Antonio Capistrano: A Guerra Fria e o socialismo

Lendo o trabalho de Domenico Lousardo, “Fuga da História?”, Editora Revan, consolidei a minha visão do processo de esfacelamento da União Soviética e do bloco comunista do leste europeu. É exatamente a interpretação que sempre fiz das causas que levaram a

 A Guerra Fria cumpriu o seu papel, a corrida armamentista tinha o objetivo impedir investimentos por parte da URSS em setores vitais para o bem-estar da população e da modernização da indústria, o que de certa forma tinha ocorrido nos primeiros vinte anos da Revolução. Com a Guerra Fria o governo soviético teve que priorizar a sua defesa, investimentos na área militar, tudo isso com o objetivo de aumentar o seu poder militar e rivalizar o poderio bélico com as potências capitalistas.



 O fim da URSS levou ao êxtase à direita e os grupos anticomunistas espalhados por todo o mundo. Até setores da esquerda se penitenciavam pelos “crimes” praticados pelos comunistas, uma propaganda intensamente entabulada pela CIA.



 Stalinismo passou a ser sinônimo de atraso ideológico, de ditadura sanguinária, intransigência política, falta de liberdade.  Kruschov, o revisionista, contribuiu com a demonização de Stalin, isto teve uma repercussão negativa entre os comunistas de todo o mundo, uns de boa fé, outros, puro oportunismo. A direita aproveitou essas acusações para justificar as suas atrocidades. Com o controle da mídia internacional foi fácil demonizar o comunismo, criando uma cortina de ferro em torno da União Soviética, mas a tranca dessa cortina estava pelo lado de fora.


 
 A Rússia saindo de uma guerra violenta, vitoriosa, mais violenta, sofrendo um verdadeiro genocídio, 30 milhões de mortos, cidades arrasadas, como Stalingrado, símbolo da resistência contra o nazismo, à hora era de reconstrução, mas a vitória do Exército Vermelho despertou o medo e a preocupação com o sistema que ainda em fase embrionária (outubro de 1917), já demonstrava a sua força ao tirar a Rússia de uma situação semifeudal e a colocava em pé de igualdade com as potências capitalistas que comandavam o mundo há 500 anos. Esse foi o motivo principal de uma guerra sórdida, mentirosa e de desestabilização contra a União Soviética e os países socialistas. Stálin passou a ser o alvo preferencial da propaganda anticomunista, era ele o ícone do comunismo em todo o mundo.



 O capitalismo é sedutor, é igual ao malandro ou ao traficante de drogas quando quer escravizar e explorar os menos avisados, cega, oferecendo o céu e a terra, as delicia do consumismo, as “facilidades” do enriquecimento rápido e ilícito, que os diga a grande maioria dos exilados cubanos em Miami – EUA, ou ainda a grande massa de trabalhadores nos países do terceiro mundo.



 A Rússia, hoje, é um antro de corrupção, das drogas, das gangues, da prostituição. Há uma deteriorização dos serviços que a revolução de 1917 tinha construído. Educação de qualidade, sem descriminação para todos trabalhadores. Um sistema de saúde pública e gratuito de alto nível. Prática esportiva e artística ao alcance de toda a população. Avanço nas ciências e na tecnologia colocando o povo soviético na dianteira da corrida espacial, em tecnologia de ponta em diversas áreas, isto resultado do grande investimento no homem e na mulher, objetivo final do socialismo.



 E os ex-países socialistas do leste europeu? Com algumas e raras exceções estão vivendo conflitos étnicos violentos, guerras sangrentas como a do Kosovo e da Bósnia, genocídios praticados contra populações indefesas como na Chechênia.



 Domenico Losurdo afirma, “Em rigor, e até mesmo em seu radicalismo, a autocrítica exprime à consciência da necessidade de acertar as contas com a própria história; a autofobia é a fuga vil desta história e da realidade da luta ideológica e cultural que sob ela ainda arde. Se a autocrítica é o pressuposto da reconstrução da identidade comunista, a autofobia é sinônimo de capitulação e de renúncia a uma identidade autônoma”. Renegar, pura e simplesmente, Stalin e a revolução de 1917, criticar Fidel e o sistema cubano sem nenhum fundamento, baseado apenas no noticiário da grande mídia é fazer o jogo da direita, é avalizar os seus crimes as suas atrocidades, é desconhecer a verdadeira história das lutas da classe trabalhadora.


 


Antonio Capistrano é Dirigente Estadual do PCdoB.