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Fechamento da BRA prejudica 3 mil trabalhadores em São Paulo

Segundo o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aéreos, Uebio José da Silva, cerca de três mil devem ser atingidos indiretamente pelas demissões na BRA com a interrupção das operações da empresa, anunciada nesta terça (6). Já o

“Vamos procurar a direção da empresa e se não houver acordo para o pagamento dos funcionários entraremos com ação na Justiça”, disse Reginaldo Alves de Souza, presidente do Sindicato.
 


Para o presidente da federação, apesar de a associação saber da má situação financeira da BRA, a informação da suspensão pegou a categoria de surpresa.


 


“É um capítulo a mais nessa crise aérea. Precisa ver se não é um golpe para forçar o governo a ceder uma linha de crédito”, afirmou Uebio José da Silva. 


 


Uebio também esclareceu que os sindicatos da área vão acompanhar de perto a situação da empresa. Entretanto, ele teme que os trabalhadores da companhia tenham o mesmo “fim” que os da Transbrasil, Varig e outras.


 


“Eu sou um exemplo, 20 anos de Varig e não recebi nada até hoje”, desabafou Uebio.


 


Uma funcionária da BRA, que preferiu não se identificar, disse que os funcionários da empresa acreditam que a situação será revertida. Eles receberam na tarde desta terça-feira uma carta de aviso prévio para os próximos 30 dias.


 


“A gente está passando por um momento difícil, mas nada é definitivo. Hoje [terça] foi uma choradeira total, o pessoal está abalado”, informou.


 


Situação precária


 


Segundo outro funcionário da empresa ouvido pelo G1, o departamento pessoal informou que o salário dos funcionários será depositado nesta quarta-feira (6), quinto dia útil do mês. Ainda não há informações sobre como será paga a rescisão de contrato dos colaboradores da empresa, segundo a assessoria de imprensa.


 


Já outro trabalhador contou que, quando recebeu o telefonema nesta terça dizendo que ele seria demitido, foi informado também de que não havia garantias de que receberia o salário deste mês, previsto para cair na sua conta na próxima quinta-feira (8).


 


Segundo ele, os trabalhadores começaram a sentir o peso da crise financeira da companhia nas últimas duas semanas, quando começou a faltar dinheiro para pagar o serviço de bordo de passageiros e até de tripulantes em alguns vôos.


 


Em um vôo recente, ele conta que a tripulação teve que descer do avião para comprar um lanche e levar para a aeronave, antes dos passageiros embarcarem.


 


Além disso, ele foi informado de que os trabalhadores deveriam comparecer às 10h desta quarta (7) à sede da BRA em São Paulo para assinar o aviso prévio e receber informações sobre os próximos passos a serem tomados pela companhia.


 


Além dos trabalhadores, a BRA ainda deve se preocupar com os passageiros que haviam comprado bilhetes da empresa. Segundo o Procon, as pessoas que compraram passagens têm o direito de embarcar em outro vôo ou de receber o dinheiro de volta. Apesar dessa garantia, o Procon recomenda que os passageiros guardem todos os comprovantes caso precisem entrar na Justiça contra a companhia aérea.


 


Passageiros


 


A central de atendimento da BRA informou que a empresa está fazendo o reembolso integral das passagens, independe da data de compra. O passageiro deve procurar qualquer loja da companhia com um documento original com foto e o bilhete. As condições de ressarcimento variam conforme a forma da compra e o prazo de pagamento. A devolução do valor pago é de 30 dias.


 


Nesta quarta-feira (7), TAM, Gol, Varig, Ocean Air e WebJet anunciaram que aceitarão acomodar passageiros que ficarem sem vôo. Mesmo assim, o diretor do Procon de Guarulhos (SP), Leonardo Freire Pereira, recomenda cautela aos passageiros.


 


“As empresas estão aceitando, mas não há garantias sobre até quando. A BRA não faz parte da Iata (International Air Transport Association), que tem uma câmara de compensação de passagens. Uma companhia embarca passageiros de outras companhias por conta desse acordo, quando isso não existe, a empresa embarca quando quer”, disse Pereira.


 


“Quem tem passagem de ida da BRA está embarcando sem problemas. Mas quem já tem a passagem de volta ou passagens com datas mais distantes, melhor pensar muito antes de embarcar. E se viajar, é bom levar dinheiro para eventualmente comprar uma nova passagem aérea ou de ônibus porque não há garantias de que conseguirá voltar, principalmente na data prevista. Ainda teremos de aguardar como será feira a validação dessas passagens pela Agência Nacional da Aviação (Anac)”, afirmou Pereira.
 


A companhia colocou e-mail atendimento@braereo.com.br e o telefone (11) 3583-0122 à disposição dos clientes.


 


Problemas técnicos


 


O presidente da BRA, Humberto Folegatti, enviou um ofício à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) no último dia 18 em que reconhecia que a empresa enfrentava problemas operacionais motivados principalmente por serviços de manutenção não-programados. Segundo a BRA, houve também atraso no recebimento de duas novas aeronaves adquiridas recentemente.


 


Em nota oficial, a BRA informou que solicitou à Anac uma autorização para adequar a malha apresentada em 1º de outubro de forma a passar a operar com seis aeronaves, sendo uma para reserva técnica.


 


Segundo a assessoria de imprensa da BRA, não há exigência da Anac em relação ao número de aeronaves que uma companhia precisa ter para operar. A frota da empresa é de 10 aeronaves, porém apenas seis estão em operação.


 


Trâmite legal


 


A asssessoria de imprensa da Anac informou que até as 16h50 desta terça-feira  ainda não havia recebido o documento da BRA que solicita à agência a suspensão temporária de seus vôos domésticos e internacionais.


 


A empresa também confirmou que a anulação dos vôos se dá por problemas financeiros. A assessoria da companhia afirmou que os investidores da companhia estão “buscando novos aportes financeiros junto aos seus acionistas”.


 


Veja a nota oficial da BRA na íntegra:


 


“A BRA Transportes Aéreos S/A informa que solicitou à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) a suspensão temporária de todos os seus vôos (domésticos e internacionais) a partir de quarta-feira (dia 7).


 


A BRA orienta os passageiros a não se dirigirem aos aeroportos ou às lojas antes de entrar em contato com 11-3583-0122 para obter detalhes sobre a reacomodação em outras companhias aéreas ou sobre o reembolso da passagem.”


 


Histórico


 


A empresa solicitou nesta terça à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a suspensão de todos os seus vôos e demitiu seus 1,1 mil funcionários, que cumprirão aviso prévio de 30 dias.


 


Segundo funcionários da empresa ouvidos pelo G1, a BRA vinha funcionando de maneira precária.


 


A empresa, fundada em 1999 pelos irmãos Humberto e Walter Folegatti, ganhou novos sócios no fim do ano passado – a Brazil Air Partners, da qual fazia parte a Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga – e começou a operar vôos internacionais. O grupo de investidores teria perdido R$ 180 milhões no negócio.


 


Nos últimos meses, porém, a operação da companhia foi marcada por vários problemas técnicos nas aeronaves e muita espera por parte dos passageiros, o que chegou a acarretar o fim de uma parceria com a Ocean Air, no mês passado, e a renúncia do presidente da companhia, no início deste mês.