermidade que, em cerca de três meses, debilitou fortemente seu organismo, levando a este desfecho triste.

Na infância, Edvar sofreu uma toxoplasmose cuja consequência foi deixar, em estado latente em seu organismo, os esporões do protozoário causador da cisticircose, doença que, encontrando circunstâncias favoráveis, pode se desenvolver ou não ao longo da vida da pessoa infectada. No caso de Edvar, ela se manifestou nos últimos meses, em sua forma mais grave: o parasita se localizou no próprio sistema nervoso central. Nascido em 27 de novembro de 1964, Edvar ia completar 43 anos.



Filiado ao PCdoB desde o início da década de 1980, ele começou a colaborar com a Revista Princípios em 1992, tornando-se depois seu secretário de Redação, cargo que exerceu até sua grave enfermidade. Teve também atividade intensa na Escola Nacional do Partido, destacando-se no ensino de filosofia e de socialismo.



Desde o começo do mês estava internado num hospital em Chapecó (SC), cidade onde reside seu pai, que é viuvo, e parte de seus irmãos e sobrinhos, entre eles alguns destacados militantes comunistas na cidade, e em outros municípios da região (inclusive em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul). Comunista dedicado, que acolhia suas tarefas com determinação e muita vontade, sua ausência será uma lacuna difícil de preencher.


 


BIOGRAFIA


 



Edvar (de pé) ministra curso da Escola Nacional de Formação do PCdoB



No texto abaixo, o secretário nacional de Formação do PCdoB, Adalberto Monteiro, faz um breve relato da biografia e das importantes contribuições que o camarada Edvar Bonotto deu ao Partido Comunista do Brasil e à luta pelo socialismo.


 


 


Edvar Bonotto: breve e intensa vida em prol do socialismo

 
                                                                          Adalberto Monteiro

                                                                         
Edvar Bonotto,  na Universidade, obteve o título de doutor em Direito, fruto do seu fecundo labor intelectual. No PCdoB, seu partido, ganhou o carinho e o respeito, sendo um destacado quadro da equipe de trabalho do Comitê Central. Culto e simples, trabalhava  muito e era refratário à ribalta. Na redação da revista Princípios, pouco se ouvia sua voz, mas era constante o rumor de seu cérebro trabalhando e a batida de seus dedos no teclado. Na revista, na Escola do Partido, no Instituto Maurício Grabois, dedicou-se intensamente para criar e fazer circular informações, idéias, conhecimento, teoria, ciência para alimentar o movimento transformador.


 


Filho de Mário Bonotto e Edith Anita Peruchi, descendentes de imigrantes italianos, Edvar Luiz Bonotto era o caçula de 9 irmãos. Nasceu em 27 de novembro de 1964, no município gaúcho de Serafina Corrreia,, mas sua infância e parte da juventude se passaram em Chapecó, principal município do oeste de Santa Catarina. A saga de sua família camponesa foi de muito trabalho e grandes dificuldades, mas ao final vitoriosa. Desde cedo, ele destacou-se nos estudos, sendo por várias vezes o primeiro da turma. Aos dezesseis, dezessete anos, já lecionava em escolas da região.


 


Em 1982, instala-se em Florianópolis para iniciar sua formação universitária. Na Federal de Santa Catarina, estuda Física, todavia sem concluir o curso. Nesse período, com cerca de vinte anos se torna um ativista do movimento estudantil e se filia ao Partido Comunista do Brasil, PCdoB. Sua origem humilde, seu próprio testemunho da fibra e do sofrimento dos pobres do campo, seu encanto pela ciência, o levaram a abraçar a bandeira do socialismo.


 


Em 1983, volta para Chapecó, trazendo na bagagem livros marxistas e documentos e jornais do Partido. Tinha uma missão a cumprir: fundar o Partido na região. A tarefa foi realizada com êxito e entusiasmo. Junto com seus companheiros e companheiras, fortalece o movimento estudantil universitário e secundarista da cidade. É eleito presidente do Diretório Central dos Estudantes, da Fundest, hoje, Universidade de Chapecó, matriculado no curso de Pedagogia.  Um barracão nos fundos da casa dos pais é transformado na sede oficiosa do Partido. A família Bonotto, a começar do seu pai e de sua mãe, lhe dá apoio e cobertura. Jovens lá se reuniam para estudar, debater teoria e traçar os planos de ação política. Aqui, já aparece a marca da militância de Edvar:  estudo e ação, ciência e revolução.


 


Em Chapecó, a tarefa é cumprida. A terra recebeu bem a semeadura e o Partido cresceu com solidez. (Atualmente, o PCdoB é forte no município, tem presença em vários setores da sociedade e no movimento social e tem dois vereadores na Câmara Municipal.)


 


Dever cumprido,  em 1987 ele  muda-se para a capital do Maranhão, São Luiz. Lá, gradua-se em Direito pela Universidade Federal. Tem intensa participação no movimento estudantil e ajuda a fortalecer o Partido. Nesse período, faz o Curso Panorâmico, de 30 dias, da Escola Nacional de Formação do PCdoB, em Brasília.


 


Nesse tempo, ele  participa e ajuda a criar movimentos e entidades que viriam a se constituir no embrião da atuação do Partido junto à jovem intelectualidade e, em particular, aos pós-graduandos: Centro de Estudos Honestino Guimarães; movimentos de Jovens Cientistas na SBPC, e Associação Nacional de Pós-Graduandos, esta última em conjunto com o também saudoso José Augusto Mochel.


 


Em 1993, ele transfere-se para a cidade de São Paulo com objetivo dar seqüência aos seus planos de formação intelectual e acadêmica. Vincula-se de pronto à estrutura do Partido, atuando no distrital do Centro. Em 1996, conclui o mestrado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, com a dissertação:  Lógica e dialética- Ensaio Exploratório em ideologia Jurídica.


 


Em 1997, passa a integrar a Comissão Editorial da revista Princípios e assume a secretaria de redação dessa publicação teórica e política fundada e dirigida à época por João Amazonas e editada por Olival Freire.  Atua, também, na Comissão Editorial do jornal A Classe Operária. Participa como organizador na publicação de vários livros, entre eles, Os desafios do Socialismo no Século XXI, de João Amazonas. Integrou, ainda, a comissão de redação da história do PCdoB. Em 1998, inicia o doutorado em Direito, também pela PUC-SP. Em 2003 obtém o título de doutor em Direito com a tese: A possibilidade de desenvolvimento do Estado nacional e os direitos fundamentais.


 


Desde 2002, Edvar era membro da Comissão de Formação e Propaganda do Comitê Central do PCdoB, nos anos anteriores fez parte da Comissão de Comunicação. Atualmente, ele exercia a seguintes funções: diretor Administrativo e Financeiro do Instituto Maurício Grabois; membro da Comissão Editorial e secretário de redação da revista Princípios e professor da Escola Nacional de Formação do PCdoB.  


 


Sua vida curta impediu o seu florescimento por inteiro, todavia foi uma existência breve e intensa, com importantes contribuições à luta do povo brasileiro, à causa nacional e, sobretudo, ao PCdoB e ao socialismo, bandeiras abraçadas na juventude e às quais dedicou seu talento, sua inteligência, sua competência, sua vida.  


 


Adalberto Monteiro
Presidente do Instituto Maurício Grabois e membro do
Secretariado do Partido Comunista do Brasil-PCdoB