Reunião no Paraná define rumos da Central dos Trabalhadores do Brasil
A comissão nacional organizadora do Movimento Pró-Central Classista e Democrática reuniu-se nesta quinta-feira, dia 8 de novembro, em Curitiba, com o objetivo de debater questões polêmicas no meio sindical e construir o máximo de consenso acerca do congre
Publicado 08/11/2007 22:51 | Editado 04/03/2020 16:54
A mesa-redonda realizada na capital paranaense foi coordenada pelo presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Wagner Gomes.
Segundo os membros da comissão, para construir um congresso de consenso é preciso muita paciência, haja vista a heterogeneidade e pluralidade do movimento sindical brasileiro. Dentre os temas discutidos pelas lideranças sindicais estão o estatuto da nova central, os critérios de financiamento e a estipulação de mensalidades que serão pagas pelas entidades que se filiarão à nova Central. Aspectos da organização estrutural da CTB, como formação de departamento e secretariado por setor, coordenações estaduais e seu caráter também foram avaliados. Além disso, os sindicalistas reunidos em Curitiba fecham questão a respeito do nome e da marca da Central, bem como prepararam o edital de convocação e o regimento do congresso, que acontecerá no mês que vem na capital mineira.
Ainda de acordo com os líderes do Movimento Pró-Central Classista e Democrática, membros de federações e sindicatos começaram a debater a construção da direção da nova Central. O critério de escolha, segundo eles, deverá obedecer a pluralidade e a representatividade dentro do movimento sindical, que contemplem os trabalhadores do campo e da cidade. “Não caberá hegemonia, pois o esforço feito até qui é muito rico, unitário e democrático'', afirmam.
Dirigentes da futura CTB não realizaram discussões sobre a fusão com a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) porque “ainda não existe uma central”. Eles optaram em fazer primeiro o congresso em dezembro. “Ou a gente procura outro caminho para essa unidade ou ela fica para janeiro ou depois. Podemos realizar uma plenária ou encontro para discutir isso”, disse João Batista Lemos, da coordenação nacional.
João Batista Lemos adiantou que a CTB vai pleitear também uma nova Conclat (Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras) não só com a CGTB, mas com o conjunto das centrais. “Seria uma conferencia com as classes trabalhadoras em torno de uma plataforma comum”, opinou.
Participaram da reunião da comissão nacional organizadora, em Curitiba, diversas federações de trabalhadores rurais e industriais, marítimos, comerciários, além de representantes da Corrente Sindical Classista e do Sindicalismo Socialista Brasileiro (SSB).
A seguir, leia a opinião de alguns dirigentes, componentes do Movimento Pró-Central Classista Democrática, que participaram da reunião desta quinta-feira, em Curitiba:
Vilson Luiz da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de Minas Gerais (FETAEMG)
“Foi uma reunião preparatória para fundar a CTB. Nós, rurais, estamos bastante articulados e tivemos uma plenária da Contag, em Brasília, com 715 delegados onde discutimos a necessidade de construirmos uma nova central representativa, classista e plural. Embora a entidade seja filiada à CUT, foi feito um acordo segundo o qual acabaria o departamento rural e isso não aconteceu. Pelo contrário, a CUT está fragmentando a área rural e criando outra federação paralela. Quando alguém não se sente representado dentro de uma estrutura, tem que procurar outra. A hora é agora. A discussão está boa e de alto nível. A CTB será a segunda maior central do país. Nós, rurais, queremos contribuir com a Central e as propostas que irão consolidá-la como entidade representativa e combativa. Não uma organização chapa-branca que esteja dentro de determinado governo”.
Luiz Ari Gin, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Estado do Paraná (FETIEP).
“A nossa entidade representa cerca de 280 mil trabalhadores na base, de diversas categorias profissionais. Nunca antes tinha me sentido representado de fato pelas centrais que a federação participou. Por isso surgiu a idéia de criarmos uma central sindical que represente o trabalhador a partir do chão da fábrica até a cúpula dirigente. Os trabalhadores precisam ser ouvidos em todas as instâncias. Não podem ser representados sem serem ouvidos. Também porque estamos passando por um momento de reacomodação das idéias e das políticas nacionais. Vivemos num país democrático, portanto, há espaços para todos os pensamentos e correntes ideológicas. Estamos conquistando esse espaço porque muita gente também pensa assim como nós. Queremos valorizar mais o trabalho e exigir mais respeito aos trabalhadores e às mulheres trabalhadoras. Queremos mais independência em relação aos governos, mas sem sectarismo. Se necessário também defenderemos uma posição do governo, desde que atenda aos interesses dos trabalhadores que representamos”.
Idemar Martini, presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria de Santa Catarina.
“Somos experientes e estamos insatisfeitos com os modelos de centrais que existem no país. Muitos que não participavam de uma central não o faziam porque havia um projeto sindical dissociado e com pilares distintos daqueles defendidos pelos trabalhadores. Acho fundamental que estejam no projeto da CTB questões como honestidade, transparência e lealdade. Ou seja, um projeto de uma nova Central superior ao que existe aí, que contemple as entidades sindicais e dê um norte político unitário às lutas e que possibilite um maior equilíbrio entre capital e trabalho. Isso possibilitará a diminuição das desigualdades sociais. Não nos preocupam quem vai dirigir a CTB, mas sim o quê será dirigido. Ou seja, o importante mesmo é a postura. A CTB nascerá para ser diferente e superior, democrática e pluralista”.
Serevino Almeida Filho, Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante.
“O caso da CTB para nós não é mais uma questão de perspectiva, já é uma realidade. É uma questão de tempo, muito curto, para que ela venha existir de fato. Tenho absoluta certeza que ela será um diferencial muito grande na forma de organização sindical no Brasil. Principalmente por duas características que sinto serem muito fortes: primeiro pela clara visão classista, aspecto extremamente importe; segundo, por ser realmente democrática, pois há um claro comprometimento de todos com a ampla democracia interna”.
Vicente Paulo Selistre, presidente do Sindicato dos Sapateiros de Campo Bom (RS) e membro da direção nacional do SSB (Sindicalismo Socialista Brasileiro).
“A CTB vem no momento em que a luta da classe trabalhadora em nosso país tem uma preocupação muito grande. Tudo que tange a estrutura sindical, o direito dos trabalhadores, no direito ao trabalho, a CLT, bem como a manutenção dos sindicatos e seu fortalecimento. Na questão das centrais ela vai inaugurar um ciclo novo. Um ciclo onde vai trazer no sindicalismo uma luta de classes, uma luta autônoma, independente de partido e de governo. Mais independente ainda do capital, mas que retomará teses importantes que irão resgatar as lutas históricas dos trabalhadores no país. Hoje, sentimos certa letargia. Um ciclo que se encerra, que se esgota, que está engessado na defesa da classe trabalhadora. Desde os trabalhadores do campo, das cidades, o aposentado, o desempregado, as mulheres e os jovens. A CTB traz de volta esse ânimo e aponta para um sindicalismo de classe, democrático, com democracia interna nas entidades sindicais, onde tenhamos uma representação maior no local de trabalho. Precisamos de um sindicalismo de base e não estarmos do lado de fora da fábrica e na sede do sindicato. Pois nem a Constituição, nem a CLT, as convenções coletivas resolveram a questão da delegação sindical, haja vista que as situações de crise e as negativas dos tribunais persistem. Por isso acho que a CTB vai defender unicidade na base, democracia no sindicato, um projeto nacional e defender representação sindical no local de trabalho. Trazendo esse resgate da luta estaremos inaugurando um ciclo novo na luta dos trabalhadores do país. A CTB Aponta para um projeto nacional contra a globalização e o neoliberalismo que são implacáveis e cruéis, que tiram conquistas dos trabalhadores todos os dias. A reforma trabalhista não acontece, mas ela está chegando quebrada. Implantação de banco de horas, ameaça do fim do FGTS, parcelamento de férias, trabalhos escravo e infantil, a carteira de trabalho sendo aviltada, entre outras mazelas. Os bancos e financistas estão tendo lucros bilionários enquanto os trabalhadores estão empobrecendo. Por isso defendo a convocação de uma Conclat, que unifique as bandeiras do sindicalismo e estabeleça regras éticas para combater a falta de democracia nas entidades e o banditismo existente nos sindicalismo pelego”.
Abgail Pereira, representante do setor de comércio e serviços do Rio Grande do Sul.
“A CTB veio para fazer a diferença no movimento sindical do país explicitada nos nossos princípios e condutas e no processo de construção do caráter classista e democrático. A perspectiva é que construamos um congresso com êxito, pois temos informações de vários estados nesse sentido. Todos os lançamentos realizados estão tendo uma ótima receptividade por parte dos sindicatos, principalmente daquelas entidades que não tem relação com nenhuma central. Elas estão enxergando uma oportunidade de se expressarem e de jogarem um papel importante na luta dos trabalhadores e do povo. Portanto, acho importante trabalharmos a construção de uma pauta de luta comum por meio do Conclat. Queremos desenvolvimento do país com valorização do trabalho, especialmente dos trabalhadores e das trabalhadoras”.
David Wylkerson, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
“A nossa reunião foi bastante positiva porque envolveu os companheiros na construção de uma proposta concreta de Central. Nós estamos com uma expectativa muito boa em virtude de cada vez mais estarmos ampliando a participação de setores e de forças políticas nesse projeto. Estamos, portanto, consolidando-o bem, estruturando e unificando os trabalhadores. A reunião também trouxe no seu bojo a unidade da classe trabalhadora do país, tanto por nossa parte quanto daqueles que estavam fora do debate”.
Nivaldo Santana, urbanitário, foi presidente do Sindicato de Trabalhadores de Água e Esgoto de São Paulo e atualmente é diretor da Federação dos Urbanitários de São Paulo.
“A reunião desta quinta-feira praticamente consolidou as principais diretrizes para a construção da Central dos Trabalhadores do Brasil. Nós definimos os estatutos, os documentos básicos, a organização do congresso, e estamos consolidamos uma visão de uma central pluralista com forte presença do sindicalismo rural, dos trabalhadores nas indústrias, dos marítimos, dos comerciários, e de diferentes categorias. Será uma central que defenderá a bandeira da unicidade do sindicalismo brasileiro. A unidade em torno de políticas de geração de emprego, redução da jornada de trabalho, valorização do salário mínimo, e, que defenderá outros direitos dos trabalhadores. Estamos praticamente a um mês do congresso e nós estamos saindo daqui com convicção de que a nossa Central nascerá forte e com clareza de objetivos”.
De Curitiba,
Esmael Morais.